27.04.2017 Views

#Manual de Direito do Consumidor (2017) - Flávio Tartuce e Daniel Amorim Assumpsção Neves

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

comandita simples (art. 1.045, caput, <strong>do</strong> CC). Ocorre, entretanto, que nesse caso não parece ser a responsabilida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s sócios<br />

secundária, porque o texto legal é claro ao prever uma solidarieda<strong>de</strong> passiva entre o sócio e a socieda<strong>de</strong> pelas dívidas contraídas<br />

por esta. Parece tratar-se, portanto, <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> primária subsidiária. O mesmo fenômeno verifica-se nas hipóteses <strong>de</strong><br />

socieda<strong>de</strong> irregular e <strong>de</strong> socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> fato, nas quais a responsabilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> sócio é solidária e ilimitada (art. 990 <strong>do</strong> CC)8.<br />

O Superior Tribunal <strong>de</strong> Justiça já <strong>de</strong>cidiu nesse senti<strong>do</strong>, conforme julga<strong>do</strong> assim publica<strong>do</strong> no seu Informativo n. 468:<br />

“In casu, a socieda<strong>de</strong> empresária recorrida ajuizou, na origem, ação <strong>de</strong> cobrança e ressarcimento em <strong>de</strong>sfavor das recorrentes sob a<br />

alegação <strong>de</strong> que o contrato <strong>de</strong> prestação <strong>de</strong> serviços celebra<strong>do</strong> com a socieda<strong>de</strong> civil da qual elas eram sócias – extinta pelo <strong>de</strong>curso<br />

<strong>do</strong> prazo – não foi cumpri<strong>do</strong>. Esse contrato previa a elaboração pela recorrida <strong>do</strong> marketing <strong>do</strong> texto que seria entregue ao comitê<br />

olímpico quan<strong>do</strong> da apresentação da candidatura <strong>de</strong> cida<strong>de</strong> brasileira para sediar os jogos olímpicos <strong>de</strong> 2004. Nos recursos<br />

especiais, as sócias sustentaram, entre outras questões, sua ilegitimida<strong>de</strong> passiva ad causam, a irregularida<strong>de</strong> da <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>ração da<br />

personalida<strong>de</strong> jurídica e a impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se comprovar a prestação <strong>do</strong> serviço por prova exclusivamente testemunhal. Nesse<br />

contexto, a Turma negou-lhes provimento por enten<strong>de</strong>r que, nas socieda<strong>de</strong>s cuja responsabilida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s sócios é ilimitada – como na<br />

hipótese, em que se trata <strong>de</strong> socieda<strong>de</strong> simples –, uma vez exauri<strong>do</strong> o patrimônio da pessoa jurídica, não é necessário <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rar<br />

sua personalida<strong>de</strong> para que se atinjam os bens <strong>do</strong>s sócios, conforme o art. 1.023 <strong>do</strong> CC/2002, o que evi<strong>de</strong>ncia a legitimida<strong>de</strong> das<br />

recorrentes para figurar na <strong>de</strong>manda. Ressaltou-se ainda que a vedação para utilizar prova exclusivamente testemunhal <strong>de</strong>scrita nos<br />

arts. 401 <strong>do</strong> CPC e 227 <strong>do</strong> CC/2002 restringe-se à <strong>de</strong>monstração da existência <strong>do</strong> negócio jurídico em si, não alcançan<strong>do</strong> a<br />

verificação <strong>do</strong>s fatos e circunstâncias atinentes ao contrato. Prece<strong>de</strong>nte cita<strong>do</strong>: EREsp 263.387-PE, DJ 17.03.2003” (STJ – REsp<br />

895.792-RJ – Rel. Min. Paulo <strong>de</strong> Tarso Sanseverino – j. 07.04.2011).<br />

Sen<strong>do</strong> o objetivo da <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>ração da personalida<strong>de</strong> jurídica reconhecer-se a responsabilida<strong>de</strong> patrimonial secundária <strong>do</strong>s<br />

sócios, <strong>de</strong> forma que seus bens passem a respon<strong>de</strong>r pela satisfação da obrigação contraída pela socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve<strong>do</strong>ra, não há<br />

qualquer restrição acerca da execução, contra os sócios, ser limitada às suas respectivas quotas sociais9.<br />

12.3.<br />

12.3.1.<br />

FORMA PROCEDIMENTAL DA DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE<br />

JURÍDICA<br />

Introdução<br />

O Novo Código <strong>de</strong> Processo Civil prevê um inci<strong>de</strong>nte processual para a <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>ração da personalida<strong>de</strong> jurídica, finalmente<br />

regulamentan<strong>do</strong> seu procedimento. Ten<strong>do</strong> seus requisitos previstos em diversas normas legais (art. 50, CC; art. 28, CDC; art. 2.º, §<br />

