#Manual de Direito do Consumidor (2017) - Flávio Tartuce e Daniel Amorim Assumpsção Neves
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1.º <strong>do</strong> art. 133 <strong>do</strong> Novo CPC prevê que a <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>ração da personalida<strong>de</strong> jurídica observará os pressupostos estabeleci<strong>do</strong>s em<br />
lei. A opção <strong>do</strong> legisla<strong>do</strong>r <strong>de</strong>ve ser saudada porque os pressupostos para a <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>ração da personalida<strong>de</strong> jurídica são tema <strong>de</strong><br />
direito material e <strong>de</strong>ssa forma não <strong>de</strong>vem ser trata<strong>do</strong>s pelo Código <strong>de</strong> Processo Civil.<br />
Na <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>ração da personalida<strong>de</strong> jurídica clássica, expressamente prevista pelos arts. 50 <strong>do</strong> CC e 28 <strong>do</strong> CDC, a socieda<strong>de</strong><br />
empresarial figura como <strong>de</strong>ve<strong>do</strong>ra e os sócios, como responsáveis patrimoniais secundários, ou seja, mesmo não sen<strong>do</strong> <strong>de</strong>ve<strong>do</strong>res,<br />
respon<strong>de</strong>rão com o seu patrimônio pela satisfação da dívida.<br />
A jurisprudência, entretanto, valen<strong>do</strong>-se da ratio das normas legais referidas, vem as interpretan<strong>do</strong> <strong>de</strong> forma extensiva e<br />
crian<strong>do</strong> novas modalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>ração <strong>de</strong> personalida<strong>de</strong> jurídica, não previstas expressamente em lei. Há a<br />
<strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>ração da personalida<strong>de</strong> jurídica entre empresas <strong>do</strong> mesmo grupo econômico14, bem como a <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>ração da<br />
personalida<strong>de</strong> jurídica inversa 15 .<br />
Na hipótese <strong>de</strong> <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>ração da personalida<strong>de</strong> jurídica inversa, o sócio figura como <strong>de</strong>ve<strong>do</strong>r e a socieda<strong>de</strong> empresarial,<br />
como responsável patrimonial secundária, quan<strong>do</strong> se constata que o sócio transferiu seu patrimônio pessoal para a socieda<strong>de</strong><br />
empresarial com o objetivo <strong>de</strong> frustrar a satisfação <strong>do</strong> direito <strong>de</strong> seus cre<strong>do</strong>res. O § 2.º <strong>do</strong> art. 133 <strong>do</strong> Novo CPC não consagra<br />
legislativamente essa espécie atípica <strong>de</strong> <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>ração, limitan<strong>do</strong>-se a prever que o inci<strong>de</strong>nte cria<strong>do</strong> também a ela será aplica<strong>do</strong>.<br />
12.3.2.<br />
Momento<br />
Na <strong>do</strong>utrina muito se discutiu a respeito <strong>do</strong> momento a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong> para a <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>ração da personalida<strong>de</strong> jurídica. Segun<strong>do</strong> o<br />
Superior Tribunal <strong>de</strong> Justiça, a <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>ração po<strong>de</strong> ocorrer em qualquer fase <strong>do</strong> processo, não haven<strong>do</strong> que falar em <strong>de</strong>cadência<br />
<strong>de</strong> um direito potestativo16. A dúvida é resolvida pelo art. 134, caput, <strong>do</strong> Novo CPC, ao prever que o inci<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>ração<br />
é cabível em todas as fases <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> conhecimento, no cumprimento <strong>de</strong> sentença e na execução fundada em título executivo<br />
extrajudicial.<br />
12.3.3.<br />
Procedimento<br />
O art. 133, caput, <strong>do</strong> Novo CPC, prevê expressamente que a <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>ração da personalida<strong>de</strong> jurídica <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> pedi<strong>do</strong> da<br />
parte ou <strong>do</strong> Ministério Público, com o que afasta a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> o juiz instaurar o inci<strong>de</strong>nte ora analisa<strong>do</strong> <strong>de</strong> ofício17. Já era<br />
nesse senti<strong>do</strong> a previsão <strong>do</strong> art. 50 <strong>do</strong> CC. A legitimida<strong>de</strong> <strong>do</strong> Ministério Público, apesar <strong>de</strong> o artigo ora menciona<strong>do</strong> sugerir ser<br />
