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Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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socialização para outras instituições não pode deixar de esvaziar em alguma medi<strong>da</strong> o<br />

significa<strong>do</strong> <strong>da</strong>s funções paterna e materna. Por seu turno, a própria institucionalização<br />

de muitas crianças logo que nascem, ou em i<strong>da</strong>de muito precoce, o «bebé-creche» e a<br />

«criança-infantário», com o correlativo encurtamento <strong>do</strong> tempo disponível <strong>do</strong>s pais,<br />

não deixará de induzir acresci<strong>da</strong>s dificul<strong>da</strong>des no que toca à sedimentação de vínculos<br />

familiares sóli<strong>do</strong>s e estruturantes <strong>do</strong> devir humano.<br />

Neste contexto, em que a emancipação feminina joga um papel central,<br />

desenvolveram-se concepções educativas algo para<strong>do</strong>xais e manifestamente<br />

contraditórias. Compensar a falta de disponibili<strong>da</strong>de para uma conversa, a falta de<br />

disponibili<strong>da</strong>de para impor limites e suportar os conflitos que tal envolve, com consumo<br />

e mais consumo é uma prática que, de certo, pouco, ou na<strong>da</strong>, contribuirá para a<br />

coesão entre as gerações. A tu<strong>do</strong> isso acrescem as atitudes de superprotecção ou de<br />

super-apreciação <strong>do</strong>s filhos, suprimin<strong>do</strong> tu<strong>do</strong> o que possa representar conflito, mal-<br />

estar, incómo<strong>do</strong>, desvalorização, frustração. Assim é cria<strong>do</strong> um meio artificial onde a<br />

criança é impedi<strong>da</strong> de aprender, por experiência própria, a li<strong>da</strong>r com tais situações. ―A<br />

super-apreciação gera um escu<strong>do</strong> narcísico que não favorece o desenvolvimento de<br />

um narcisismo normal‖ 61 . Pensan<strong>do</strong> preservar os filhos de tu<strong>do</strong> o que é risco, os pais<br />

de hoje precipitam os seus filhos no maior de to<strong>do</strong>s: o risco de não haverem corri<strong>do</strong><br />

risco algum.<br />

É sabi<strong>do</strong> que em termos de origem social, os toxicodependentes se<br />

diversificam consideravelmente, pelo que se poderá concluir que estamos em<br />

presença de um fenómeno transversal a to<strong>da</strong>s as classes sociais. Tanto ocorre em<br />

jovens oriun<strong>do</strong>s de famílias <strong>da</strong>s classes médias e altas, como em jovens provenientes<br />

de grupos socialmente mais vulneráveis como é o caso <strong>do</strong>s que se integram nas<br />

categorias <strong>do</strong>s pobres e <strong>do</strong>s excluí<strong>do</strong>s. Pena não existirem estu<strong>do</strong>s que se tenham<br />

interessa<strong>do</strong> em explorar as possíveis especifici<strong>da</strong>des que toma o fenómeno nos<br />

jovens <strong>da</strong>s diversas classes sociais. Será a sua origem exactamente a mesma? Os<br />

problemas que precipitam o consumo são idênticos? Os problemas familiares serão <strong>do</strong><br />

mesmo tipo?<br />

Procuran<strong>do</strong> encontrar as relações entre funcionamento familiar e<br />

toxicodependência, Manuela Fleming cita <strong>do</strong>is modelos de separação no seio <strong>do</strong><br />

sistema familiar: o modelo centrípeto e o modelo centrífugo, que corresponderiam às<br />

vicissitudes extremas deste processo. O modelo familiar centrípeto corresponde<br />

àquelas famílias, ―altamente captativas e aglutina<strong>do</strong>ras <strong>do</strong>s seus membros‖, onde os<br />

comportamentos infantis <strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes são gratifica<strong>do</strong>s, e onde os ―movimentos de<br />

61 Manuela Fleming, Família e Toxicodependência, op. cit., pág. 59.<br />

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