Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto
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modelo interno de vinculação 89 condiciona a interiorização de sistemas de regras que,<br />
não só servem para orientar comportamentos e sentimentos, como, também,<br />
estruturam a organização e direcção <strong>da</strong> atenção, <strong>da</strong> memória e <strong>da</strong> cognição, os<br />
autores acima cita<strong>do</strong>s propuseram-se identificar as distintas 90 organizações <strong>da</strong><br />
vinculação 91 .<br />
As investigações permitiram identificar três tipos de organização<br />
comportamental: inseguro–evitante; seguro; inseguro–resistente ou ambivalente 92 .<br />
No adulto, o tipo de organização insegura–desliga<strong>da</strong> expressa-se através<br />
<strong>da</strong> tendência para desactivar o sistema de vinculação através <strong>da</strong> exclusão de<br />
informação relevante sobre esta matéria. Nos indivíduos que experienciaram este tipo<br />
organização encontra-se uma atitude de sistemática desvalorização <strong>da</strong>s relações e<br />
experiências <strong>da</strong> vinculação. A sua história pessoal é recor<strong>da</strong><strong>da</strong> de forma imprecisa,<br />
com referência a conteú<strong>do</strong>s muito reduzi<strong>do</strong>s sobre a vinculação. É frequente, durante<br />
a entrevista, manifestarem profun<strong>do</strong>s hiatos, no senti<strong>do</strong> de se poderem verificar graves<br />
contradições, entre as situações recor<strong>da</strong><strong>da</strong>s e descritas como relevantes e os<br />
discursos que proferem numa avaliação global. São ain<strong>da</strong> comuns as atitudes de<br />
negação <strong>do</strong> sofrimento quan<strong>do</strong> se reportam às experiências negativas, bem como não<br />
admitem quaisquer interferências ou efeitos desses acontecimentos no seu processo<br />
de desenvolvimento pessoal.<br />
89<br />
Main, Kaplan & Goldwyn: cit in Soares & Macha<strong>do</strong>, ―Avaliação <strong>da</strong> Vinculação em Jovens e Adultos‖,<br />
1985, op. cit., págs. 60 a 62.<br />
90<br />
Main, & Goldwyn,: cit in Soares & Macha<strong>do</strong>, ―Avaliação <strong>da</strong> Vinculação em Jovens e Adultos‖, 1988 e<br />
1993 op.cit., pág. 63.<br />
91<br />
Cf. In Isabel Soares, ―Vinculação: Questões Teóricas, Investigação e Implicações Clínicas‖ op. cit. págs.<br />
56 e seguintes.<br />
92<br />
Cf. In Isabel Soares, ―Vinculação: Questões Teóricas, Investigação e Implicações Clínicas‖ op. cit.,<br />
págs. 43-44. “Na criança, o tipo de organização insegura – evitante caracteriza-se pelo pre<strong>do</strong>mínio <strong>do</strong><br />
comportamento exploratório sobre o comportamento de vinculação. O bebé ignora a figura de vinculação,<br />
afastan<strong>do</strong>-se dela, expressan<strong>do</strong> uma recusa manifesta em estabelecer proximi<strong>da</strong>de com ela. À luz <strong>da</strong>s<br />
investigações conduzi<strong>da</strong>s por Ainsworth, estes bebés experimentaram situações de rejeição por parte <strong>da</strong><br />
figura de vinculação. A marca mais característica <strong>da</strong> organização <strong>do</strong> comportamento <strong>do</strong>s bebés evitantes<br />
consiste no forte conflito que desenvolvem entre aproximação e evitamento. A frustração gera<strong>da</strong> quan<strong>do</strong><br />
não consegue atingir os objectivos que suscitaram o comportamento de vinculação expressa-se<br />
frequentemente por manifestações de raiva e agressivi<strong>da</strong>de dirigi<strong>da</strong>s, contu<strong>do</strong>, não para a mãe ou a figura<br />
de vinculação, mas para objectos.<br />
Para estes bebés, o contacto corporal tende, frequentemente, a ter associações desagradáveis, o que<br />
poderá contribuir para experienciarem um conflito entre aproximação e evitamento: uma estratégia de<br />
procura de contacto poderá ter como consequência uma experiência de rejeição e causar um conflito<br />
<strong>do</strong>loroso e, por isso, em vez de procura de contacto, tenderá a existir evitamento. Neste senti<strong>do</strong>, o<br />
evitamento <strong>da</strong> figura de vinculação poderá ser concebi<strong>do</strong> como uma estratégia de desactivação <strong>do</strong><br />
comportamento de vinculação por me<strong>do</strong> de rejeição. A desactivação é, pois, o mo<strong>do</strong> como estes bebés<br />
li<strong>da</strong>m com o sistema de vinculação. Os bebés que conheceram experiências de vinculação securizantes<br />
caracterizam-se por uma alternância equilibra<strong>da</strong> entre comportamentos de vinculação e de exploração. A<br />
figura de vinculação é vivi<strong>da</strong> e senti<strong>da</strong> como uma base segura a partir <strong>da</strong> qual o bébe é capaz de<br />
regressar à exploração <strong>do</strong> meio, tanto na sua ausência como na sua presença. Embora manifeste um<br />
declínio <strong>do</strong>s comportamentos exploratórios sempre que a figura de vinculação se ausenta, poden<strong>do</strong><br />
mesmo manifestar protestos perante esse acontecimento, quan<strong>do</strong> a figura de vinculação regressa o bébé<br />
desencadeia inicialmente comportamentos de proximi<strong>da</strong>de e, de segui<strong>da</strong>, retoma a exploração <strong>do</strong> meio.<br />
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