17.04.2013 Views

Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto

Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto

Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

é traficante e que já esteve duas vezes preso. Sobre a sua vi<strong>da</strong> diz que se pode<br />

traduzir num poema que ―inventou‖ para ser canta<strong>do</strong> em ritmo ―Rap‖.<br />

―Pouco amor e pouca graça<br />

Tranca<strong>do</strong> num quarto<br />

Não lamentava o amor nem a<br />

desgraça<br />

Foi assim que eu me aguentei<br />

Destino cruel, destino diabólico<br />

Tu não imaginas o que é ter um<br />

pai alcoólico<br />

Mãe que sofreste, mãe que<br />

ain<strong>da</strong> choras<br />

Mãe que me criaste<br />

Mãe que ain<strong>da</strong> me a<strong>do</strong>ras.<br />

Escola <strong>da</strong> vi<strong>da</strong><br />

Nunca deu resulta<strong>do</strong>s<br />

Apenas aflições<br />

E momentos descontrola<strong>do</strong>s<br />

Eu quero esquecer<br />

Mas não sou capaz<br />

Porque o passa<strong>do</strong> não me deixa<br />

em paz<br />

Trágicas memórias<br />

De um puto que sofreu<br />

E esse puto sou eu.‖<br />

(Virgílio)<br />

109<br />

Durante to<strong>da</strong> a nossa conversa, Virgílio mostra claramente que as<br />

circunstâncias muito particulares <strong>da</strong> sua entra<strong>da</strong> na vi<strong>da</strong> suscitam nele uma enorme<br />

vergonha, tão grande a ponto de afirmar que não quer sequer saber o que levou a<br />

mãe a praticar um crime, que jamais lhe irá perguntar. Um pouco como se esta quase<br />

negação <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de pudesse preservar um pouco a imagem <strong>da</strong> mãe cujo amor<br />

continua a idealizar.<br />

O seu testemunho leva a perguntar até que ponto é positivo para a<br />

criança, que nasce nestas condições, permanecer num contexto tão estigmatizante,<br />

tão carrega<strong>do</strong> de desvalorização, tão separa<strong>do</strong> <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> ―normal‖ no pressuposto de<br />

que um bebé não deve ser separa<strong>do</strong> <strong>da</strong> sua mãe biológica. A questão de saber o que<br />

é aconselhável para as crianças de mulheres que foram penaliza<strong>da</strong>s com longas<br />

sentenças foi debati<strong>da</strong> por vários teóricos, sen<strong>do</strong> relativamente consensual o<br />

reconhecimento <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>de de criar regimes alternativos à detenção em<br />

estabelecimento prisional, consoante as i<strong>da</strong>des <strong>da</strong>s crianças e o tempo de pena <strong>da</strong>s<br />

mães 140 .<br />

140 T. Berry Brazelton e Stanley I. Greenspan: A Criança e o seu mun<strong>do</strong>- requisitos essenciais para o<br />

crescimento e aprendizagem - Editorial Presença, 5ª edição, Lisboa, 2006, pág. 63 e 64.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!