Microsoft Word - Tributa\\347\\343o no Brasil eo IU.doc - Marcos Cintra
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sociais, como saúde e assistência pública, dando-lhe um caráter claramente distributivo.<br />
Essa ampliação do papel do Estado foi depois justificado pela descoberta de certas "falhas<br />
do mercado", a partir das quais se considerou que com subsídios e tributações especiais<br />
poderíamos não só ampliar a eficiência do sistema econômico, mas dar-lhe maior equilíbrio<br />
distributivo.<br />
A partir daí a t<strong>eo</strong>ria das finanças públicas não parou de receber contribuições<br />
importantes, até transformar-se num corpo extremamente sofisticado de t<strong>eo</strong>remas, que<br />
estabelece as condições de um sistema tributário ótimo que é mais ou me<strong>no</strong>s o que é usado<br />
universalmente.<br />
Numa exposição como essa não se sabe o que mais admirar. Se a erudição<br />
extraordinária, ou se a capacidade de organizar o pensamento. Tem-se a impressão de que a<br />
t<strong>eo</strong>ria econômica é um corpo de conhecimento progressivo, uma "ciência dura". É claro que<br />
os interlocutores se acovardaram diante de uma linha tão límpida e tão coerente de<br />
raciocínio. Timidamente aceitaram o fato de que é necessário um sistema tributário<br />
clássico.<br />
O que toda essa sofisticação esqueceu é que ela está apoiada em dois postulados<br />
implícitos: 1) que não existe sonegação, isto é, que todo o cidadão é prisioneiro de <strong>no</strong>rmas<br />
sociais rígidas, que lançam o opróbrio sobre o sonegador, e 2) que o recolhimento desses<br />
impostos não tem custo, isto é, eles saem direto do livro-texto para a caixa do tesouro...<br />
Quando se leva em conta a falsidade desses dois postulados, começa-se a duvidar da<br />
qualidade das recomendações sugeri das e a ter mais respeito intelectual pelas propostas de<br />
"impostos não declaratórios" que circulavam entre os ingênuos comerciantes...<br />
O ESTUPRO DO<br />
IMPOSTO ÚNICO<br />
<strong>Marcos</strong> <strong>Cintra</strong><br />
Folha de S. Paulo, 18/10/92<br />
A eco<strong>no</strong>mia brasileira se parece com a história do lorde inglês que decidira treinar seu<br />
cavalo a viver sem comida. Ao térmi<strong>no</strong> de alguns dias, o animal morreu. "Logo agora que<br />
ele estava se acostumando!", comentou o decepcionado criador.<br />
Já se passam quase dez a<strong>no</strong>s de estagnação <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. Estamo-<strong>no</strong>s acostumando a este<br />
calamitoso quadro sócio-econômico. Mas até quando?<br />
O problema básico está na crise fiscal. Enquanto não forem encontrados mecanismos<br />
capazes de gerar recursos suficientes para uma adequada atuação do Estado, a ação pública<br />
continuará sendo custeada pelo imposto inflacionário - de <strong>no</strong>tória perversidade social. Ao<br />
mesmo tempo, perdurará a inaceitável deterioração dos serviços públicos, sem os quais não<br />
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