17.04.2013 Views

Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto

Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto

Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

a desviância resulta de uma falha de integração entre partes <strong>da</strong> estrutura social<br />

(normas, objectivos e recursos). Isto é, resulta de um esta<strong>do</strong> anormal produzi<strong>do</strong> por<br />

circunstâncias extraordinárias. Os teóricos <strong>do</strong> conflito, porém, vêem a desviância como<br />

um produto inevitável <strong>da</strong> competição na socie<strong>da</strong>de, na qual os grupos têm diferentes<br />

acessos aos recursos escassos. Sugerem que o desenvolvimento <strong>do</strong> processo de<br />

competição deve ser o foco real <strong>do</strong>s estu<strong>do</strong>s <strong>da</strong> desviância. Segun<strong>do</strong>, a crítica <strong>da</strong> tese<br />

de Merton de que o desvio é mais característico <strong>da</strong>s classes baixas. É evidente que<br />

muitas pessoas <strong>da</strong> classe baixa estão capacita<strong>da</strong>s para ajustar suficientemente a<br />

desci<strong>da</strong> <strong>do</strong>s seus objectivos de forma a serem capazes de os atingir por via de meios<br />

respeitáveis. Além disso, há grande evidência de que muitos indivíduos bem<br />

sucedi<strong>do</strong>s ajustam os seus objectivos tão alto, a ponto de não poderem atingi-los por<br />

meios legítimo, evidencian<strong>do</strong> que a discrepância entre meios e objectivos não é<br />

limita<strong>da</strong> à classe baixa. Apesar destas críticas, os sociólogos continuam a achar esta<br />

teoria bastante interessante e útil como uma explicação <strong>da</strong> desviância, desde logo<br />

porque sustenta o ponto de vista de que é a socie<strong>da</strong>de, não o indivíduo, a causa <strong>da</strong><br />

desviância.<br />

216<br />

Aplica<strong>da</strong> à análise <strong>da</strong> questão <strong>da</strong> toxicodependência, esta abor<strong>da</strong>gem<br />

teórica conduz-nos à formulação de algumas novas interrogações susceptíveis de<br />

aprofun<strong>da</strong>r a compreensão <strong>do</strong>s factores e relações que estão na origem <strong>da</strong><br />

dependência de drogas.<br />

Serão as predisposições para o consumo de drogas indistintamente<br />

as mesmas nos indivíduos originários <strong>da</strong>s classes mais <strong>do</strong>ta<strong>da</strong>s em capitais<br />

económico, cultural, social e simbólico e nos que her<strong>da</strong>ram uma posição<br />

destituí<strong>da</strong> de to<strong>do</strong>s esses capitais?<br />

Se, no caso <strong>do</strong>s jovens priva<strong>do</strong>s <strong>da</strong>s possibili<strong>da</strong>des de conquistar um<br />

lugar social, a toxicodependência pode ser o desfecho <strong>da</strong> frustração profun<strong>da</strong> que<br />

decorre <strong>da</strong> morte social, pode ser a única via possível para suportar uma reali<strong>da</strong>de<br />

insuportável, qual será a frustração profun<strong>da</strong> que atinge a vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>queles que nunca<br />

foram priva<strong>do</strong>s desses recursos? Como explicar que a toxicodependência se expan<strong>da</strong><br />

entre jovens que, ao contrário <strong>da</strong> privação, conhecem a abundância, a satisfação<br />

quase ilimita<strong>da</strong> de vontades e desejos?

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!