27.04.2017 Views

#Manual de Direito do Consumidor (2017) - Flávio Tartuce e Daniel Amorim Assumpsção Neves

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

coisa julgada material tradicional, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> a estar afasta<strong>do</strong> esse fenômeno processual quan<strong>do</strong> os fundamentos que levaram à<br />

improcedência <strong>do</strong> pedi<strong>do</strong> forem a insuficiência ou a inexistência <strong>de</strong> prova218.<br />

Esse entendimento, entretanto, não é o mais correto, parecen<strong>do</strong> configurar-se a mesma confusão a respeito da formação ou não<br />

da coisa julgada nos processos cujo objeto sejam as relações <strong>de</strong> trato continuativo, reguladas pelo art. 505, I, <strong>do</strong> Novo CPC. Em<br />

razão da possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que a sentença <strong>de</strong>terminativa seja alterada em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> circunstâncias supervenientes <strong>de</strong> fato e <strong>de</strong><br />

direito, parcela da <strong>do</strong>utrina apressou-se a afirmar que essa “instabilida<strong>de</strong>” da sentença seria incompatível com o fenômeno da coisa<br />

julgada material, que exige a imutabilida<strong>de</strong> e a indiscutibilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> julga<strong>do</strong>.<br />

Aos partidários <strong>do</strong> entendimento <strong>de</strong> que não existe coisa julgada nas ações que tratam <strong>de</strong> direito difuso ou coletivo quan<strong>do</strong> a<br />

improcedência <strong>de</strong>correr da insuficiência ou ausência <strong>de</strong> provas surge uma questão <strong>de</strong> difícil resposta: como <strong>de</strong>verá o juiz proce<strong>de</strong>r<br />

ao receber uma petição inicial <strong>de</strong> um processo idêntico a um processo anterior <strong>de</strong>cidi<strong>do</strong> nessas condições, em que o autor não<br />

indica qualquer nova prova para fundamentar sua pretensão, alegan<strong>do</strong> tão somente não ser possível suportar a extrema injustiça da<br />

primeira <strong>de</strong>cisão? Sem ao menos indícios <strong>de</strong> que existe uma prova nova, ainda que o fundamento da primeira <strong>de</strong>cisão tenha si<strong>do</strong> a<br />

insuficiência ou ausência <strong>de</strong> provas, po<strong>de</strong>rá o juiz dar continuida<strong>de</strong> ao processo?<br />

É evi<strong>de</strong>nte nesse caso que o juiz <strong>de</strong>verá in<strong>de</strong>ferir a petição inicial; não há maiores dúvidas a esse respeito. Mas sob qual<br />

fundamento? O fundamento <strong>de</strong> sua <strong>de</strong>cisão será o art. 485, V, <strong>do</strong> Novo CPC, o qual aponta que, nesse caso, não se po<strong>de</strong>rá afastar a<br />

segurança obtida pela coisa julgada material gerada pela primeira <strong>de</strong>cisão. Essa é a prova maior <strong>de</strong> que existe coisa julgada<br />

material, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente <strong>do</strong> fundamento da <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> mérito da primeira <strong>de</strong>manda que efetivamente ocorreu, embora sua<br />

imutabilida<strong>de</strong> e sua indiscutibilida<strong>de</strong> estejam, no caso da ausência ou insuficiência <strong>de</strong> provas, condicionadas à inexistência <strong>de</strong><br />

prova nova que possa fundamentar a nova <strong>de</strong>manda.<br />

Apesar da <strong>de</strong>fesa veemente da existência <strong>de</strong> coisa julgada material na hipótese ora analisada e da extinção <strong>do</strong> processo quan<strong>do</strong><br />

não houver prova nova em razão justamente <strong>do</strong> fenômeno da coisa julgada material, ainda que seja admitida a inexistência <strong>de</strong> coisa<br />

julgada material quan<strong>do</strong> esta se verifica secundum eventum probationis, como prefere a <strong>do</strong>utrina que tratou <strong>do</strong> tema, a conclusão a<br />

que to<strong>do</strong>s chegam já é o suficiente para os fins busca<strong>do</strong>s no presente trabalho: se não houver prova nova, o processo <strong>de</strong>verá ser<br />

extinto sem julgamento <strong>do</strong> mérito. Seja por falta <strong>de</strong> interesse <strong>de</strong> agir, como prefere a <strong>do</strong>utrina219, seja por força da coisa julgada, o<br />

essencial é a conclusão pacífica <strong>de</strong> que o segun<strong>do</strong> processo não <strong>de</strong>ve ser admiti<strong>do</strong>.<br />

