27.04.2017 Views

#Manual de Direito do Consumidor (2017) - Flávio Tartuce e Daniel Amorim Assumpsção Neves

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

ativa na ação coletiva da associação está condicionada à autorização expressa <strong>de</strong> seus associa<strong>do</strong>s, é natural a conclusão <strong>de</strong> que a<br />

ação só possa aproveitar a quem era associa<strong>do</strong> no momento da propositura da <strong>de</strong>manda judicial e que autorizou a sua propositura.<br />

Ou seja, mesmo sen<strong>do</strong> associa<strong>do</strong>, não ten<strong>do</strong> autoriza<strong>do</strong> a propositura da ação coletiva, não po<strong>de</strong>rá se beneficiar da sentença<br />

coletiva153.<br />

Registrem-se <strong>de</strong>cisões <strong>do</strong> Superior Tribunal <strong>de</strong> Justiça, mesmo posteriores ao prece<strong>de</strong>nte <strong>do</strong> Supremo Tribunal Fe<strong>de</strong>ral, que<br />

continuam a apontar que to<strong>do</strong>s os indivíduos pertencentes à comunida<strong>de</strong>, associa<strong>do</strong>s ou não à autora da ação coletiva, se<br />

beneficiam da sentença coletiva, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> executá-la em seu favor 154 . O tema, portanto, continua polêmico, tanto que a Segunda<br />

Seção <strong>do</strong> Superior Tribunal <strong>de</strong> Justiça afetou recurso especial ao julgamento repetitivo (tema 948) para pacificar o entendimento <strong>do</strong><br />

tribunal a respeito <strong>do</strong> tema.<br />

Essa realida<strong>de</strong> é ruim no caso <strong>do</strong> direito individual homogêneo, porque exigirá daqueles sujeitos na mesma situação fáticojurídica<br />

<strong>do</strong>s associa<strong>do</strong>s a propositura <strong>de</strong> nova <strong>de</strong>manda para a <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> seus interesses. Conspira, portanto, contra os valores mais<br />

importantes da tutela coletiva: a economia processual e a harmonização <strong>do</strong>s julga<strong>do</strong>s, porque exige a propositura <strong>de</strong> novas ações e<br />

abre a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões contraditórias e/ou conflitantes.<br />

Já no caso <strong>do</strong>s direitos difuso e coletivo a realida<strong>de</strong> é péssima, porque viola a própria natureza indivisível <strong>de</strong> tais espécies <strong>de</strong><br />

direitos. Como exatamente compatibilizar a limitação ora analisada com tal indivisibilida<strong>de</strong>? Se a tutela favorece a coletivida<strong>de</strong> ou<br />

uma comunida<strong>de</strong> (grupo, classe ou categoria <strong>de</strong> pessoas), como exatamente <strong>de</strong>ve ser compreendida a limitação <strong>de</strong> benefício<br />

somente à parcela <strong>do</strong>s sujeitos que compõem o titular <strong>do</strong> direito (que não são os indivíduos, mas a coletivida<strong>de</strong> ou comunida<strong>de</strong>)?<br />

Esse problema prático, entretanto, a meu ver, po<strong>de</strong> ser afasta<strong>do</strong> sem violação ao entendimento já pacifica<strong>do</strong> nos tribunais<br />

superiores. Quan<strong>do</strong> a associação atua como autora <strong>de</strong> ação coletiva em benefício da coletivida<strong>de</strong> (direito difuso) ou <strong>de</strong> uma<br />

comunida<strong>de</strong> (direito coletivo), ela claramente não está em juízo na <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> seus associa<strong>do</strong>s, <strong>de</strong> forma a ser inaplicável a esses<br />

casos o art. 5.º, XXI, da CF. Nessa hipótese, portanto, a legitimida<strong>de</strong> ativa será analisada exclusivamente à luz das normas<br />

referentes ao tema constantes da Lei <strong>de</strong> Ação Civil Pública e <strong>do</strong> Código <strong>de</strong> Defesa <strong>do</strong> Consumi<strong>do</strong>r.<br />

