Microsoft Word - Tributa\\347\\343o no Brasil eo IU.doc - Marcos Cintra
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Paradoxo dos paradoxos, a fúria do Fisco não impediu que o Estado brasileiro<br />
chegasse aos a<strong>no</strong>s 90 na penúria. Embora tenha uma das cargas tributárias mais elevadas do<br />
mundo, o Estado debate-se numa crise fiscal. Um estudo feito em 1985 pela Organização<br />
para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, OCDE, mostra que a arrecadação fiscal<br />
entre os 23 países integrantes da entidade representa, em média, 37% do PIB. No <strong>Brasil</strong>,<br />
naquele mesmo a<strong>no</strong>, a receita fiscal equivalia a 22% do PIB. Em 1990, conforme estimativa<br />
feita pelo Ipea, órgão ligado ao gover<strong>no</strong>, a carga tributária bruta ficou em 23,6% do PIB,<br />
apesar de todo o esforço feito para aumentar a arrecadação. Existem algumas pistas para a<br />
com- preensão de tais números. Fiel ao singular modelo de capitalismo sem riscos que<br />
tantos adeptos e tantas fortunas fez <strong>no</strong> país, o Estado ergueu um gigantesco edifício de<br />
incentivos, isenções e outras palavras que poupam aos alcançados por elas as pancadas do<br />
Fisco. O problema é que todo o resto sofre um castigo impiedoso.<br />
Tem-se aí um caso clássico de esquizofrenia. O Fisco brasileiro é ora manso, ora<br />
feroz, ora generoso como mãe, ora severo como madrasta. Outros detalhes da doença<br />
surgem quando se compara a situação brasileira com a de países desenvolvidos ou nem<br />
tanto. "Lá fora cobram-se mais impostos sobre a renda, aqui prefere-se concentrar um peso<br />
maior sobre a produção ou a venda de mercadorias", censura Antoninho Marmo Trevisan,<br />
sócio-diretor da Trevisan & Associados, um homem que conhece o cipoal tributário<br />
brasileiro em cada um de seus galhos. "A isso soma-se o fato de que também os<br />
investimentos são taxados <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>." De que o sistema tributário brasileiro é tresloucado,<br />
há exemplos de sobra:<br />
• O <strong>Brasil</strong> é o único país do mundo que cobra impostos sobre produtos exportados.<br />
Nem o gover<strong>no</strong> consegue justificar esse prodígio. É que o consumidor do produto<br />
exportado está fora do país, não podendo, portanto, usufruir os eventuais<br />
benefícios proporcionados pelo pagamento do tributo. "Então, o que ocorre é que<br />
estamos apenas onerando o produto exportado", reconhece o secretário nacional<br />
de Eco<strong>no</strong>mia, Edgard Pereira.<br />
• Apenas 39% dos trabalhadores empregados possuem carteira de trabalho assinada.<br />
Isso quer dizer que, toda vez que se planeja aumentar a arrecadação do imposto de<br />
renda na fonte, é sobre o bolso dessa mi<strong>no</strong>ria que se avança. Assistiu-se ao mesmo<br />
filme mais uma vez agora, após o Pla<strong>no</strong> Collor li, quando o gover<strong>no</strong> deixou de<br />
corrigir a tabela do IR pela inflação de janeiro. Numa penada, a carga sobre o<br />
assalariado aumentou em 10% ou mais, dependendo da faixa de renda. O mesmo<br />
vale para as contribuições à Previdência.<br />
• É portentoso o número de impostos, taxas e contribuições sociais que recai<br />
diretamente sobre o faturamento, a folha de salários e os lucros das empresas.<br />
Somando IPI, ICMS, IR federal e estadual, IOF, Finsocial, PIS, FGTS, INSS,<br />
contribuições sobre o lucro, imposto de importação, predial, e assim por diante,<br />
pois a selva de siglas tributárias tem o porte da Floresta Amazônica, um fabricante<br />
de caixas de marcha para automóveis - conforme um caso concreto recémpesquisado<br />
- chega a recolher 49,5% de seu faturamento em impostos.<br />
• Nos últimos a<strong>no</strong>s, o gover<strong>no</strong> tem aumentado seguidamente o PIS e o Finsocial-<br />
duas contribuições iníquas, porque incidem em cascata sempre que há uma<br />
transação comercial, desde a compra da matéria-prima básica até a venda do<br />
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