27.04.2017 Views

#Manual de Direito do Consumidor (2017) - Flávio Tartuce e Daniel Amorim Assumpsção Neves

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

contraditório, nos termos <strong>do</strong> art. 373, § 1.º, <strong>do</strong> Novo CPC.<br />

Dois pontos finais merecem <strong>de</strong>staque.<br />

Naturalmente se opera a preclusão sobre a <strong>de</strong>cisão que informa as partes a respeito da forma como será aplicada a regra <strong>do</strong><br />

ônus da prova na hipótese <strong>de</strong> ser necessária essa técnica <strong>de</strong> julgamento. A partir <strong>do</strong> momento em que o juiz sinaliza <strong>de</strong> quem será o<br />

ônus probatório, caso seja necessária a aplicação <strong>de</strong>ssa regra, a conduta probatória das partes estará <strong>de</strong>terminada, e o consumi<strong>do</strong>r<br />

não terá interesse em produzir uma prova quan<strong>do</strong> souber que sua ausência não lhe traz qualquer prejuízo. Trata-se <strong>do</strong> aspecto<br />

subjetivo <strong>do</strong> ônus da prova, já analisa<strong>do</strong>.<br />

Não po<strong>de</strong> o juiz, no momento <strong>de</strong> sentenciar, e sen<strong>do</strong> necessária a aplicação da regra <strong>do</strong> ônus da prova, <strong>de</strong>scumprir sua<br />

sinalização e <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> proce<strong>de</strong>r à inversão. Nesse caso, surpreen<strong>de</strong>ria o consumi<strong>do</strong>r, que, com a sinalização <strong>do</strong> juiz <strong>de</strong> que o ônus<br />

não seria seu, passou a uma atuação mais relaxada na instrução probatória. Uma <strong>de</strong>cisão nesses termos seria viola<strong>do</strong>ra <strong>do</strong><br />

contraditório, cercean<strong>do</strong> insuportavelmente a <strong>de</strong>fesa <strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r. Além disso, seria uma afronta clara ao princípio <strong>de</strong><br />

cooperação entre os sujeitos processuais, com uma quebra inadmissível <strong>de</strong> confiança na atuação judicial.<br />

Justamente por enten<strong>de</strong>r existir preclusão pro iudicato na <strong>de</strong>cisão que sinaliza a aplicação invertida da regra <strong>do</strong> ônus da prova,<br />

no caso <strong>de</strong> não haver prova suficiente para formar o convencimento <strong>do</strong> juiz, <strong>de</strong>fen<strong>do</strong> o cabimento <strong>de</strong> agravo <strong>de</strong> instrumento contra<br />

essa <strong>de</strong>cisão. Apesar <strong>de</strong> não ter ocorri<strong>do</strong> ainda a inversão <strong>do</strong> ônus probatório, como o juiz não po<strong>de</strong> voltar atrás em seu<br />

entendimento, é natural que haja interesse recursal <strong>do</strong> fornece<strong>do</strong>r em impugnar tal pronunciamento judicial. A sucumbência<br />

suportada pelo fornece<strong>do</strong>r po<strong>de</strong>rá ser até eventual, já que a regra <strong>do</strong> ônus da prova po<strong>de</strong> nem vir a ser aplicada, mas, como a<br />

<strong>de</strong>cisão não po<strong>de</strong>rá ser alterada, e <strong>de</strong>terminará a conduta das partes durante a instrução probatória, enten<strong>do</strong> ser cabível o agravo <strong>de</strong><br />

instrumento.<br />

Por fim, registre-se que a inversão <strong>do</strong> ônus da prova no momento da sentença, sem que tenha havi<strong>do</strong> indicação prévia às partes<br />

nesse senti<strong>do</strong>, somente violará o princípio <strong>do</strong> contraditório se não for concedi<strong>do</strong> prazo para a parte que recebe o ônus produzir a<br />

prova necessária para vencer a <strong>de</strong>manda. O problema, na realida<strong>de</strong>, não é a inversão no momento <strong>do</strong> julgamento, mas o julgamento<br />

sem antes ter se da<strong>do</strong> aviso às partes a respeito da forma <strong>de</strong> aplicação da regra <strong>do</strong> ônus da prova.<br />

