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Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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níveis de integração, que o mesmo é dizer, segun<strong>do</strong> uma multiplici<strong>da</strong>de de<br />

estratificações.<br />

337<br />

De facto, os indivíduos operam uma selecção <strong>do</strong>s elementos <strong>do</strong> ―nós‖<br />

quan<strong>do</strong> designam assim a sua família e o seu círculo de amigos, as ci<strong>da</strong>des e aldeias<br />

que habitam, os grupos nacionais. O envolvimento que se exprime através <strong>do</strong><br />

emprego <strong>do</strong> pronome ―nós‖ é geralmente mais forte quan<strong>do</strong> se trata <strong>da</strong> família, <strong>da</strong><br />

comuni<strong>da</strong>de local ou regional e <strong>da</strong> pertença nacional. Para Elias, os homens aspiram a<br />

encontrar outros homens, têm necessi<strong>da</strong>de uns <strong>do</strong>s outros para satisfazer aspirações<br />

afectivas, alguns procuram fixar-se, outros, pelo contrário, desenvolvem a procura de<br />

um ponto de ancoragem à imagem <strong>do</strong> homem aberto à descoberta de contactos e de<br />

relações susceptíveis de lhe trazer uma estimulação emocional. Por relação a<br />

Durkheim, para quem os laços sociais nas socie<strong>da</strong>des modernas dependem <strong>da</strong> divisão<br />

<strong>do</strong> trabalho e <strong>da</strong> complementari<strong>da</strong>de orgânica <strong>do</strong>s homens, Elias, sem pôr em questão<br />

esta interpretação, sublinha que é preciso integrar na análise sociológica as<br />

interdependências pessoais e, sobretu<strong>do</strong>, as ligações emocionais como factores de<br />

laço social. Ora, tomar em conta os laços afectivos pessoais conduz a analisar o<br />

conjunto <strong>da</strong> rede relacional <strong>do</strong> indivíduo como uma teia teci<strong>da</strong> a partir dele e<br />

constitutiva <strong>do</strong> seu eu.<br />

O autor nota que quan<strong>do</strong> as uni<strong>da</strong>des sociais se expandem, os laços<br />

afectivos já não se fixam somente nas pessoas, mas, ca<strong>da</strong> vez mais frequentemente,<br />

sobre símbolos próprios de uni<strong>da</strong>des maiores, os emblemas, as bandeiras e outros<br />

conceitos carrega<strong>do</strong>s de afectivi<strong>da</strong>de. Ponto fun<strong>da</strong>mental na análise <strong>do</strong>s laços sociais<br />

é que os laços emocionais que ligam os indivíduos não dizem exclusivamente respeito<br />

às relações interpessoais e às interacções de face a face, mas compreendem,<br />

igualmente o investimento em símbolos comuns que constituem o cimento <strong>do</strong>s grupos<br />

e <strong>da</strong>s uni<strong>da</strong>des de grande dimensão, como, por exemplo, os Esta<strong>do</strong>s nacionais.<br />

A fixação de emoções e afectos individuais nas grandes uni<strong>da</strong>des nacionais<br />

é, muitas vezes, tão intensa como a fixação numa pessoa ama<strong>da</strong>. Também nesse<br />

caso, o indivíduo que se investiu é perturba<strong>do</strong> no mais profun<strong>do</strong> de si quan<strong>do</strong> a<br />

uni<strong>da</strong>de social, tão ama<strong>da</strong>, é destruí<strong>da</strong> ou venci<strong>da</strong>, quan<strong>do</strong> o seu valor e digni<strong>da</strong>de se<br />

afun<strong>da</strong>m. Dito de outro mo<strong>do</strong>, para Elias, o laço afectivo não é propriamente um laço<br />

distinto <strong>do</strong>s outros, mas mais uma dimensão constitutiva <strong>do</strong> próprio laço. Assim, uma<br />

vez que as emoções são inseparáveis <strong>da</strong> formação <strong>do</strong> ―nós‖ elas devem ser toma<strong>da</strong>s<br />

em conta enquanto tais na análise <strong>do</strong>s diferentes tipos de laços.<br />

Examinan<strong>do</strong> as diferentes configurações que suscitam este laço, o autor<br />

constata que o laço social cria um tipo de uni<strong>da</strong>de que controla severamente a<br />

violência física nas relações internas <strong>do</strong> grupo, mas que ensina a servir-se dele e,

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