17.04.2013 Views

Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto

Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto

Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

289<br />

De facto, o meio escolar representa o primeiro grande confronto não<br />

somente com a diferença, mas irremediavelmente com a inferiori<strong>da</strong>de, sentimento que,<br />

muitas vezes, é reforça<strong>do</strong> pela própria comuni<strong>da</strong>de educativa. Na escola, não raro os<br />

problemas comportamentais e de aprendizagem são associa<strong>do</strong>s às disfunções <strong>da</strong> vi<strong>da</strong><br />

familiar. Se as expectativas <strong>do</strong>s adultos são baixas, as crianças tendem a integrar a<br />

imagem desvaloriza<strong>da</strong> de si próprias que lhes é devolvi<strong>da</strong> pelos outros e a incorporar<br />

os correspondentes sentimentos de inferiori<strong>da</strong>de. Como tivemos ocasião de verificar<br />

em pontos anteriores, o percurso escolar <strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes em questão revela um<br />

profun<strong>do</strong> desinteresse pela aprendizagem, uma profun<strong>da</strong> desafeição pela escola e um<br />

alheamento face às vantagens que dela possam resultar para a vi<strong>da</strong> presente e futura.<br />

Originários de famílias quase ou totalmente abandónicas, entraram na<br />

escola em clara desvantagem, o que acabou por reforçar sentimentos de diferença e<br />

de não pertença que, por sua vez, os empurraram para a apatia e a desmotivação a<br />

respeito <strong>da</strong> aprendizagem 291 . Apesar de possuírem um potencial cognitivo<br />

perfeitamente dentro <strong>da</strong> média, o seu desempenho fica muito aquém <strong>da</strong>s suas<br />

capaci<strong>da</strong>des. E como, muitas vezes, foram objecto de baixas expectativas, acabaram<br />

por corresponder ao padrão espera<strong>do</strong>, fazen<strong>do</strong> jus ao fenómeno <strong>da</strong> ―profecia que se<br />

cumpre‖, ou seja, corresponden<strong>do</strong> em consonância com a percepção <strong>do</strong> que deles era<br />

espera<strong>do</strong>. Nem a escola, nem as instituições que os acolheram após a retira<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

família foram capazes de suprir as falhas <strong>da</strong> socialização primária, tão pouco<br />

conseguiram deixar de se constituir em mais um contexto exclusor.<br />

Não faltam análises que assinalam os processos de selecção<br />

particularmente penaliza<strong>do</strong>res que a escola mobiliza a respeito <strong>da</strong>s crianças de origem<br />

social mais baixa 292 . Desprovi<strong>do</strong>s de uma socialização primária eficaz, <strong>do</strong> ponto de<br />

vista <strong>da</strong>s aprendizagens consentâneas com a a<strong>da</strong>ptação escolar, não puderam usar a<br />

escola como meio de demonstração <strong>da</strong> sua capaci<strong>da</strong>de produtiva. Perante a<br />

incapaci<strong>da</strong>de <strong>do</strong> sistema educativo 293 para responder às suas necessi<strong>da</strong>des de<br />

descoberta e afirmação <strong>da</strong>s suas competências, resta-lhes envere<strong>da</strong>r por vários tipos<br />

de estratégias defensivas, de que a inversão <strong>da</strong> escala de valores é um <strong>do</strong>s exemplos<br />

mais preocupantes.<br />

Cabe que nos interroguemos, então, acerca <strong>da</strong>s respostas concebi<strong>da</strong>s e<br />

implementa<strong>da</strong>s na Comuni<strong>da</strong>de Terapêutica para colmatar essa falha profun<strong>da</strong> na<br />

construção <strong>da</strong> identi<strong>da</strong>de que decorre de não lhes ter si<strong>do</strong> possível descobrir as<br />

capaci<strong>da</strong>des próprias de seres <strong>da</strong> sua i<strong>da</strong>de.<br />

291 Cfr. Carlota Teixeira, O Tecer e o Crescer – Fios e Desafios ,op.cit., pág. 121<br />

292 Cfr. Carlota Teixeira, O Tecer e o Crescer – Fios e Desafios , op.cit., pág. 122<br />

293 Tradicionalmente monta<strong>do</strong> para instruir, mais <strong>do</strong> que para educar, Op. cit., pág. 122

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!