27.04.2017 Views

#Manual de Direito do Consumidor (2017) - Flávio Tartuce e Daniel Amorim Assumpsção Neves

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Por um la<strong>do</strong>, existe expressiva parcela <strong>do</strong>utrinária que enten<strong>de</strong> que a inversão da prova acarreta inexoravelmente a inversão <strong>do</strong><br />

pagamento das <strong>de</strong>spesas que <strong>de</strong>rivam da produção <strong>de</strong> tal prova226. Defensor <strong>de</strong>sse entendimento, Luiz Antonio Rizzatto Nunes<br />

afirma que, “uma vez <strong>de</strong>terminada a inversão, o ônus econômico da produção da prova tem <strong>de</strong> ser da parte sobre a qual recai o<br />

ônus processual. Caso contrário, estar-se-ia dan<strong>do</strong> com uma mão e tiran<strong>do</strong> com a outra. Se a norma prevê que o ônus da prova<br />

po<strong>de</strong> ser inverti<strong>do</strong>, então automaticamente vai junto para a outra parte a obrigação <strong>de</strong> proporcionar os meios para sua produção,<br />

sob pena <strong>de</strong> – obviamente – arcar com o ônus <strong>de</strong> sua não produção” 227 .<br />

Outra parcela <strong>do</strong>utrinária afirma que a antecipação <strong>de</strong> pagamento <strong>de</strong> <strong>de</strong>spesas relacionadas com a produção <strong>de</strong> prova encontrase<br />

regida pelo art. 95 <strong>do</strong> Novo CPC, não sofren<strong>do</strong> qualquer influência <strong>de</strong>corrente <strong>de</strong> eventual inversão <strong>do</strong> ônus da prova228, sen<strong>do</strong><br />

esse o entendimento <strong>do</strong> Superior Tribunal <strong>de</strong> Justiça:<br />

“Processual civil. Consumi<strong>do</strong>r. Inversão <strong>do</strong> ônus da prova. Honorários <strong>do</strong> perito. Responsabilida<strong>de</strong>. Hipossuficiência. 1. A simples<br />

inversão <strong>do</strong> ônus da prova, no sistema <strong>do</strong> Código <strong>de</strong> Defesa <strong>do</strong> Consumi<strong>do</strong>r, não gera a obrigação <strong>de</strong> custear as <strong>de</strong>spesas com a<br />

perícia, embora sofra a parte ré as consequências <strong>de</strong>correntes <strong>de</strong> sua não produção. (REsp 639.534/MT – Rel. Min. Carlos Alberto<br />

Menezes <strong>Direito</strong> – DJU 13.02.2006). Prece<strong>de</strong>ntes. 2. Recurso especial provi<strong>do</strong>” (STJ – REsp 1063639/MS – Segunda Turma – Rel.<br />

Min. Castro Meira – j. 01.10.2009 – DJe 04.11.2009) 229 .<br />

A razão está com a segunda corrente, consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong>-se principalmente a natureza <strong>do</strong> ônus da prova e o que a sua inversão<br />

significa. Sen<strong>do</strong> o ônus da prova uma regra <strong>de</strong> julgamento, estan<strong>do</strong> liga<strong>do</strong> à necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> o juiz <strong>de</strong>cidir, diante da ausência das<br />

provas para convencê-lo das alegações <strong>de</strong> fato narradas no processo, não guarda o instituto qualquer relação com a antecipação <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>spesas.<br />

É natural, entretanto, que, no caso <strong>de</strong> inversão <strong>do</strong> ônus da prova, a parte que não requereu a produção da prova passe a ter<br />

interesse em sua produção, consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> que, se aquele que requereu sua produção não adiantar as <strong>de</strong>spesas, a prova não será<br />

produzida, com consequências danosas à parte contrária. Nesse caso, ainda que a prova tenha si<strong>do</strong> requerida pelo consumi<strong>do</strong>r, o<br />

fornece<strong>do</strong>r, em razão da inversão <strong>do</strong> ônus da prova, terá interesse em realizá-la, <strong>de</strong>ven<strong>do</strong> assim assumir o adiantamento <strong>do</strong>s valores<br />

nesse senti<strong>do</strong>.<br />

Nesse senti<strong>do</strong> as corretas consi<strong>de</strong>rações <strong>de</strong> Sergio Cavalieri:<br />

