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Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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267<br />

Originários de famílias feri<strong>da</strong>s por grave incapaci<strong>da</strong>de de assegurar as<br />

tarefas <strong>da</strong> sua socialização, quase to<strong>do</strong>s foram reconduzi<strong>do</strong>s para estabelecimentos<br />

onde não lhes foram ofereci<strong>da</strong>s as condições indispensáveis, quer para reparar os<br />

acontecimentos traumáticos que perturbaram o seu desenvolvimento psíquico e social,<br />

quer para se apropriarem <strong>do</strong>s conhecimentos e construírem as estruturas cognitivas<br />

fun<strong>da</strong>mentais para poderem evoluir intelectual e culturalmente. Nessas instituições<br />

que os acolheram, após retira<strong>da</strong> <strong>da</strong> família, foi manifesto o insuficiente investimento na<br />

qualificação escolar e profissional e na criação de condições de comunicação<br />

emocional que potenciem a «experimentação emocional correctiva». Estabelecimentos<br />

onde os próprios profissionais que interagem quotidianamente com os a<strong>do</strong>lescentes<br />

não dispõem de formação científica e humana para se constituírem em figuras<br />

significativas e modelos de referência.<br />

À luz <strong>da</strong> teoria <strong>da</strong> identi<strong>da</strong>de de Erikson podemos concluir que os dilemas e<br />

tensões próprios de ca<strong>da</strong> estádio de desenvolvimento não puderam ser supera<strong>do</strong>s e<br />

que as inconsistências <strong>da</strong> sua organização interna começaram a ocorrer em fase<br />

muito precoce <strong>da</strong>s suas existências.<br />

Diz este autor que o desenvolvimento <strong>da</strong> identi<strong>da</strong>de se processa em estreita<br />

relação interactiva entre o indivíduo e o seu ambiente 272 , sen<strong>do</strong> que, o a<strong>do</strong>lescente<br />

dificilmente poderá construir uma identi<strong>da</strong>de sóli<strong>da</strong> se a imagem que possui de si<br />

mesmo e a imagem que os outros lhe restituem não for positiva. Ficará mergulha<strong>do</strong><br />

numa certa alienação, forman<strong>do</strong> o que Erikson intitula identi<strong>da</strong>de difusa 273 , isto é, uma<br />

identi<strong>da</strong>de impregna<strong>da</strong> de falta de auto-estima, impulsivi<strong>da</strong>de e conformismo. As<br />

profun<strong>da</strong>s rupturas no processo socializa<strong>do</strong>r, designa<strong>da</strong>mente devi<strong>do</strong> à inconsistência<br />

ou ambivalência <strong>do</strong>s laços afectivos com outros significativos, em particular com os<br />

progenitores ou outros adultos 274 , familiares ou não, geraram fortes vulnerabili<strong>da</strong>des<br />

no processo de formação <strong>da</strong> sua identi<strong>da</strong>de. To<strong>da</strong>via, este autor sustenta que é<br />

possível reparar as falhas que ocorreram na construção identitária por força <strong>da</strong><br />

inexistência de condições adequa<strong>da</strong>s à resolução <strong>do</strong>s conflitos, desafios e tensões<br />

próprios <strong>do</strong> desenvolvimento <strong>do</strong> ser humano, desde que sejam estabeleci<strong>da</strong>s as<br />

condições necessárias e adequa<strong>da</strong>s à sua resolução.<br />

Reportan<strong>do</strong>-nos a distintas linhas de pesquisa que têm vin<strong>do</strong> a ser<br />

desenvolvi<strong>da</strong>s 275 , a reparação <strong>da</strong> desintegração <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de interioriza<strong>da</strong> ao longo <strong>do</strong><br />

272<br />

Norman Sprinthall,e Andrews Collins, Psicologia <strong>do</strong> A<strong>do</strong>lescente- Uma abor<strong>da</strong>gem desenvolvimentista,<br />

Fun<strong>da</strong>ção Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1999<br />

273<br />

Erik Erikson, Psicologia <strong>do</strong> A<strong>do</strong>lescente- Uma abor<strong>da</strong>gem desenvolvimentista,capítulo V, Fun<strong>da</strong>ção<br />

Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1999, págs. 192-195<br />

274<br />

René Zazzo, ―A Vinculação – Uma nova Teoria sobre a origem <strong>da</strong> afectivi<strong>da</strong>de‖ in op.cit., pág. 35<br />

275<br />

Nuno Torres e João Paulo Ribeiro (org.) , A Pedra e o Charco - Sobre o conhecimento e intervenção<br />

nas drogas, Íman Edições, Alma<strong>da</strong>, 2001

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