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Microsoft Word - Tributa\\347\\343o no Brasil eo IU.doc - Marcos Cintra

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Nossos vizinhos lati<strong>no</strong>-america<strong>no</strong>s evoluíram. Praticamente todos aderiram ao<br />

método do valor agregado. A Argentina, além de concentrar esforços na consolidação do<br />

IVA, extinguiu o imposto sobre cheques. Na contramão, o <strong>Brasil</strong> mergulhou numa<br />

tremenda confusão tributária, o que tem dado lugar ao surgi- mento de propostas salvadoras<br />

como a do Imposto Único sobre Transações Financeiras (<strong>IU</strong>TF). Há outras, como a dos<br />

impostos insonegáveis, que procuram fugir da fragilidade conceitual do <strong>IU</strong>TF e da<br />

falsidade de suas premissas. Qualquer uma delas ampliaria a incidência em cascata.<br />

Atentaria contra a federação e a necessidade de descentralização tributária. Apesar disso,<br />

tais propostas encantam os empresários. Muitos chegam a financiar o seu proselitismo. No<br />

caso do <strong>IU</strong>TF, organizam carreatas e outras demonstrações públicas para convencer o<br />

Congresso da necessidade de sua aprovação.<br />

Na realidade, as idéias em discussão <strong>no</strong> Congresso fazem muito sentido para as<br />

empresas. A arrecadação acontecerá em uma única ou em poucas fontes. Para a maioria<br />

esmagadora das empresas desaparece a chateação do pagamento de impostos. Não haverá<br />

mais papelada nem despesas com administração tributária. Não será mais preciso ir à<br />

Justiça nem corromper fiscais. As vantagens de nível micro são tantas que os aspectos<br />

macroeconômicos relevantes são inteiramente ig<strong>no</strong>rados. Desanimados com a inflação, a<br />

recessão e a corrupção, os empresários não conseguem refletir serenamente sobre as<br />

conseqüências dessas propostas. Não ligam para o fato de que elas piorariam a alocação de<br />

recursos e impediriam a desoneração de tributos indiretos nas exportações. A indústria<br />

brasileira perderia para os produtos importados, que chegam sem tributos na origem e não<br />

seriam aqui tributados (o Imposto de Importação é impróprio para compensar ineficiências<br />

oriundas da tributação). O Mercosul seria inviabilizado pela impossibilidade de<br />

harmonização tributária, a me<strong>no</strong>s que os <strong>no</strong>ssos parceiros também entrassem em desespero<br />

e aderissem a essas propostas (o que parece não ser o caso, já que o Paraguai está adotando<br />

o IVA e a Argentina livrou-se do imposto sobre transações financeiras).<br />

As <strong>no</strong>vas propostas conseguem ganhar crescente adesão. Seus autores e simpatizantes<br />

estão honestamente convencidos do caminho que defendem. Afirmam que as chances de<br />

sua aprovação <strong>no</strong> Congresso são muito grandes. Mesmo os que aceitam a existência de<br />

riscos se declaram convictos de que a corrupção e o subdesenvolvimento cultural impedem<br />

a existência entre nós de um sistema tributário moder<strong>no</strong>. Complexo, esse sistema não<br />

fincaria raízes <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. Degeneraria. Assim, é melhor assegurar a arrecadação e livrar as<br />

empresas dos inconvenientes do hospício tributário em que vivemos. Segundo esse<br />

raciocínio, a simplicidade (ou simplismo?) é preferível, ainda que em prejuízo da<br />

racionalidade.<br />

Tudo isso é inaceitável se pensarmos que a ainda frágil democracia brasileira pode<br />

inviabilizar-se se não <strong>no</strong>s reencontrarmos com a estabilidade e o cresci- mento. A<br />

estabilidade ficará mais difícil com um sistema tributário ineficiente. Não haverá<br />

desenvolvimento sem uma integração adequada com a eco<strong>no</strong>mia mundial, a qual é inviável<br />

com as propostas tributárias em andamento <strong>no</strong> Congresso. Deve- mos lutar pela eliminação<br />

do que existe de impostos em cascata e não para generalizá-los. Um dos líderes da<br />

vanguarda tributária em época recente, o <strong>Brasil</strong> não pode agora ser o pioneiro do retrocesso,<br />

utilizando vãs justificativas da era eletrônica. Ao apoiar as propostas salvadoras, os<br />

empresários podem estar optando pelo subdesenvolvimento movidos pela atraente mas<br />

enga<strong>no</strong>sa solução para suas aflições cotidianas. Querem um caminho que os livre do<br />

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