17.04.2013 Views

Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto

Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto

Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

provar a si próprio o quanto era forte, retiran<strong>do</strong> prazer <strong>da</strong>s práticas marginais<br />

sucedi<strong>da</strong>s, porquanto durante muitos anos não foram identifica<strong>da</strong>s pelas autori<strong>da</strong>des.<br />

―Nasci em Aveiro, vivi com a minha mãe até aos 12/13 meses… foram-me<br />

buscar lá. … a minha tia … e passei a viver com a minha avó, em Gaia, até<br />

aos três anos. … A minha mãe estava a acabar um curso de hotelaria na<br />

universi<strong>da</strong>de. … depois de acabar, passei a viver com ela até aos 6/7<br />

anos… mas vivia mais com a minha avó <strong>do</strong> que com a minha mãe…. Vivia<br />

assim, ora cá ora lá… passei a a<strong>do</strong>lescência sempre com a minha avó por<br />

perto… depois, mais ou menos aos 10 anos, fui outra vez para a minha avó,<br />

até aos 14 anos, porque já tinha muitos problemas em casa com a minha<br />

mãe … não sei dizer se me sentia liga<strong>do</strong> a elas… acho que nunca respeitei<br />

muito o que me diziam… porque já an<strong>da</strong>va ―agarra<strong>do</strong>‖ e tinha muitos<br />

problemas com a minha mãe… por exemplo, não deixava que me<br />

contrariasse, não aceitava as regras dela… quan<strong>do</strong> falávamos, não<br />

respondia, mas só fazia o que eu queria … Depois, aos 15 anos, estava<br />

quase a fazer 16, a minha mãe saiu de casa. … depois eu passei a viver<br />

com a minha avó. (…) Com 16 anos, quase um ano passa<strong>do</strong>, eu entrei para<br />

esta comuni<strong>da</strong>de. A minha mãe não tinha possibili<strong>da</strong>des. Trabalhava e<br />

estu<strong>da</strong>va e não podia estar comigo. A minha tia e a minha avó quiseram<br />

aju<strong>da</strong>r. É <strong>da</strong> parte <strong>da</strong> minha mãe… nesse tempo a minha mãe não vivia<br />

com o meu pai … acho que deixou o meu pai pouco antes de eu nascer,<br />

porque ele foi toxicodependente … consumia. (…) O tempo em que vivi com<br />

a minha mãe, entre os 6 e os 7 anos, foi um tempo de mais afecto, mais<br />

alegria em casa … até aos 8 anos. Aos 8 anos ―agarrei-me‖ … comecei a<br />

consumir droga… queria fazer parte <strong>da</strong>quele grupo de amigos… to<strong>do</strong>s mais<br />

velhos… queria ser como eles… sempre consumi até vir para aqui… e fui<br />

marginal… com eles aprendi muito <strong>do</strong> que sei na vi<strong>da</strong> e com eles tirei<br />

muitos momentos de alegria…<br />

Acho que a minha família não queria ver, saber… claro que sabiam… mas<br />

tinham me<strong>do</strong>… me<strong>do</strong> <strong>da</strong> minha reacção… desconfiavam que eu me<br />

drogava… como já lhe disse, eu em casa calava-me mas depois vinha para<br />

a rua e só fazia disparates… agredia os outros, partia coisas, batia, era<br />

violento com to<strong>do</strong>s… fui eu que decidi ir viver com a minha avó porque a<br />

minha avó controlava-me menos … a minha mãe controlava-me muito<br />

mais… assim podia levar a minha vi<strong>da</strong> com o gangue sem que se<br />

apercebessem…<br />

Conheci o meu pai quan<strong>do</strong> era pequenino … mas não havia aquele afecto<br />

… só a partir <strong>do</strong>s meus 8 anos, o meu pai quan<strong>do</strong> soube que eu estava<br />

―agarra<strong>do</strong>‖ veio ter comigo … ele vivia com a minha avó e o meu tio … mas<br />

já não consumia há muitos anos… o meu pai faz um mês <strong>da</strong>qui a <strong>do</strong>is dias<br />

que morreu … o meu pai e minha mãe nunca viveram juntos …<br />

A minha mãe está na Bélgica há <strong>do</strong>is anos … foi trabalhar para uma<br />

empresa … a minha mãe viveu muitos anos com o pai <strong>da</strong> minha irmã … de<br />

6 anos… nunca me dei bem com o companheiro <strong>da</strong> minha mãe… fui eu que<br />

acabei com a relação deles … chegou a um ponto de violência … não era<br />

bem violência … maus tratos … mas agora <strong>do</strong>u-me bem com ele … <strong>do</strong>u-me<br />

bem com to<strong>do</strong>s … com a minha mãe nunca me dei mal, sempre me dei bem<br />

… é a pessoa que mais gosto no mun<strong>do</strong> … é ela e a minha irmã … a minha<br />

mãe foi sempre positiva para mim … a minha avó também … o meu pai<br />

também… Sentia ciúmes <strong>do</strong> meu padrasto … e um homem quan<strong>do</strong> sente<br />

ciúmes … é terrível … perde a cabeça … eu passava muito tempo agarra<strong>do</strong><br />

à minha mãe, aos abraços, e queria-a só para mim, e não o queria ali … e,<br />

por muito que eu estivesse com ela, nunca era suficiente, eu queria mais …<br />

e mais … e mais … e mais … nunca chegava …. A ele nunca o considerei<br />

nem pai nem padrasto, na<strong>da</strong> disso, era o Vítor …era intruso… eu tinha<br />

ciúmes e passei-me … comecei a stressar dentro de casa … mas não me<br />

101

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!