27.04.2017 Views

#Manual de Direito do Consumidor (2017) - Flávio Tartuce e Daniel Amorim Assumpsção Neves

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

eparação imaterial, pela ausência <strong>de</strong> lesão à personalida<strong>de</strong>. A ementa, com precisão, foi assim elaborada: “Responsabilida<strong>de</strong> civil.<br />

Danos morais. Consumi<strong>do</strong>r que não conseguiu inserir os códigos exigi<strong>do</strong>s pela promoção após efetuar seu cadastro no site<br />

indica<strong>do</strong>. Alegação <strong>de</strong> dano moral in<strong>de</strong>nizável em razão da perda da chance <strong>de</strong> concorrer à viagem para a Alemanha e assistir à<br />

Copa <strong>do</strong> Mun<strong>do</strong>. Inexistência <strong>de</strong> danos morais, por ausência <strong>de</strong> violação a direitos da personalida<strong>de</strong> ou <strong>de</strong> sofrimento apreciável.<br />

Impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se in<strong>de</strong>nizar danos hipotéticos ou eventuais, se não mensurável economicamente a chance perdida. Ação<br />

improce<strong>de</strong>nte. Recurso improvi<strong>do</strong>”. Ora, <strong>de</strong>mandas como a exposta, fundadas em pedi<strong>do</strong>s <strong>de</strong>scabi<strong>do</strong>s, <strong>de</strong>vem ser rejeitadas <strong>de</strong><br />

plano pelo Po<strong>de</strong>r Judiciário, pois revelam intenções mesquinhas e egoísticas.<br />

Superada a análise <strong>do</strong>s danos reparáveis na órbita das relações <strong>de</strong> consumo, o princípio da reparação integral <strong>de</strong> danos gera a<br />

responsabilida<strong>de</strong> objetiva <strong>de</strong> fornece<strong>do</strong>res e presta<strong>do</strong>res como regra das relações <strong>de</strong> consumo. Consigne-se que essa<br />

responsabilida<strong>de</strong> in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente <strong>de</strong> culpa visa à facilitação das <strong>de</strong>mandas em prol <strong>do</strong>s consumi<strong>do</strong>res, representan<strong>do</strong> um<br />

aspecto material <strong>do</strong> acesso à justiça. A responsabilida<strong>de</strong> objetiva <strong>do</strong>s fornece<strong>do</strong>res ou presta<strong>do</strong>res beneficia tanto o consumi<strong>do</strong>r<br />

padrão (stan<strong>de</strong>r) quanto o consumi<strong>do</strong>r equipara<strong>do</strong> (bystan<strong>de</strong>r). Em um senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> ampliação, o art. 17 da Lei 8.078/1990<br />

consi<strong>de</strong>ra consumi<strong>do</strong>r qualquer vítima da relação <strong>de</strong> consumo, o que faz com que a gran<strong>de</strong> maioria das relações <strong>de</strong><br />

responsabilida<strong>de</strong> seja enquadrada no contexto <strong>do</strong> Código Consumerista. To<strong>do</strong>s esses aspectos relativos ao <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> in<strong>de</strong>nizar serão<br />

aprofunda<strong>do</strong>s no Capítulo 4 <strong>de</strong>sta obra.<br />

Outro aspecto que apresenta estreita ligação com a reparação integral é a regra da solidarieda<strong>de</strong> retirada da responsabilida<strong>de</strong><br />

consumerista. Enuncia o art. 7º, parágrafo único, da Lei 8.078/1990 que, “Ten<strong>do</strong> mais <strong>de</strong> um autor a ofensa, to<strong>do</strong>s respon<strong>de</strong>rão<br />

solidariamente pela reparação <strong>do</strong>s danos previstos nas normas <strong>de</strong> consumo”. Como se extrai da melhor <strong>do</strong>utrina <strong>de</strong> Claudia Lima<br />

Marques, Antonio Herman Benjamin e Bruno Miragem, “O parágrafo único <strong>do</strong> art. 7º traz a regra geral sobre a solidarieda<strong>de</strong> da<br />

ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> fornece<strong>do</strong>res <strong>de</strong> produtos e serviços”.49 O tema, <strong>do</strong> mesmo mo<strong>do</strong>, será aborda<strong>do</strong> no Capítulo 4 <strong>de</strong>ste livro.<br />

Por <strong>de</strong>rra<strong>de</strong>iro, é interessante apontar que, para alguns <strong>do</strong>utrina<strong>do</strong>res, o Código <strong>do</strong> Consumi<strong>do</strong>r a<strong>do</strong>tou também o princípio da<br />

segurança, que geraria justamente a responsabilida<strong>de</strong> objetiva <strong>do</strong>s fornece<strong>do</strong>res e presta<strong>do</strong>res, afastan<strong>do</strong>-se a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> prova<br />

