17.04.2013 Views

Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto

Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto

Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

De facto, basta atentar nas tremen<strong>da</strong>s dificul<strong>da</strong>des que hoje enfrentam os<br />

jovens a respeito <strong>da</strong> inserção profissional, <strong>da</strong> criação <strong>do</strong> seu próprio lar, <strong>da</strong> existência<br />

de referências sóli<strong>da</strong>s em matéria de valores morais que favoreçam uma imagem<br />

positiva <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> para não nos surpreendermos com as estranhas formas de<br />

descoberta <strong>da</strong> ―ver<strong>da</strong>deira vi<strong>da</strong>‖, hoje tão frequentes entre os jovens. Referimo-nos a<br />

activi<strong>da</strong>des lúdicas como as “rave parties” ou outras experiências radicais que põem a<br />

própria vi<strong>da</strong> em risco e de que o uso de estupefacientes é apenas um exemplo.<br />

A procura desvaira<strong>da</strong> <strong>do</strong> prazer, para utilizar as palavras <strong>do</strong> autor, sem<br />

discernir racionalmente sobre os reais constrangimentos que se impõem à existência,<br />

que está entre os factores mais determinantes <strong>do</strong> recurso maciço à droga entre os<br />

jovens, é o sintoma alarmante de uma evasão colectiva para o imaginário, de uma<br />

atracção pelas sensações mais extremas. E é nesse contexto ideológico que certas<br />

representações sobre a droga elegem a afirmação <strong>da</strong> liber<strong>da</strong>de individual, a procura<br />

<strong>do</strong> prazer, o convívio com os outros ou a fuga à vi<strong>da</strong> vazia de senti<strong>do</strong> que se leva<br />

como as motivações mais fortes que estão na base <strong>do</strong>s consumos.<br />

Diz Anatrella que ―as representações veicula<strong>da</strong>s pelos media e pelos<br />

a<strong>do</strong>lescentes fazem ca<strong>da</strong> vez mais <strong>da</strong> droga um percurso obrigatório para um bem -<br />

estar que a maioria deles não aprendeu a descobrir de outra maneira‖ 51 . Na reali<strong>da</strong>de,<br />

essas representações não são mais <strong>do</strong> que uma espécie de conformismo face aos<br />

riscos sociais que fazem hoje parte <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> <strong>do</strong>s ci<strong>da</strong>dãos <strong>da</strong>s modernas socie<strong>da</strong>des<br />

mais desenvolvi<strong>da</strong>s. A quase naturalização <strong>do</strong> fenómeno leva a considerar que na<strong>da</strong><br />

mais resta fazer <strong>do</strong> que aprender a viver com a droga e estar simplesmente atentos à<br />

redução <strong>do</strong>s seus riscos. Na<strong>da</strong> mais será possível fazer <strong>do</strong> que nos habituarmos a<br />

li<strong>da</strong>r com o problema, <strong>do</strong> mesmo mo<strong>do</strong> que no caso de uma <strong>do</strong>ença crónica não é<br />

possível fugir à dependência química de certos medicamentos.<br />

Para compreender com mais profundi<strong>da</strong>de essa degra<strong>da</strong>ção moral que<br />

se expande sem cessar nas modernas socie<strong>da</strong>des desenvolvi<strong>da</strong>s e democráticas,<br />

Tony Anatrella dedica algumas páginas à questão <strong>da</strong> deslocação e <strong>do</strong><br />

desaparecimento <strong>do</strong> interdito. Segun<strong>do</strong> ele, vem-se assistin<strong>do</strong>, nos últimos anos, a<br />

uma deslocação <strong>do</strong>s interditos, poden<strong>do</strong> dizer-se que, entre os a<strong>do</strong>lescentes, o<br />

interdito sexual foi substituí<strong>do</strong> pelo interdito <strong>da</strong> droga. De facto, o aban<strong>do</strong>no <strong>da</strong>s<br />

reservas relativamente à passagem ao acto sexual por parte <strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes e a<br />

disponibilização <strong>do</strong>s meios técnicos compatíveis com a contracepção e o aborto, sem<br />

intervenção <strong>da</strong>s figuras parentais, criaram as condições que remetem para os jovens a<br />

responsabili<strong>da</strong>de de se desenvencilharem e de sozinhos identificarem os seus desejos<br />

e sentimentos.<br />

51 Tony Anatrella, Liber<strong>da</strong>de Destruí<strong>da</strong>, op. cit., p. 23.<br />

40

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!