27.04.2017 Views

#Manual de Direito do Consumidor (2017) - Flávio Tartuce e Daniel Amorim Assumpsção Neves

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Min. Marco Aurélio Bellizze – Terceira Turma, j. 26.05.2015 – DJe 10.06.2015; EDcl no REsp 567.333/RN – Rel. Min. Raul<br />

Araújo – Quarta Turma – j. 20.06.2013 – DJe 28.06.2013; REsp 611.872/RJ – Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira – Quarta Turma<br />

– j. 02.10.2012 – DJe 23.10.2012 e REsp 547.794/PR – Rel. Min. Maria Isabel Gallotti – Quarta Turma – j. 15.02.2011 – DJe<br />

22.02.2011). Pontue-se que tais arestos não tratam da responsabilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> agente que financia a compra, mas apenas da<br />

solidarieda<strong>de</strong> entre o fabricante e a concessionária que ven<strong>de</strong> o veículo, o que parece ser bem claro e cristalino.<br />

Vistas tais concretizações, ressalte-se que a lei estabelece duas exceções internas bem específicas a respeito da solidarieda<strong>de</strong><br />

no vício <strong>do</strong> produto.<br />

A primeira exceção tem relação com os produtos forneci<strong>do</strong>s in natura, respon<strong>de</strong>n<strong>do</strong> perante o consumi<strong>do</strong>r o fornece<strong>do</strong>r<br />

imediato, exceto quan<strong>do</strong> i<strong>de</strong>ntifica<strong>do</strong> claramente seu produtor (art. 18, § 5º, <strong>do</strong> CDC). Para concretizar a norma, se alguém adquire<br />

uma maçã estragada em uma feira livre, a responsabilida<strong>de</strong>, em regra, será <strong>do</strong> feirante. Porém, se na maçã constar o selo <strong>do</strong><br />

produtor, o que é bem comum, o último respon<strong>de</strong>rá pelo vício.<br />

Como segunda exceção, <strong>de</strong>termina o § 2º <strong>do</strong> art. 19 que o fornece<strong>do</strong>r imediato – no caso, o comerciante – será responsável<br />

pelo vício <strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> quan<strong>do</strong> fizer a pesagem ou a medição e o instrumento utiliza<strong>do</strong> não estiver aferi<strong>do</strong> segun<strong>do</strong> os padrões<br />

oficiais. O <strong>de</strong>srespeito à lealda<strong>de</strong> negocial, à boa-fé objetiva, acaba por gerar a sua responsabilida<strong>de</strong> pessoal, afastan<strong>do</strong> o <strong>de</strong>ver <strong>de</strong><br />

reparar o fabricante. A título <strong>de</strong> exemplo, se há um problema na balança <strong>do</strong> merca<strong>do</strong>, que está adulterada, a responsabilida<strong>de</strong> será<br />

<strong>do</strong> comerciante e não <strong>do</strong> produtor ou fabricante.<br />

Estabelece o art. 18, caput, <strong>do</strong> CDC que “Os fornece<strong>do</strong>res <strong>de</strong> produtos <strong>de</strong> consumo duráveis ou não duráveis respon<strong>de</strong>m<br />

solidariamente pelos vícios <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> ou quantida<strong>de</strong> que os tornem impróprios ou ina<strong>de</strong>qua<strong>do</strong>s ao consumo a que se <strong>de</strong>stinam<br />

ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles <strong>de</strong>correntes da disparida<strong>de</strong>, com as indicações constantes <strong>do</strong> recipiente, da<br />

embalagem, rotulagem ou mensagem publicitária, respeitadas as variações <strong>de</strong>correntes <strong>de</strong> sua natureza, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> o consumi<strong>do</strong>r<br />

exigir a substituição das partes viciadas” (com <strong>de</strong>staques <strong>do</strong> autor). Como se nota, tal coman<strong>do</strong> consagra e <strong>de</strong>screve os chama<strong>do</strong>s<br />

vícios <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> <strong>do</strong> produto. Ilustre-se com a hipótese <strong>de</strong> um veículo que não funciona <strong>de</strong> forma a<strong>de</strong>quada, como espera o<br />

consumi<strong>do</strong>r (STJ – REsp 991.985/PR – Segunda Turma – Rel. Min. Castro Meira – j. 18.12.2007 – DJ 11.02.2008, p. 84). Po<strong>de</strong><br />

ainda ser citada a situação <strong>do</strong> imóvel adquiri<strong>do</strong> <strong>de</strong> um profissional que apresente sério problema no encanamento, pois utiliza<strong>do</strong><br />

material diverso <strong>do</strong> espera<strong>do</strong> (TJRS – Recurso Cível 71001577337, Porto Alegre – Primeira Turma Recursal Cível – Rel. Des.<br />