ampla, <strong>de</strong>ve ser limitada à hipótese em que participa <strong>do</strong> processo como autor, não haven<strong>do</strong> senti<strong>do</strong> em se admitir tal pedi<strong>do</strong> quan<strong>do</strong><br />
funciona no processo como fiscal da or<strong>de</strong>m jurídica 18 .<br />
Como toda petição postulatória, a petição que veicula o pedi<strong>do</strong> para a instauração <strong>do</strong> inci<strong>de</strong>nte processual <strong>de</strong> <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>ração<br />
da personalida<strong>de</strong> jurídica <strong>de</strong>ve conter fundamentação (pressupostos legais para a <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>ração) e pedi<strong>do</strong> (<strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>ração e<br />
penhora sobre o bem <strong>do</strong>s sócios). Nesse senti<strong>do</strong>, <strong>de</strong>ve-se compreen<strong>de</strong>r o § 4.º <strong>do</strong> art. 134 <strong>do</strong> Novo CPC, que não foi feliz em<br />
prever que no requerimento cabe à parte <strong>de</strong>monstrar o preenchimento <strong>do</strong>s pressupostos legais para a <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>ração, o que po<strong>de</strong><br />
passar a equivocada impressão <strong>de</strong> que o requerente terá que apresentar prova pré-constituída e liminarmente <strong>de</strong>monstrar o<br />
cabimento da <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>ração.<br />
Na realida<strong>de</strong>, o requerente não <strong>de</strong>ve <strong>de</strong>monstrar, mas apenas alegar o preenchimento <strong>do</strong>s requisitos legais para a<br />
<strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>ração, ten<strong>do</strong> o direito à produção <strong>de</strong> prova para convencer o juízo <strong>de</strong> sua alegação, inclusive conforme previsto nos arts.<br />
135 e 136 <strong>do</strong> Novo CPC, ao indicarem expressamente a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> instrução probatória no inci<strong>de</strong>nte ora analisa<strong>do</strong>.<br />
Apesar da previsão <strong>do</strong> art. 795, § 4.º, <strong>do</strong> Novo CPC, a criação <strong>de</strong> um inci<strong>de</strong>nte processual não será sempre necessária, pois,<br />
nos termos <strong>do</strong> art. 134, § 2.º, <strong>do</strong> Novo CPC, a instauração <strong>do</strong> inci<strong>de</strong>nte será dispensada se o pedi<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>ração da<br />
personalida<strong>de</strong> jurídica for requeri<strong>do</strong> na petição inicial, hipótese em que será cita<strong>do</strong> o sócio ou a pessoa jurídica. Nesse caso, o<br />
Enuncia<strong>do</strong> 248 <strong>do</strong> Fórum Permanente <strong>de</strong> Processualistas Civis (FPPC) indica que “incumbe ao sócio ou à pessoa jurídica, na<br />
contestação, impugnar não somente a própria <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>ração, mas também os <strong>de</strong>mais pontos da causa”.<br />
A instauração <strong>do</strong> inci<strong>de</strong>nte será imediatamente comunicada ao distribui<strong>do</strong>r para as anotações <strong>de</strong>vidas (art. 134, § 1.º, <strong>do</strong> Novo<br />
CPC), não suspen<strong>de</strong>n<strong>do</strong> o processo, salvo na hipótese <strong>de</strong> o pedi<strong>do</strong> ser formula<strong>do</strong> na petição inicial (art. 134, § 3.º, <strong>do</strong> Novo CPC).<br />
Trata-se <strong>de</strong> suspensão imprópria, já que o processo <strong>de</strong>ve ser suspenso apenas naquilo que <strong>de</strong>penda da solução da controvérsia<br />
criada com a instauração <strong>do</strong> inci<strong>de</strong>nte19.<br />
Há controvérsia <strong>do</strong>utrinária a respeito <strong>do</strong> momento em que ocorre a instauração <strong>do</strong> inci<strong>de</strong>nte ora analisa<strong>do</strong>: para parcela da<br />
<strong>do</strong>utrina, o mero pedi<strong>do</strong> da parte já é o suficiente 20 , enquanto para outra, somente quan<strong>do</strong> o juízo admite o pedi<strong>do</strong>, consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong><br />
preenchi<strong>do</strong>s os requisitos exigi<strong>do</strong>s pela lei, estará instaura<strong>do</strong> o inci<strong>de</strong>nte 21 . Em termos <strong>de</strong> segurança jurídica, em especial para fins<br />
<strong>de</strong> configuração <strong>de</strong> frau<strong>de</strong> à execução, é mais a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong> enten<strong>de</strong>r-se que o mero pedi<strong>do</strong> da parte já seja o suficiente para a