Nesse senti<strong>do</strong>, corretas as lições <strong>de</strong> Humberto Theo<strong>do</strong>ro Jr., ao afirmar que, “se o juiz convencer-se da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> inverter<br />

o ônus da prova <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> já encerrada a instrução da causa, terá <strong>de</strong> reabrir a fase probatória, a fim <strong>de</strong> que o fornece<strong>do</strong>r tenha<br />

oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> produzir a prova que julgar conveniente para liberar-se <strong>do</strong> novo onus probandi”223.<br />

A observação é importante em razão <strong>de</strong> procedimentos que não têm um momento sanea<strong>do</strong>r, como ocorre no procedimento<br />

ordinário 224 . Penso no procedimento <strong>do</strong>s Juiza<strong>do</strong>s Especiais, em que não há propriamente uma fase <strong>de</strong> saneamento, sen<strong>do</strong> que a<br />

sessão <strong>de</strong> conciliação (chamada em muitos lugares <strong>de</strong> audiência) é invariavelmente conduzida por um concilia<strong>do</strong>r, sem po<strong>de</strong>res<br />

para <strong>de</strong>terminar a inversão ou informar as partes a respeito <strong>de</strong>ssa possível inversão.<br />

Concor<strong>do</strong> com a <strong>do</strong>utrina que enten<strong>de</strong> que a inversão já no momento inicial da <strong>de</strong>manda é prematura, porque, além <strong>de</strong> ser<br />

ce<strong>do</strong> <strong>de</strong>mais para o juiz analisar os requisitos legais para a inversão, antes da citação <strong>do</strong> réu tratar-se-ia <strong>de</strong> uma inversão inaudita<br />

altera parte, sem a garantia <strong>do</strong> princípio <strong>do</strong> contraditório. Para Alexandre Freitas Câmara, “não se po<strong>de</strong>, registre-se, aceitar que a<br />

inversão se dê logo no <strong>de</strong>spacho inicial <strong>do</strong> processo, já que nesse momento ainda não é sequer possível <strong>de</strong>terminar qual será o<br />

objeto da prova (afinal, ainda não se sabe que fatos se tornarão controverti<strong>do</strong>s)” 225 .<br />

Dessa forma, enten<strong>do</strong> que caberá ao juiz, na audiência <strong>de</strong> instrução e julgamento, <strong>de</strong>terminar a inversão <strong>do</strong> ônus da prova,<br />

inquirin<strong>do</strong> diretamente o fornece<strong>do</strong>r se ele tem alguma prova a produzir. Sen<strong>do</strong> afirmativa a resposta, e não sen<strong>do</strong> possível<br />

produzi-la na própria audiência, cabe ao juiz re<strong>de</strong>signar a audiência, dan<strong>do</strong> ao fornece<strong>do</strong>r a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se <strong>de</strong>sincumbir <strong>do</strong><br />

ônus que recebeu. Caso o fornece<strong>do</strong>r não tenha provas a produzir, o juiz prossegue normalmente com o procedimento,<br />

consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> que o contraditório, nesse caso, não será viola<strong>do</strong> com a inversão seguida imediatamente da prolação <strong>de</strong> sentença.<br />

É nesse senti<strong>do</strong> o Novo Código <strong>de</strong> Processo Civil, mais precisamente em seu art. 373, § 1.º, que exige <strong>do</strong> juiz, sempre que<br />

inverter o ônus da prova, que dê oportunida<strong>de</strong> à parte para se <strong>de</strong>sincumbir <strong>do</strong> ônus que lhe tenha si<strong>do</strong> atribuí<strong>do</strong>. Significa que, em<br />

respeito ao contraditório, a parte terá amplo direito à produção da prova, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> que não parece interessante que essa inversão<br />

ocorra somente no momento <strong>de</strong> prolação <strong>de</strong> sentença, sob pena <strong>de</strong> ofensa ao princípio da economia processual. Parece ser mais<br />

vantajoso que, no momento <strong>de</strong> saneamento <strong>do</strong> processo, o juiz já sinalize a forma <strong>de</strong> aplicação da regra <strong>do</strong> ônus da prova, caso<br />

essa aplicação realmente se faça necessária no caso concreto.<br />

10.7.5.<br />

Inversão da prova e inversão <strong>do</strong> adiantamento <strong>de</strong> custas processuais<br />

A inversão <strong>do</strong> ônus da prova traz outra interessante questão: a inversão <strong>do</strong> adiantamento <strong>do</strong> pagamento das <strong>de</strong>spesas<br />

necessárias para a produção probatória, em especial a pericial. Nesse ponto, há séria divergência, tanto na <strong>do</strong>utrina como na<br />

jurisprudência.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!