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Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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uma correlação estatística mais forte entre o consumo de drogas e a permanência na<br />

família <strong>do</strong> que a existente entre esta mesma prática e ter nasci<strong>do</strong> numa família <strong>do</strong> tipo<br />

altamente problemática em termos de condições de existência e de valor simbólico.<br />

Noutros termos, falta averiguar se a exposição a situações de grande vulnerabili<strong>da</strong>de<br />

económica, social, cultural e simbólica acrescenta alguma especifici<strong>da</strong>de ao fenómeno<br />

<strong>da</strong> toxicodependência nos jovens <strong>da</strong>s cama<strong>da</strong>s socialmente mais desqualifica<strong>da</strong>s.<br />

O que diferencia as famílias confronta<strong>da</strong>s com o problema <strong>da</strong>s<br />

toxicodependências <strong>da</strong>s que não experienciam esse problema em nenhum <strong>do</strong>s seus<br />

membros? Apesar de não ser possível afirmar que as famílias com membros<br />

toxicodependentes partilham entre si padrões de interacção específicos, é, no entanto,<br />

possível identificar alguns padrões, algumas tendências mais comuns a essas<br />

famílias. 66 Existirão padrões de funcionamento familiar independentes <strong>do</strong> estatuto<br />

social <strong>da</strong> família?<br />

Numa determina<strong>da</strong> linha de investigação 67 são sistemáticas as<br />

referências ao fraco envolvimento afectivo entre os a<strong>do</strong>lescentes e os familiares, às<br />

fortes tensões e conflitos entre figuras parentais e entre estas e os filhos, a<br />

comportamentos de indiferença <strong>do</strong>s elementos familiares sobre a vi<strong>da</strong> de ca<strong>da</strong> um <strong>do</strong>s<br />

outros, e, mesmo, a situações de forte rejeição mútua. Assinala-se, ain<strong>da</strong>, que a<br />

passagem de consumos de cannabis para drogas como a heroína e/ou a cocaína<br />

tende a ser precedi<strong>da</strong> por uma ou mais per<strong>da</strong>s, por morte ou separação na vi<strong>da</strong><br />

familiar. O recurso à droga é visto como uma estratégia de a<strong>da</strong>ptação à <strong>do</strong>r <strong>da</strong> per<strong>da</strong>.<br />

Nesta perspectiva, carências de cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s parentais muito precocemente,<br />

per<strong>da</strong> de um ou mais elementos <strong>da</strong> família, na sequência de morte ou de separação<br />

física, separação <strong>do</strong>s pais, acontecimento dramático e devasta<strong>do</strong>r <strong>do</strong> ponto de vista <strong>do</strong><br />

equilíbrio afectivo e emocional, ausência de modelos identificatórios, são<br />

acontecimentos que induzem <strong>do</strong>r e desencadeiam formas de a anestesiar, aliviar ou<br />

mascarar.<br />

O recurso à droga é um caminho muito acessível, desde logo pela<br />

facili<strong>da</strong>de de chegar ao produto, até, mesmo, em lugares onde tal não seria de<br />

esperar, como é o caso <strong>da</strong> escola. Ora, é talvez pertinente admitir a hipótese de os<br />

problemas de identificação que estão subjacentes à predisposição para consumir<br />

drogas tanto poderem ocorrer em famílias que tendem a reduzir a sua acção à<br />

prestação <strong>do</strong> conforto material sem limites e descuram o envolvimento relacional,<br />

como naquelas em que a perturbação relacional decorre de condições de existência<br />

66 Manuela Fleming Família e Toxicodependência, op. cit., pág. 54.<br />

67 Amaral Dias, 1980; Fleming, et all., 1981, 1988; Hagglund & Pylkkanen, 1977; Rosch, 1988., in<br />

Manuela Fleming, op. cit., p. 55.<br />

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