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Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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torna o acesso à droga mais difícil. Neste senti<strong>do</strong>, os mecanismos sociais, que actuam<br />

para limitar a disponibili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> droga, limitam também o seu consumo.<br />

154<br />

To<strong>da</strong>via, a participação em grupos em que se fuma marijuana cria<br />

condições que tornam inoperantes as pressões que limitam o uso <strong>da</strong> droga. Esta<br />

participação reforça a sensibili<strong>da</strong>de aos controlos <strong>do</strong> grupo que utilizam a droga, o que<br />

empurra o fuma<strong>do</strong>r a recorrer a novas fontes de aprovisionamento. As mu<strong>da</strong>nças no<br />

mo<strong>do</strong> de aprovisionamento criam, por seu la<strong>do</strong>, as condições de uma progressão em<br />

direcção a uma utilização mais intensa. Pode, então, dizer-se que, numa situação em<br />

que a droga é distribuí<strong>da</strong> por vias ilegais, a pertença e a participação em grupos<br />

conduzem a modificações na intensi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> utilização <strong>da</strong> marijuana, agin<strong>do</strong> sobre o<br />

acesso a esta.<br />

Manuel<br />

―Comecei aos 11 anos a consumir haxixe e até aos 13 anos só consumi esta<br />

droga. Consumia na escola, em festas, aos fins-de-semana, em grupo de amigos<br />

e, às vezes, quan<strong>do</strong> tu<strong>do</strong> estava deita<strong>do</strong>, também consumia em casa. Comecei<br />

com a minha irmã e com um amigo dela… foram eles que me disseram se eu<br />

queria experimentar e eu quis… tive me<strong>do</strong>, mesmo me<strong>do</strong>, mas eles começaram<br />

a dizer-me que aquilo <strong>da</strong>va prazer, que me punha alegre, bem disposto, aliviava<br />

o esta<strong>do</strong> de espírito… eu an<strong>da</strong>va bem só que lembro-me que eles me disseram<br />

que aquilo fazia a pessoa an<strong>da</strong>r mais feliz, rir mais… e eu caí na asneira…<br />

Eu tinha me<strong>do</strong> porque já tinha ouvi<strong>do</strong> dizer que as drogas faziam mal e porque<br />

sabia que ia fazer qualquer coisa de mal, que não devia fazer, que era um risco,<br />

que ia contra as normas… mas mesmo assim alinhei, embora soubesse que era<br />

um risco… eles convenceram-me… mas eu também gostava de estar sempre a<br />

pisar os riscos…eu sempre gostei de brincadeiras que iam contra as regras,<br />

como por exemplo chatear polícias, queimar coisas, não cumprir com horários de<br />

chegar a casa, nem horários para estu<strong>da</strong>r, na<strong>da</strong>, embora tivesse respeito pelos<br />

meus pais e a minha avó… mas não tinha grandes limites…n aquela altura eu<br />

achava que as regras eram exigências a mais que eles me punham e não<br />

cumpria… embora às vezes me castigassem, só que eu contrariava sempre… às<br />

vezes castigavam e outras não. Dependia… mas quan<strong>do</strong> me castigavam era, por<br />

exemplo, impedir de sair no dia seguinte, ou não me <strong>da</strong>rem dinheiro para<br />

sair…só a minha mãe é que às vezes me batia.<br />

Não gostei <strong>da</strong>s primeiras experiências com a droga. Vomitava, não me sentia<br />

bem, ficava tonto, ganhava paranóias com o haxixe, <strong>do</strong> tipo de pensar que to<strong>da</strong>s<br />

as pessoas estavam a olhar para mim, não sabia o que se passava comigo…<br />

foram eles [a minha irmã e o amigo] que me ensinaram a preparar a droga, a<br />

preparar os filtros e assim, que insistiam para eu não desistir, dizen<strong>do</strong>-me que os<br />

efeitos eram só <strong>da</strong>s primeiras vezes, que depois que me habituasse eles iam<br />

desaparecer… e foi. Com eles consumi três ou quatro vezes, depois comecei a<br />

consumir sozinho e com um grupo de amigos que eram os meus companheiros<br />

<strong>da</strong> escola.<br />

As primeiras vezes que comecei a consumir era só ao fim-de-semana e uma vez<br />

ou duas durante a semana, quan<strong>do</strong> havia mais dinheiro. Mas era a minha irmã<br />

que me <strong>da</strong>va… não sei como ela arranjava mas ela, nessa altura, já trabalhava…<br />

outras vezes era com os amigos. Fazíamos uma colecta entre to<strong>do</strong>s, ca<strong>da</strong> um<br />

<strong>da</strong>va uns tantos euros e eu ia comprar… ia eu porque já conhecia os dealers…a<br />

minha irmã às vezes usava-me e dizia que íamos sair e íamos ter com o amigo

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