17.04.2013 Views

Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto

Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto

Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

pena investir. Ora, como assinalaram os sociólogos interaccionistas que se dedicaram<br />

ao estu<strong>do</strong> <strong>da</strong> escola, as representações <strong>do</strong>s professores acerca <strong>da</strong>s possibili<strong>da</strong>des<br />

<strong>do</strong>s alunos funcionam como uma profecia que se cumpre. Dito de outro mo<strong>do</strong>, as<br />

visões muito negativas acerca <strong>da</strong>s capaci<strong>da</strong>des <strong>do</strong>s jovens socializa<strong>do</strong>s nestes<br />

submun<strong>do</strong>s é um facto que prevalece na comuni<strong>da</strong>de educativa, impedin<strong>do</strong> os jovens<br />

de desenvolverem a sua auto-estima, ao mesmo tempo que lhes fazem sentir que<br />

na<strong>da</strong> têm a ganhar, logo também na<strong>da</strong> têm a perder. Aqui reside uma <strong>da</strong>s explicações<br />

mais consistentes para os problemas <strong>da</strong> indisciplina e violência dentro <strong>da</strong> escola.<br />

206<br />

Mais uma vez, encontramos elementos de reflexão que aju<strong>da</strong>m a<br />

consoli<strong>da</strong>r a hipótese de o consumo de drogas ser, nestes casos, determina<strong>do</strong> pela<br />

necessi<strong>da</strong>de de consoli<strong>da</strong>r uma identi<strong>da</strong>de, mesmo que esta possa suscitar uma<br />

fortíssima desvalorização simbólica. Ser publicamente nomea<strong>do</strong> por actos de coragem<br />

e de destemor, pelo me<strong>do</strong> provoca<strong>do</strong> nos outros, é a compensação psicológica<br />

possível para a inexistência social.<br />

A teoria <strong>da</strong> rotulação comporta uma abor<strong>da</strong>gem que complementa,<br />

amplia e dá consistência às anteriores. Diz respeito ao processo através <strong>do</strong> qual o<br />

rótulo desviante é coloca<strong>do</strong> a pessoas específicas e a comportamentos específicos.<br />

Esta teoria concebe a desviância como fenómeno relativo, uma vez que o<br />

comportamento desviante é apenas aquele que as pessoas assim rotulam.<br />

O processo através <strong>do</strong> qual a pessoa é rotula<strong>da</strong> como desviante depende<br />

<strong>da</strong>s reacções <strong>do</strong>s outros próximos que não concor<strong>da</strong>m com o seu comportamento. A<br />

primeira vez em que a criança passa ao acto na sala de aula poderá decorrer de uma<br />

excitação ou má disposição. Este acto impulsivo que constitui a primeira desviância<br />

pode, entretanto, evoluir em função <strong>da</strong> interpretação que os outros constroem acerca<br />

desse acto. Se os professores, conselheiros, e outras crianças rotulam a criança como<br />

perturba<strong>do</strong>ra e se ela aceita esta definição como parte <strong>do</strong> seu auto-conceito, então vai<br />

assumir o papel de perturba<strong>do</strong>ra.<br />

Uma questão crucial para os teóricos <strong>da</strong> rotulação é o processo através<br />

<strong>do</strong> qual um indivíduo se torna rotula<strong>do</strong> de desviante. Muitos teóricos <strong>da</strong> rotulação<br />

assumem uma perspectiva <strong>do</strong> conflito assumin<strong>do</strong> que o acto de rotular o<br />

comportamento <strong>do</strong> outro como desviante se inscreve num jogo de competição com<br />

outro a fim de proteger o seu próprio comportamento ou interesse. O acto de<br />

classificar os concorrentes como desviantes assenta em fenómenos de poder, <strong>do</strong>nde<br />

decorre o facto de a desviância, tal como as sanções criminais, serem, com muito<br />

maior frequência <strong>do</strong> que na classe alta, atribuí<strong>da</strong>s à classe baixa.<br />

Ora, os testemunhos por nós recolhi<strong>do</strong>s parecem ser muito claros quanto<br />

ao tipo de relacionamentos sociais de que os jovens puderam tomar parte na sua vi<strong>da</strong>

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!