“Em termos práticos: a partir <strong>do</strong> momento em que se <strong>de</strong>r a inversão <strong>do</strong> ônus da prova, caberá à outra parte (o fornece<strong>do</strong>r) produzir<br />

prova capaz <strong>de</strong> elidir a presunção <strong>de</strong> veracida<strong>de</strong> que milita em favor <strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r em face da plausibilida<strong>de</strong> da sua pretensão. Não<br />

se trata <strong>de</strong> impor ao fornece<strong>do</strong>r o custeio da prova (honorários periciais), mas <strong>de</strong> transferir-lhe o onus probandi em senti<strong>do</strong><br />

contrário. Se não quiser arcar com esse ônus, bastará <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> realizar a prova. Nesse caso, entretanto, terá contra si a presunção <strong>de</strong><br />

veracida<strong>de</strong> que milita em favor <strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r. A prova passou a ser <strong>do</strong> interesse <strong>do</strong> fornece<strong>do</strong>r, pois é a oportunida<strong>de</strong> que tem <strong>de</strong><br />

provar que os fatos alega<strong>do</strong>s pelo consumi<strong>do</strong>r não são verda<strong>de</strong>iros. A questão pertinente à <strong>de</strong>spesa processual é meramente<br />

acessória, seguin<strong>do</strong> a regra <strong>de</strong> que <strong>de</strong>ve ser custeada pela parte a quem aproveitará”230.<br />

É um tanto quanto simples: a ausência <strong>de</strong> adiantamento das custas da prova gera sua preclusão, e a sua ausência prejudica a<br />

parte que tem o ônus probatório. Como <strong>de</strong>fen<strong>do</strong> que o juiz <strong>de</strong>ve alertar as partes, no saneamento, a respeito da aplicação invertida<br />

da regra <strong>do</strong> ônus da prova, na hipótese <strong>de</strong> prova inexistente ou insuficiente, o único interessa<strong>do</strong> na produção da prova será o<br />

fornece<strong>do</strong>r. Não parece ser lógico que o consumi<strong>do</strong>r adiante uma <strong>de</strong>spesa que só interessa ao fornece<strong>do</strong>r, por ser sua única forma<br />

<strong>de</strong> evitar uma <strong>de</strong>rrota na <strong>de</strong>cisão judicial.<br />

Acompanho com tristeza, no dia a dia forense, a <strong>de</strong>terminação <strong>de</strong> juízes, com esteio no entendimento consagra<strong>do</strong> no Superior<br />

Tribunal <strong>de</strong> Justiça, <strong>de</strong>terminan<strong>do</strong> a inversão <strong>do</strong> ônus da prova e ao mesmo tempo <strong>de</strong>terminan<strong>do</strong> ao consumi<strong>do</strong>r que adiante os<br />

honorários periciais. O mais surpreen<strong>de</strong>nte, entretanto, não é a postura <strong>do</strong>s juízes, mas <strong>do</strong>s advoga<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s consumi<strong>do</strong>res, que<br />

candidamente se submetem à <strong>de</strong>terminação judicial e, muitas vezes com extremo sacrifício, realizam o <strong>de</strong>pósito judicial.<br />

Teriam, em algum momento, para<strong>do</strong> esses patronos para pensar quais seriam as consequências <strong>do</strong> não atendimento da <strong>de</strong>cisão,<br />

<strong>de</strong>ixan<strong>do</strong> passar o prazo para o <strong>de</strong>pósito sem praticar qualquer ato? Certamente, quan<strong>do</strong> pensam mais <strong>de</strong>tidamente a respeito <strong>do</strong><br />

assunto, percebem que o interesse <strong>de</strong> produzir a prova não é mais <strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r, ainda que tenha ele pedi<strong>do</strong> sua produção. Se o<br />

ônus da prova passa a ser <strong>do</strong> fornece<strong>do</strong>r, a preclusão da prova pericial em razão <strong>do</strong> não adiantamento <strong>do</strong>s honorários periciais terá<br />

somente um prejudica<strong>do</strong>: o fornece<strong>do</strong>r.<br />

Ada Pellegrini Grinover parece ter nota<strong>do</strong> tal circunstância, ao afirmar que “na práxis forense, o juiz costuma <strong>de</strong>terminar a<br />

inversão <strong>do</strong> ônus da prova antes <strong>de</strong> sua produção. Nesse caso, não há como negar uma indiscutível relação entre inversão <strong>do</strong> ônus<br />

da prova e inversão <strong>do</strong> ônus <strong>do</strong> adiantamento <strong>de</strong> <strong>de</strong>spesas. Isto porque, inverti<strong>do</strong> o ônus da prova, po<strong>de</strong> acontecer que a prova, que<br />

era <strong>de</strong> interesse <strong>do</strong> autor, passe a ser <strong>do</strong> interesse <strong>do</strong> <strong>de</strong>manda<strong>do</strong>; e, sen<strong>do</strong> assim, o <strong>de</strong>manda<strong>do</strong>, a quem interessa provar, adiantará<br />

espontaneamente as <strong>de</strong>spesas. Desse mo<strong>do</strong>, a inversão <strong>do</strong> ônus da prova po<strong>de</strong>rá repercutir na assunção da responsabilida<strong>de</strong> pelo

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!