<strong>do</strong> elemento culpa. 50 Com to<strong>do</strong> o respeito, parece-nos que tal conclusão po<strong>de</strong> ser retirada <strong>do</strong> princípio da reparação integral <strong>do</strong>s<br />

danos, que justifica to<strong>do</strong> o sistema <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> civil a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> pela norma consumerista. Desse mo<strong>do</strong>, não haveria<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se criar um regramento diferente <strong>do</strong> que aqui foi exposto.<br />

1<br />

2<br />

3<br />

4<br />

5<br />

6<br />

7<br />

8<br />

9<br />

10<br />

11<br />

12<br />

13<br />

14<br />

MARQUES, Claudia Lima; BENJAMIN, Antonio Herman V.; MIRAGEM, Bruno. Comentários ao Código <strong>de</strong> Defesa <strong>do</strong> Consumi<strong>do</strong>r. São Paulo:<br />

RT, 2004. p. 24-52.<br />

MARQUES, Claudia Lima; BENJAMIN, Antonio Herman V.; MIRAGEM, Bruno. Comentários ao Código <strong>de</strong> Defesa <strong>do</strong> Consumi<strong>do</strong>r. 3. ed. São<br />

Paulo: RT, 2010. p. 30.<br />

MARQUES, Claudia Lima; BENJAMIN, Antonio Herman V.; MIRAGEM, Bruno. Comentários ao Código <strong>de</strong> Defesa <strong>do</strong> Consumi<strong>do</strong>r. 3. ed. São<br />

Paulo: RT, 2010. p. 30.<br />

Tal posicionamento <strong>do</strong> jurista po<strong>de</strong> ser encontra<strong>do</strong> em: CUNHA, Wladimir Alcebía<strong>de</strong>s Marinho Falcão. Revisão judicial <strong>do</strong>s contratos. Do<br />

CDC ao Código Civil <strong>de</strong> 2002. São Paulo: Méto<strong>do</strong>, 2007.<br />

FACHIN, Luiz Edson. Novo Código Civil brasileiro e o Código <strong>de</strong> Defesa <strong>do</strong> Consumi<strong>do</strong>r: um approach <strong>de</strong> suas relações jurídicas. In:<br />

MONTEIRO, António Pinto (dir.). Estu<strong>do</strong>s <strong>de</strong> direito <strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r, n. 7. Coimbra: Centro <strong>de</strong> <strong>Direito</strong> <strong>de</strong> Consumo, 2005. p. 111.<br />

Sobre a visão clássica <strong>do</strong>s princípios, veja: LIMONGI FRANÇA, Rubens. Princípios gerais <strong>de</strong> direito. Atual. Antonio S. Limongi França e<br />

<strong>Flávio</strong> <strong>Tartuce</strong>. 3. ed. São Paulo: RT, 2010. Sobre a força constitucional <strong>do</strong>s princípios jurídicos: BONAVIDES, Paulo. Curso <strong>de</strong> direito<br />

constitucional. 17. ed. São Paulo: Malheiros, 2005. p. 275.<br />

REALE, Miguel. Lições preliminares <strong>de</strong> direito. 21. ed. São Paulo: Saraiva, 1994. p. 299.<br />

NERY JR., Nelson; NERY, Rosa Maria <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>. Código Civil anota<strong>do</strong>. 2. ed. São Paulo: RT, 2003. p. 141.<br />

Essa necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> inclusão na gra<strong>de</strong> <strong>do</strong>s cursos superiores <strong>de</strong> <strong>Direito</strong> é observada muito bem por Claudia Lima Marques (Manual <strong>de</strong><br />

<strong>Direito</strong> <strong>do</strong> Consumi<strong>do</strong>r. 3. ed. São Paulo: RT, 2010. p. 46-49).<br />

FINGER, Julio Cesar. O Ministério Público Pós-88 e a efetivação <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> Democrático <strong>de</strong> <strong>Direito</strong>: po<strong>de</strong>mos comemorar? In: RIBEIRO,<br />

Carlos Vinicius Alves (org.). Ministério Público. Reflexões sobre princípios e funções institucionais. São Paulo: Atlas, 2010. p. 88.<br />

RIZZATTO NUNES, Luiz Antonio. Comentários ao Código <strong>de</strong> Defesa <strong>do</strong> Consumi<strong>do</strong>r. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 94.<br />

BITTAR, Carlos Alberto. <strong>Direito</strong>s <strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r. 5. ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Forense Universitária, 2002. p. 2.<br />

MARQUES, Claudia Lima; BENJAMIN, Antonio Herman V.; MIRAGEM, Bruno. Comentários ao Código <strong>de</strong> Defesa <strong>do</strong> Consumi<strong>do</strong>r. 3. ed. São<br />

Paulo: RT, 2010. p. 120.<br />

ALPA, Gui<strong>do</strong>. Il diritto <strong>de</strong>i consumatori. Roma: Laterza, 2002. p. 23.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!