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Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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Norbert Elias analisaram o laço social nas socie<strong>da</strong>des modernas como o<br />

entrecruzamento de vários laços, haven<strong>do</strong> assinala<strong>do</strong> que o indivíduo diversifica as<br />

suas pertenças. A complementari<strong>da</strong>de e interdependência funcional é o que permite<br />

desenvolver a consciência <strong>da</strong> individuali<strong>da</strong>de. Tal como Durkheim, Simmel observa<br />

que a passagem <strong>do</strong> artesanato para a fábrica ocasionou uma intensa diferenciação de<br />

grupos ao mesmo tempo que fomentou a individualização crescente <strong>do</strong>s seus<br />

membros. A reconheci<strong>da</strong> importância deste autor para a análise <strong>do</strong>s laços sociais<br />

reside sobretu<strong>do</strong> na sua concepção <strong>do</strong>s indivíduos como ―seres em ligação‖, seres<br />

que ―separam o que está liga<strong>do</strong> e ligam o que está separa<strong>do</strong> 212 . Falar de socie<strong>da</strong>de é<br />

falar de laço social e falar de laço social é, antes de tu<strong>do</strong>, partir <strong>da</strong> constatação de que<br />

o que liga os indivíduos são as influências e as determinações que estes vivem em<br />

comum 213 .<br />

218<br />

Simmel observa que é preciso reter as relações entre os grupos a que os<br />

indivíduos pertencem, poden<strong>do</strong> ocorrer duas situações distintas, ca<strong>da</strong> uma delas com<br />

consequências, igualmente distintas, no que respeita à construção <strong>da</strong> identi<strong>da</strong>de<br />

individual. Se os grupos se organizam de forma concêntrica, encolhen<strong>do</strong><br />

progressivamente <strong>da</strong> nação até ao território mais próximo, passan<strong>do</strong> pelo estatuto<br />

profissional, a freguesia, o bairro, pode concluir-se que o indivíduo faz igualmente<br />

parte de to<strong>do</strong>s, <strong>do</strong> mais restrito ao mais amplo, realizan<strong>do</strong> em ca<strong>da</strong> um deles uma<br />

função específica. Mas se os círculos são justapostos e, por consequência,<br />

independentes, a identi<strong>da</strong>de <strong>do</strong> indivíduo pode tornar-se plural, uma vez que só ele<br />

pode encontrar as conexões entre os diferentes grupos em que participa.<br />

Na análise de Simmel, a construção concêntrica de círculos foi uma etapa<br />

intermédia <strong>do</strong> processo histórico que conduziu à actual situação de justaposição.<br />

Nesta, os indivíduos são leva<strong>do</strong>s a realizar experiências sucessivas no curso <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>,<br />

a maior parte <strong>da</strong>s quais não previsíveis, e a estabelecer progressivamente<br />

comunicação entre as novas associações e os primeiros laços que os determinaram<br />

unilateralmente na sua infância. A distância normativa entre os diferentes círculos a<br />

que pertencem pode ser mais ou menos grande. No caso de uma ascensão social<br />

rápi<strong>da</strong>, essa distância é particularmente forte, obrigan<strong>do</strong> a modificar os<br />

212 Serge Paugam, Le Lien Social, PUF, Paris, 2008<br />

213 Serge Paugam, Le Lien Social, op.cit., pág. 53 ―O número eleva<strong>do</strong> de círculos a que o indivíduo pode<br />

pertencer é um <strong>do</strong>s indica<strong>do</strong>res <strong>da</strong> cultura. ― se o homem moderno pertence desde logo à família <strong>do</strong>s seus<br />

pais, depois à família que fun<strong>do</strong>u e, ain<strong>da</strong>, à <strong>da</strong> sua mulher, ao seu ofício que, por seu turno, o integra em<br />

vários círculos de interesses (...) se está consciente de pertencer a uma nacionali<strong>da</strong>de e a uma certa<br />

classe social, se faz parte de algumas associações, pode dizer-se que pertence a uma grande varie<strong>da</strong>de<br />

de grupos‖..

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