Heleno Tregnago Saraiva – j. 17.07.2008 – DOERS 22.07.2008, p. 104).<br />

Mas não é só, uma vez que o art. 19 da Lei 8.078/1990 trata <strong>do</strong>s vícios <strong>de</strong> quantida<strong>de</strong>, <strong>do</strong> mesmo mo<strong>do</strong> a gerar a<br />

solidarieda<strong>de</strong>, enuncian<strong>do</strong> que “Os fornece<strong>do</strong>res respon<strong>de</strong>m solidariamente pelos vícios <strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> <strong>do</strong> produto sempre que,<br />

respeitadas as variações <strong>de</strong>correntes <strong>de</strong> sua natureza, seu conteú<strong>do</strong> líqui<strong>do</strong> for inferior às indicações constantes <strong>do</strong> recipiente, da<br />

embalagem, rotulagem ou <strong>de</strong> mensagem publicitária” (mais uma vez, o presente autor <strong>de</strong>stacou). A título <strong>de</strong> exemplos, cite-se a<br />

hipótese <strong>de</strong> uma goiabada que tem menos conteú<strong>do</strong> <strong>do</strong> que consta da embalagem; ou <strong>do</strong> pacote com rolos <strong>de</strong> papel higiênico com<br />

menor metragem <strong>do</strong> que o previsto. Ainda, a situação <strong>de</strong> uma máquina <strong>de</strong> lavar roupas que suporta menos <strong>do</strong> que os <strong>de</strong>z quilos<br />

acorda<strong>do</strong>s (TJRS – Recurso Cível 71002590800, Porto Alegre – Terceira Turma Recursal Cível – Rel. Des. Jerson Moacir Gubert<br />

– j. 29.07.2010 – DJERS 06.08.2010).<br />

Pois bem, nos casos <strong>de</strong> vícios <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>, prevê o § 1 o <strong>do</strong> art. 18 <strong>do</strong> CDC que, não sen<strong>do</strong> o vício sana<strong>do</strong> no prazo máximo <strong>de</strong><br />

trinta dias pelo fornece<strong>do</strong>r, po<strong>de</strong> o consumi<strong>do</strong>r ingressar em juízo para exercício das opções dadas pela norma, e que ainda serão<br />

estudadas. Observa-se que a própria lei conce<strong>de</strong> ao fornece<strong>do</strong>r o direito <strong>de</strong> sanar o problema em trinta dias da sua reclamação.<br />

Trata-se <strong>de</strong> um <strong>do</strong>s poucos dispositivos no Código Consumerista que traz um direito fundamental <strong>do</strong> fornece<strong>do</strong>r <strong>de</strong> produtos. O<br />

prazo previsto tem natureza <strong>de</strong>ca<strong>de</strong>ncial, caducan<strong>do</strong> o direito ao final <strong>do</strong> transcurso <strong>do</strong> tempo.<br />

Surge então a indagação: quais são as consequências caso o consumi<strong>do</strong>r não respeite tal direito <strong>do</strong> fornece<strong>do</strong>r? Na <strong>do</strong>utrina,<br />

em profun<strong>do</strong> estu<strong>do</strong>, José Fernan<strong>do</strong> Simão aponta que a corrente majoritária, a qual estão filia<strong>do</strong>s O<strong>de</strong>te Novais Carneiro Queiroz,<br />

Alberto <strong>do</strong> Amaral Jr., Zelmo Denari, Jorge Alberto Quadros <strong>de</strong> Carvalho Silva e Luiz Antonio Rizzatto Nunes, reconhece que se<br />

o consumi<strong>do</strong>r não respeitar tal prazo <strong>de</strong> trinta dias, não po<strong>de</strong>rá fazer uso das medidas previstas nos incisos <strong>do</strong> coman<strong>do</strong> legal, caso<br />

da opção <strong>de</strong> resolução <strong>do</strong> contrato.30 Muito próximo, esclarece Leonar<strong>do</strong> Roscoe Bessa que o art. 18, § 1º, <strong>do</strong> Código<br />

Consumerista tem ampla aplicação nos casos em que se configura o abuso <strong>de</strong> direito por parte <strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r. 31 Nessa linha, tem<br />

aplicação em face <strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r o art. 187 <strong>do</strong> CC/2002, segun<strong>do</strong> o qual também comete ato ilícito o titular <strong>de</strong> um direito que, ao<br />

exercê-lo, exce<strong>de</strong> manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico e social, pela boa-fé objetiva e pelos bons costumes.<br />

Em um sadio diálogo entre as normas, nota-se que o consumi<strong>do</strong>r que não respeita tal prazo não atenta para o <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> colaboração<br />

negocial <strong>de</strong>corrente da boa-fé objetiva.<br />

Na jurisprudência, o prazo <strong>de</strong> trinta dias é também aponta<strong>do</strong> como um direito <strong>do</strong> fornece<strong>do</strong>r (por to<strong>do</strong>s: TJSP – Agravo <strong>de</strong><br />

Instrumento 1102616000 – Rel. Rocha <strong>de</strong> Souza – j. 17.05.2007 – registro 17.05.2007). Existem julga<strong>do</strong>s concluin<strong>do</strong> pela carência

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!