2.º da CLT; art. 135 <strong>do</strong> CTN; art. 4.º da Lei 9.605/98; art. 18, § 3.º da Lei 9.847/99; art. 34 da Lei 12.529/2011; arts. 117, 158, 245<br />

e 246 da Lei 6.404/76), faltava uma previsão processual a respeito <strong>do</strong> fenômeno jurídico, <strong>de</strong>ven<strong>do</strong> ser saudada tal iniciativa.<br />

Segun<strong>do</strong> o art. 1.062 <strong>do</strong> Novo CPC, o inci<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>ração da personalida<strong>de</strong> jurídica aplica-se ao processo <strong>de</strong><br />

competência <strong>do</strong>s juiza<strong>do</strong>s especiais.<br />

Nos termos <strong>do</strong> art. 795, § 4.º, <strong>do</strong> Novo CPC, para a <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>ração da personalida<strong>de</strong> jurídica é obrigatória a observância <strong>do</strong><br />

inci<strong>de</strong>nte previsto no Código. A norma torna o inci<strong>de</strong>nte obrigatório, em especial na aplicação <strong>de</strong> suas regras procedimentais, mas<br />

o art. 134, § 2.º, <strong>do</strong> Novo CPC consagra hipótese <strong>de</strong> dispensa <strong>do</strong> inci<strong>de</strong>nte.<br />

A criação legal <strong>de</strong> um inci<strong>de</strong>nte processual afasta dúvida <strong>do</strong>utrinária a respeito da forma processual a<strong>de</strong>quada à<br />

<strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>ração da personalida<strong>de</strong> jurídica e à sua natureza: trata-se <strong>de</strong> um inci<strong>de</strong>nte processual e não <strong>de</strong> ação autônoma10.<br />

A <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>ração tem natureza constitutiva, consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong>-se que por meio <strong>de</strong>la tem-se a criação <strong>de</strong> uma nova situação<br />

jurídica. Sempre houve intenso <strong>de</strong>bate <strong>do</strong>utrinário a respeito da possibilida<strong>de</strong> da criação <strong>de</strong> uma nova situação jurídica <strong>de</strong> forma<br />

inci<strong>de</strong>ntal no processo/fase <strong>de</strong> execução, ou se caberia ao interessa<strong>do</strong> a propositura <strong>de</strong> uma ação inci<strong>de</strong>ntal com esse propósito.<br />

Havia corrente <strong>do</strong>utrinária que <strong>de</strong>fendia – e mesmo com o texto legal po<strong>de</strong> continuar a <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r 11 , mas apenas num plano<br />

acadêmico – a existência <strong>de</strong> um processo <strong>de</strong> conhecimento com os pretensos responsáveis patrimoniais secundários compon<strong>do</strong> o<br />

polo passivo para se discutir os requisitos indispensáveis à <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>ração da personalida<strong>de</strong> jurídica 12 .<br />

Por outro la<strong>do</strong>, havia <strong>do</strong>utrina que afirmava que, estan<strong>do</strong> presentes os pressupostos para a <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>ração da personalida<strong>de</strong><br />

jurídica, e conseguin<strong>do</strong> o cre<strong>do</strong>r prová-los <strong>de</strong> forma inci<strong>de</strong>ntal, seria <strong>de</strong>snecessário o processo autônomo, sen<strong>do</strong> esse entendimento<br />

prestigia<strong>do</strong> pelo Superior Tribunal <strong>de</strong> Justiça 13 .<br />

É compreensível que o entendimento consagra<strong>do</strong> no Superior Tribunal <strong>de</strong> Justiça esteja funda<strong>do</strong> nos princípios da celerida<strong>de</strong> e<br />

da economia processual, até porque exigir um processo <strong>de</strong> conhecimento para se chegar à <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>ração da personalida<strong>de</strong><br />

jurídica atrasaria <strong>de</strong> forma significativa a satisfação <strong>do</strong> direito, além <strong>de</strong> ser claramente um caminho mais complexo que um mero<br />

inci<strong>de</strong>nte processual na própria execução ou falência. E tais motivos certamente influenciaram o legisla<strong>do</strong>r a consagrar a natureza<br />

<strong>de</strong> inci<strong>de</strong>nte processual ao pedi<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>ração da personalida<strong>de</strong> jurídica.<br />

Reconhecen<strong>do</strong> que o inci<strong>de</strong>nte cria<strong>do</strong> se limita a tratar <strong>do</strong> procedimento para a <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>ração da personalida<strong>de</strong> jurídica, o §

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!