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Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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que eles têm um para o outro ou uns para os outros 220 . Bowlby admitiu que podem<br />

existir vinculações secundárias, mas os resulta<strong>do</strong>s <strong>da</strong>s suas investigações levaram-no<br />

a sublinhar a relação estreita entre a quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s vinculações vivi<strong>da</strong>s na primeira<br />

infância, nomea<strong>da</strong>mente entre a mãe e o filho, e a capaci<strong>da</strong>de deste para<br />

posteriormente estabelecer relações íntimas, equilibra<strong>da</strong>s e satisfatórias. O ―eu‖<br />

pressupõe, como Mead sublinhou, que a criança possa esperar que a pessoa ama<strong>da</strong><br />

lhe dê, de forma durável, o seu afecto. Se a criança não está segura <strong>do</strong> amor materno<br />

não lhe é possível adquirir confiança em si própria e enfrentar a solidão. Ao amor<br />

como forma de reconhecimento corresponde uma relação prática específica: a<br />

confiança em si.<br />

222<br />

O laço de participação electiva releva <strong>da</strong> socialização extra familiar no<br />

decurso <strong>da</strong> qual o indivíduo entra em contacto com outros indivíduos que conhece no<br />

quadro de grupos e instituições diversas: vizinhança, grupos de amigos, comuni<strong>da</strong>des<br />

locais, instituições religiosas, desportivas, culturais, etc. O carácter electivo deste laço<br />

deixa aos indivíduos a liber<strong>da</strong>de real de estabelecer relações interpessoais segun<strong>do</strong><br />

os seus desejos, aspirações e inclinações emocionais. Trata-se de um laço que<br />

remete para as várias formas de vinculação não constrange<strong>do</strong>ra, tais como, por<br />

exemplo, a formação <strong>do</strong> casal que faculta ao indivíduo a integração numa outra rede<br />

familiar e o correspondente alargamento <strong>do</strong> seu círculo de pertença. Enquanto que no<br />

laço de filiação, o indivíduo não tem liber<strong>da</strong>de de escolha, no laço de participação<br />

electiva ele dispõe de autonomia. To<strong>da</strong>via, esta liber<strong>da</strong>de é condiciona<strong>da</strong> por uma<br />

série de determinações sociais.<br />

A amizade pode ser publicamente evoca<strong>da</strong> e encoraja<strong>da</strong> mas não é<br />

objecto de regulamentação estrita. Apesar de ser socialmente reconheci<strong>da</strong> e<br />

valoriza<strong>da</strong> é percepciona<strong>da</strong> como desinteressa<strong>da</strong> e desliga<strong>da</strong> <strong>da</strong>s contingências<br />

sociais que caracterizam as outras formas de sociabili<strong>da</strong>de. A definição mais corrente<br />

de amigo remete para a função de protecção, alguém com quem se pode contar em<br />

caso de problema grave. Dos amigos é, igualmente, espera<strong>da</strong> uma relação de<br />

220 Serge Paugam, Le Lien Social, op.cit., pág. 66. ―O psiquiatra inglês John Bowlby‘ estu<strong>do</strong>u as<br />

diferentes etapas <strong>do</strong> desenvolvimento <strong>da</strong> vinculação entre a mãe e o filho. Considera que a partir <strong>do</strong>s sete<br />

meses esta relação de vinculação se torna clara. No curso deste perío<strong>do</strong>, as separações são fonte de<br />

angústia tanto a mãe representa para o filho uma pessoa insubstituível. A vinculação corresponde a uma<br />

conduta interactiva: a criança exprime-o de maneira inata ou instintiva — uma resposta à solicitude <strong>da</strong> sua<br />

mãe quan<strong>do</strong> ela lhe presta os cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s e a atenção de quem necessi<strong>da</strong>de de maneira vital. Pode-se<br />

então falar de pulsões de vinculação, a criança e a sua mãe sentem-se profun<strong>da</strong>mente liga<strong>da</strong>s uma à<br />

outra e este laço comporta uma dimensão afectiva. A vinculação que <strong>da</strong>í resulta constitui uma espécie de<br />

«marca». Esta fase de uni<strong>da</strong>de simbólica não é durável, ca<strong>da</strong> um <strong>do</strong>s parceiros deve adquirir<br />

progressivamente a sua própria independência. A criança deve desenvolver progressivamente a sua<br />

capaci<strong>da</strong>de de ser único, ela deve tomar consciência de que o amor materno é durável e sóli<strong>do</strong> e que<br />

pode, apesar <strong>da</strong> separação temporária, apoiar-se sobre este laço intersubjectivo para satisfazer as suas<br />

exigências pessoais‖.

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