Microsoft Word - Tributa\\347\\343o no Brasil eo IU.doc - Marcos Cintra
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AJUSTE OU MARKETING?<br />
José Serra<br />
Folha de S. Paulo, 7/7/92<br />
Em face do espaço apertadíssimo desta coluna, resumo em tópicos dúvidas e inquietações<br />
sobre o ajuste fiscal despertadas pela leitura dos jornais e revistas do fim de semana.<br />
1) Duvido que as elites, hoje desejosas do ajuste fiscal, se entendam sobre o objetivo<br />
perseguido. Seria aumentar a carga tributária? Ou diminuí-la? Ou, ainda, seria primordial a<br />
melhora da eficiência alocativa desse sistema, privilegiando os investimentos e as<br />
exportações? Confusão maior ocorre a respeito dos prazos: em quanto tempo se espera<br />
obter o quê?<br />
2) O projeto de gover<strong>no</strong> pretende modificar 53 artigos (22% do total) e 145<br />
dispositivos da Constituição, além de introduzir 30 outros dispositivos <strong>no</strong>vos. Ou seja,<br />
seriam 175 votações em quatro vezes (duas na Câmara, duas <strong>no</strong> Senado): 700 votações <strong>no</strong><br />
total, exigindo quórum qualificado.. Além disso, o projeto não separa curto de longo prazo.<br />
Deveria conter apenas (e já seria muita coisa) o necessário para 1993. Mas contém<br />
dispositivos cujos efeitos fiscais ocorreriam daqui a três, cinco ou dez a<strong>no</strong>s. Por que não<br />
deixá-los para a revisão constitucional? Misturar tudo, agora, fica bonito para anúncios na<br />
imprensa, mas conspira contra a realização de algo efetivo.<br />
3) O gover<strong>no</strong> propõe impostos <strong>no</strong>vos. Um deles, o Imposto sobre Transações<br />
Financeiras (defendido como único pela Folha), com alíquota de 0,2%, substituiria o<br />
Finsocial, o Pis-Pasep e a contribuição social sobre os lucros. Em matéria de<br />
cumulatividade (ou efeito "cascata"), trocar o Finsocial por esse ITF equivale a trocar seis<br />
por meia dúzia. Mas a idéia do ITF tem charme: como diz o professor Chico Lopes, há a<br />
sensação geral de que o <strong>no</strong>vo imposto vai gerar uma grande arrecadação, mas que ninguém<br />
vai pagar. Alardeia-se que os bicheiros, as indústrias de fundo de quintal e os outros<br />
sonegadores, que escapam do Finsocial, não se livrariam do ITF, ampliando-se, assim,<br />
<strong>no</strong>tavelmente, a arrecadação. Será? Suponhamos que a eco<strong>no</strong>mia informal seja duas vezes a<br />
eco<strong>no</strong>mia formal, para efeito tributário. Isto equivaleria a um Finsocial de 0,6%, em vez<br />
dos 2% de hoje, com efeito modestíssimo sobre a arrecadação. Quem, então, pagaria o ITF?<br />
Como mostrou o professor Lopes, os pagadores seriam os tomadores de empréstimo em<br />
moeda indexada, principalmente o gover<strong>no</strong> (80% do total), sob a forma de juros maiores:<br />
cerca de dez pontos percentuais a mais por a<strong>no</strong>, onerando pesadamente o serviço da dívida<br />
pública.<br />
4) O <strong>no</strong>vo imposto sobre ativos, dedutível do Imposto de Renda, é copiado da<br />
experiência mexicana. Mas <strong>no</strong> México as empresas deduzem as dívidas, ou seja, o imposto<br />
incide sobre o patrimônio líquido. Ao que parece, a proposta do gover<strong>no</strong> não ,faz essa<br />
dedução. Por isso e por outro motivos, se tomarmos as 500 maiores empresas do país, mais<br />
de 73% da arrecadação virá das estatais, ou seja, será um imposto cobrado pelo gover<strong>no</strong><br />
sobre o gover<strong>no</strong>. Entre elas estão empresas com déficits espetaculares e sem IR a pagar,<br />
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