Há outro interessante questionamento a respeito <strong>do</strong> tema que vem suscitan<strong>do</strong> dúvidas na <strong>do</strong>utrina nacional. Os dispositivos<br />

legais que tratam da coisa julgada secundum eventum probationis são omissos a respeito da exigência <strong>de</strong> que, expressa ou<br />

implicitamente, conste da sentença ter si<strong>do</strong> a improcedência gerada pela ausência ou insuficiência <strong>de</strong> provas, ou se tal circunstância<br />

po<strong>de</strong>rá ser estranha à <strong>de</strong>cisão, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> a ser <strong>de</strong>monstrada somente na segunda <strong>de</strong>manda. A tomada <strong>de</strong> uma ou <strong>de</strong> outra posição terá<br />

peso fundamental no próprio conceito <strong>de</strong> prova nova, que será fixa<strong>do</strong> a seguir.<br />

A tese restritiva exige que haja na motivação ou no dispositivo da <strong>de</strong>cisão, expressa ou implicitamente, a circunstância da<br />

ausência ou insuficiência <strong>de</strong> provas. Afirma-se que, por ser uma exceção à regra da coisa julgada material prevista em nosso<br />

or<strong>de</strong>namento processual, <strong>de</strong>verá o juiz indicar, ou ao menos ser possível <strong>de</strong>duzir <strong>de</strong> sua fundamentação, que sua <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong><br />

improcedência <strong>de</strong>correu <strong>de</strong> uma insuficiência ou inexistência <strong>de</strong> material probatório. A ausência <strong>de</strong>ssa circunstância<br />

proporcionaria, obrigatoriamente, a geração <strong>de</strong> coisa julgada material tradicional 220 .<br />

Com entendimento contrário, existe corrente <strong>do</strong>utrinária que não vê qualquer necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> constar, expressa ou<br />

implicitamente na sentença, que a improcedência <strong>do</strong> pedi<strong>do</strong> <strong>de</strong>correu <strong>de</strong> ausência ou insuficiência <strong>de</strong> provas. A <strong>do</strong>utrina que<br />

<strong>de</strong>fen<strong>de</strong> uma tese mais ampla afirma que não se <strong>de</strong>veria a<strong>do</strong>tar um critério meramente formal <strong>do</strong> instituto, propon<strong>do</strong>-se um critério<br />

mais liberal, nomea<strong>do</strong> <strong>de</strong> critério substancial. Segun<strong>do</strong> essa visão, sempre que um legitima<strong>do</strong> propuser, com o mesmo fundamento,<br />

uma segunda <strong>de</strong>manda coletiva na qual fundamente sua pretensão em uma nova prova, estar-se-á diante da possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> obter<br />

uma segunda <strong>de</strong>cisão221.<br />

A segunda corrente <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> o entendimento mais acerta<strong>do</strong>, consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> que a a<strong>do</strong>ção da tese restritiva limitaria<br />

in<strong>de</strong>vidamente o conceito <strong>de</strong> prova nova. Ao exigir-se <strong>do</strong> juiz uma fundamentação referente à ausência ou à insuficiência <strong>de</strong><br />

provas, será impossível a ele se manifestar sobre o que não existia à época da <strong>de</strong>cisão, o que retiraria a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> propositura<br />

<strong>de</strong> uma nova <strong>de</strong>manda fundada em meio <strong>de</strong> prova não existente à época da prolação da <strong>de</strong>cisão. Nesses casos, haveria um in<strong>de</strong>vi<strong>do</strong><br />

e in<strong>de</strong>sejável estreitamento <strong>do</strong> conceito <strong>de</strong> nova prova, que também, por não ser tranquilo na <strong>do</strong>utrina, se passa a analisar.<br />

To<strong>do</strong>s os regramentos legais que tratam da coisa julgada secundum eventum probationis são omissos quanto ao conceito <strong>de</strong><br />

“nova prova”, missão legada à <strong>do</strong>utrina. Parcela majoritária da <strong>do</strong>utrina enten<strong>de</strong> que não se <strong>de</strong>ve confundir nova prova com prova<br />

superveniente, surgida após o término da ação coletiva. Por esse entendimento, seria nova a prova, mesmo que preexistente ou<br />

contemporânea à ação coletiva, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que não tenha si<strong>do</strong> nesta consi<strong>de</strong>rada. Assim, o que interessa não é se a prova existia ou não<br />

à época da <strong>de</strong>manda coletiva, mas se foi ou não apresentada durante seu trâmite procedimental; será nova porque, no tocante à<br />

222

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!