Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto
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interrogações <strong>do</strong> entrevista<strong>do</strong> depende, em boa medi<strong>da</strong>, a possibili<strong>da</strong>de de construir<br />
as condições que tornam possível uma relação de pesquisa o mais próxima possível<br />
<strong>da</strong> escuta activa e metódica 112 .<br />
A compreensão exigi<strong>da</strong> para que a problemática proposta e os interesses<br />
<strong>do</strong> investiga<strong>do</strong>r ganhem senti<strong>do</strong> efectivo para o inquiri<strong>do</strong>, não só requer que as<br />
questões sejam inteligíveis para o inquiri<strong>do</strong>, que a entrevista se processe num clima<br />
de confiança e com implicação <strong>do</strong> inquiri<strong>do</strong>r, como, acima de tu<strong>do</strong>, que o entrevista<strong>do</strong>r<br />
revele uma atitude de atenção, abertura e disponibili<strong>da</strong>de para o outro, ou seja,<br />
constitua o inquiri<strong>do</strong> no centro de interesse, fican<strong>do</strong> o inquiri<strong>do</strong>r numa situação de<br />
―invisibili<strong>da</strong>de‖.<br />
Aparentemente para<strong>do</strong>xal, esta atitude ganha expressão na capaci<strong>da</strong>de<br />
<strong>do</strong> inquiri<strong>do</strong>r formular questões que, retoma<strong>da</strong>s pelo inquiri<strong>do</strong> e perante as suas<br />
respostas, possam suscitar a formulação de muitas outras interrogações, numa<br />
situação não prevista. Trata-se, afinal, <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong>de <strong>do</strong> inquiri<strong>do</strong>r deixar fluir a<br />
relação, saben<strong>do</strong> ajustar as perguntar pertinentes ao ritmo, sentimentos e filosofia de<br />
acção <strong>do</strong> próprio inquiri<strong>do</strong>, de ―salvaguar<strong>da</strong>r o pre<strong>do</strong>mínio <strong>da</strong> escuta sobre o saber já<br />
feito: escuta que passa também pela valorização interpretativa <strong>do</strong>s silêncios‖ 113 .<br />
Sen<strong>do</strong> a memória afectiva, a situação de entrevista provoca, não raro, o<br />
revisitar de acontecimentos onde os sentimentos são revivi<strong>do</strong>s tão intensamente como<br />
se os factos estivessem, aqui e agora, presentes. A capaci<strong>da</strong>de <strong>do</strong> inquiri<strong>do</strong>r estar<br />
atento à situação <strong>da</strong> pessoa interroga<strong>da</strong>, para saber ouvir e improvisar questões<br />
pertinentes em função <strong>da</strong>s formulações <strong>do</strong> inquiri<strong>do</strong>, para saber esperar a<br />
oportuni<strong>da</strong>de de introduzir novas questões, para se ―anular‖ perante a expressão <strong>do</strong><br />
sentimento <strong>do</strong> vivi<strong>do</strong> <strong>do</strong> outro, é um saber prático através <strong>do</strong> qual o inquiri<strong>do</strong>r revela,<br />
em concreto, o interesse, compreensão e afecto investi<strong>do</strong>s na relação de interacção.<br />
Esta é, de resto, uma <strong>da</strong>s situações que exemplificam como o processo<br />
de comunicação, numa situação de interacção entre investiga<strong>do</strong>r e investiga<strong>do</strong>, exige<br />
uma constante ligação entre problemas práticos e teóricos.<br />
Trazen<strong>do</strong> de novo à discussão o estu<strong>do</strong> que realizamos, salientamos, a<br />
propósito, que a opção pela entrevista semi-estrutura<strong>da</strong> e aberta e pela recolha <strong>do</strong>a<br />
<strong>da</strong><strong>do</strong>s em mais <strong>do</strong> que um momento, incluin<strong>do</strong> sempre entrevistas prévias, de<br />
conhecimento e ―aquecimento‖, inscreveu-se, justamente, na convicção de que esta<br />
técnica permite criar um espaço para o desenvolvimento de uma relação de confiança,<br />
<strong>da</strong>n<strong>do</strong> lugar ao indivíduo para ir lançan<strong>do</strong> as questões que foram retoma<strong>da</strong>s pela<br />
entrevista<strong>do</strong>ra em função <strong>do</strong>s <strong>do</strong>mínios de conhecimento pré-estabeleci<strong>do</strong>s.<br />
Constituiu, com efeito, objectivo <strong>da</strong>s entrevistas prévias estabelecer uma primeira<br />
112 Pierre Bourdieu,: op. cit. p. 907.<br />
113 J. Macha<strong>do</strong> Pais : ―Dos relatos aos conteú<strong>do</strong>s de vi<strong>da</strong>‖ in Ganchos, Tachos e Biscates – Jovens,<br />
trabalho e futuro, capítulo 4, Ambar, 2001, <strong>Porto</strong>.<br />
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