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Microsoft Word - Tributa\\347\\343o no Brasil eo IU.doc - Marcos Cintra

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Temo que estejamos diante de um problema muito mais grave e trágico, que tem<br />

pouco a ver com o sistema tributário. Tem muito mais com a própria estrutura da sociedade<br />

brasileira e com os valores éticos e morais aí predominantes e que resultam <strong>no</strong>s<br />

comportamentos econômicos de muitos indivíduos.<br />

O <strong>Brasil</strong> é reconhecidamente um dos países de pior distribuição de renda <strong>no</strong> mundo<br />

inteiro, apesar de sua parafernália tributária t<strong>eo</strong>ricamente progressiva. Todos os principais<br />

impostos têm essa,característica de "quem pode mais, paga mais", a tão desejada<br />

progressividade. E assim com o Imposto de Renda, o ICMS, o IPI, o IPTU etc.<br />

Os estudiosos de eco<strong>no</strong>mia e política infelizmente dedicam pouca atenção à análise e<br />

interpretação das crises brasileiras pelo estudo do que se convencio<strong>no</strong>u chamar "conflito<br />

distributivo". Este vem da forma como os indivíduos se comportam para obter e depois<br />

manter e fazer crescer a própria renda e, portanto, a sua participação <strong>no</strong> "bolo" econômico.<br />

O aprofundamento desta linha de análise possivelmente levaria à conclusão de que o<br />

mais grave problema da <strong>no</strong>ssa sociedade é a existência, em um extremo, de uma imensa<br />

quantidade de pessoas cujo comportamento na procura de renda é passivo, conformado e<br />

pouco ambicioso. No outro extremo, há grupos ativos, ambiciosos, politicamente fortes e,<br />

daí, ricos.<br />

No meio, uma classe média trabalhadora, produtiva e que paga todas as contas.<br />

Acrescenta-se a esse quadro que significativa parcela dos que compõem o grupo dos ricos é<br />

pouco solidária socialmente. Pratica padrões éticos, morais e culturais frouxos ou tendentes<br />

a acentuar o caráter egoísta de sua atuação econômica.<br />

É a cultura do "levar vantagem", do "jeitinho", da sonegação, da corrupção, do<br />

fisiologismo, do corporativismo, do parasitismo e do etc...<br />

Há muitos indicadores de que as bem-intencionadas tentativas de tributação<br />

progressiva apenas provocam, na prática, um efeito perverso contrário. O primeiro deles é a<br />

evidência da própria forte concentração de renda. A tributação verdadeira, <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, é<br />

profundamente regressiva, e pior, de forma indireta. Vejamos como.<br />

Os indivíduos de renda mais alta raciocinam em termos de renda líquida. São vários<br />

os grupos, como profissionais liberais, políticos, quadros das empresas públicas e privadas,<br />

altos funcionários públicos dos três poderes, capitalistas, empresários, rentistas etc. e até<br />

mesmo contraventores. Detêm poder econômico e político para manter e fazer crescer essa<br />

renda. Qualquer aumento de tributos ou elevação de preços é simplesmente repassado para<br />

frente.<br />

Evidências desse comportamento ocorrem com freqüência. Foi assim quando a<br />

Constituição mandou tributar os rendimentos de deputados e juízes. Simplesmente as<br />

remunerações foram aumentadas <strong>no</strong> montante para compensar o imposto. Em qualquer<br />

consultório ou escritório de profissional liberal é comum a pergunta "Com recibo ou sem<br />

recibo?". Se o recibo é exigido, acresce-se ao valor cobrado o imposto devido. Quando o<br />

IPTU tenta alcançar a renda do proprietário de uma bela casa ou apartamento, o cidadão vai<br />

buscar o necessário para pagar o imposto <strong>no</strong> aumento de sua renda corrente, nunca se<br />

desfazendo de seu patrimônio ou de parte dele. E assim por diante.<br />

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