Microsoft Word - Tributa\\347\\343o no Brasil eo IU.doc - Marcos Cintra
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sobrecarregado contribuinte brasileiro. Ao lado destes, como se tivessem algo em comum,<br />
os que vêem <strong>no</strong> IPMF uma ameaça. Perceberam que a adoção desta <strong>no</strong>va base de cálculo,<br />
relevante decorrência da realidade atual da "moeda eletrônica", abrirá uma larga avenida<br />
em direção ao tão desejado Imposto Único.<br />
Esses últimos, já conhecíamos de longa data, embora não com essa desenvoltura. São<br />
os banqueiros, temerosos de perder o precioso float decorrente do recolhimento de<br />
impostos. Quanto mais complexos os procedimentos de arrecadação, mais fácil justificar<br />
uma permanência prolongada do resultado da receita tributária <strong>no</strong>s bancos. Cinqüenta e oito<br />
tributos, cada um com o seu rito burocrático e sua guia de recolhimento distintos, são o<br />
pretexto ideal para que se retenha o resultado da arrecadação por um período que já chegou,<br />
num passado recente, a quarenta e um dias médios. Hoje, o float tributário não chega a<br />
tanto. Segundo a própria Febraban, vai de 48 a 72 horas. Mesmo assim, o suficiente para<br />
render, a um por cento ao dia, nada me<strong>no</strong>s que um US$ 1,60 bilhão ao a<strong>no</strong>, ou mais do que<br />
o dobro dos lucros líquidos somados de todos os bancos privados brasileiros.<br />
Não <strong>no</strong>s opomos à idéia de remunerar o sistema financeiro por este serviço. Mas por<br />
vias transparentes. O mecanismo atual contribui para distanciar cada vez mais os interesses<br />
nacionais dos interesses do sistema financeiro. Os bancos querem inflação, juros altos,<br />
gover<strong>no</strong> endividado e déficit público elevado. Desagrada igualmente aos banqueiros a idéia<br />
de verem tributadas, ainda que com uma alíquota ínfima em relação às que são pagas pelo<br />
setor ético da eco<strong>no</strong>mia, as quatro milhões de contas-fantasmas ativas.<br />
O infer<strong>no</strong> fiscal é o paraíso dos tributaristas. A assessoria tributária tor<strong>no</strong>u-se um rico<br />
filão que viceja graças à irracionalidade do <strong>no</strong>sso sistema tributário. Este numeroso<br />
contingente engrossa as fileiras histéricas do movimento que é contra o IPMF de 0,25%,<br />
mas é conivente com a colossal regressividade do sistema fiscal brasileiro. Hoje, um<br />
trabalhador de salário mínimo, pelo simples fato de estar confinado à eco<strong>no</strong>mia formal,<br />
trabalha oito meses ao a<strong>no</strong> pata pagar impostos, enquanto grandes fortunas são construídas<br />
fora do alcance dos tributos convencionais.<br />
Por último, a gigantesca máquina de coação e achaque em que se transformou a<br />
estrutura arrecadadora <strong>no</strong>s seus diversos níveis. Temem não apenas perder o emprego e a<br />
gorda teta da corrupção fiscal, mas também a caça às bruxas que se seguiria à chegada da<br />
tributação automática: e impessoal. Hoje, consegue-se manter fora do conhecimento<br />
público os mais escabrosos relatos de corrupção fiscal graças ao terrorismo generalizado<br />
nessa área. Em que deu, por exemplo, aquele célebre caso de extorsão <strong>doc</strong>umentado em<br />
víd<strong>eo</strong> por Ricardo Semler? Talvez, <strong>no</strong> máximo, uma transferência para o fiscal corrupto.<br />
Mas a empresa continua perseguida até hoje e o seu proprietário, amargando o pior<br />
arrependimento. A impunidade que tem sido a regra para todos os outros casos semelhantes<br />
acabará junto com o temor da represália.<br />
Seria redundante evidenciar as raras exceções. Homens que, apesar de pertencerem a<br />
esses grupos, tiveram a grandeza de colocar o <strong>Brasil</strong> acima dos interesses egoístas das<br />
corporações a que pertencem. Cito por um dever de justiça o prof. Ives Gandra Martins,<br />
incentivador de primeira hora do Movimento Pró-Imposto Único, e que deu forma à<br />
Emenda Constitucional nº 17, do mesmo <strong>no</strong>me.<br />
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