Registre-se, por fim, que o prece<strong>de</strong>nte ora analisa<strong>do</strong> <strong>do</strong> Supremo Tribunal Fe<strong>de</strong>ral trata especificamente <strong>de</strong> tutela coletiva <strong>de</strong><br />

direito individual homogêneo, <strong>de</strong> forma que seus possíveis efeitos vinculantes não po<strong>de</strong>m afetar ações coletivas que tenham como<br />

objeto direito difuso ou coletivo. O Superior Tribunal <strong>de</strong> Justiça, aparentemente, também assim compreen<strong>de</strong>u os limites <strong>do</strong><br />

prece<strong>de</strong>nte cria<strong>do</strong> no Supremo Tribunal Fe<strong>de</strong>ral, já que continua a consi<strong>de</strong>rar a associação legitimada para a tutela <strong>de</strong> direito<br />

coletivo sem fazer menção à exigência <strong>de</strong> autorização <strong>de</strong> seus associa<strong>do</strong>s155.<br />

11.4.6. Defensoria Pública<br />

Pela Lei 11.448, <strong>de</strong> 15.01.2007, com a alteração <strong>do</strong> art. 5º, II, da Lei 7.347/85 (LACP), houve a expressa inclusão da<br />

Defensoria Pública no rol <strong>de</strong> legitima<strong>do</strong>s à propositura da ação coletiva. Antes <strong>de</strong> analisar a norma legal propriamente dita, é<br />

preciso fazer uma exposição, ainda que breve, da participação da Defensoria Pública no âmbito das ações coletivas antes da Lei<br />

11.448/2007.<br />

É necessário reconhecer que, mesmo antes <strong>de</strong>ssa previsão legal, a Defensoria Pública já participava <strong>de</strong> ações coletivas. Parece<br />

não haver maiores dúvidas a respeito da legitimida<strong>de</strong> da Defensoria Pública como mero assistente judicial <strong>de</strong> associação que<br />

funcionaria como autora da ação coletiva. Como se po<strong>de</strong> notar com relativa facilida<strong>de</strong>, nessa circunstância a Defensoria Pública<br />

não compõe o polo ativo da ação coletiva, servin<strong>do</strong> simplesmente como assistente judicial <strong>de</strong> pessoa jurídica legitimada<br />

expressamente em lei para a propositura <strong>de</strong> tal espécie <strong>de</strong> ação.<br />

Ainda que não seja parte na ação coletiva, a mera atuação da Defensoria Pública já é o suficiente para suscitar relevante<br />

questionamento: auxilian<strong>do</strong> judicialmente o autor da ação coletiva, <strong>de</strong>verá ser <strong>de</strong>monstrada sua situação <strong>de</strong> carência econômica,<br />

inviabiliza<strong>do</strong>ra da atuação em proteção <strong>do</strong> direito transindividual? Importante lembrar que, apesar da gratuida<strong>de</strong> existente para os<br />

autores das ações coletivas, é necessária a presença <strong>de</strong> agente com capacida<strong>de</strong> postulatória, <strong>de</strong> preferência experimenta<strong>do</strong>, o que<br />

nem sempre po<strong>de</strong> ser obti<strong>do</strong> pelas associações menos organizadas.<br />

O mesmo se po<strong>de</strong> dizer da ação popular, na qual o cidadão pobre po<strong>de</strong> não ter condições <strong>de</strong> contratar um advoga<strong>do</strong>. Apesar da<br />

extrema improbabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tal circunstância, é possível imaginar a presença da Defensoria Pública como assistente judicial <strong>do</strong><br />

autor da ação popular. Contu<strong>do</strong>, se o réu tivesse condições <strong>de</strong> arcar com a contratação <strong>do</strong> advoga<strong>do</strong>, ainda assim po<strong>de</strong>ria a<br />

Defensoria Pública atuar na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> assistente judicial?<br />

Para parcela <strong>do</strong>utrinária a comprovação da hipossuficiência econômica <strong>do</strong> autor é indispensável, <strong>de</strong>ven<strong>do</strong> ser compreendida<br />

essa atuação da Defensoria Pública <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> sua função típica <strong>de</strong> proteção ao economicamente necessita<strong>do</strong>. Outra parcela<br />

<strong>do</strong>utrinária enten<strong>de</strong> que essa comprovação é dispensada, até porque a <strong>de</strong>fesa em juízo não se dá para tutela <strong>de</strong> interesse <strong>do</strong> autor da<br />

ação coletiva, mas sim da coletivida<strong>de</strong> ou <strong>de</strong> um grupo, classe ou categoria <strong>de</strong> pessoas156.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!