17.04.2013 Views

Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto

Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto

Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

efeito de uma evolução social que não produziu formas de vinculação colectiva<br />

suficientemente fortes para que os indivíduos não descolassem a realização <strong>da</strong>s suas<br />

aspirações <strong>do</strong>s outros igualmente pertencentes à mesma socie<strong>da</strong>de, como um to<strong>do</strong>.<br />

No fun<strong>do</strong>, nessas socie<strong>da</strong>des, fun<strong>da</strong><strong>da</strong>s num contracto social - democrata, a<br />

extraordinária expansão <strong>do</strong> consumo, a que a publici<strong>da</strong>de e o marketing deram um<br />

impulso significativo, parece ter aliena<strong>do</strong> os indivíduos de to<strong>da</strong>s as cama<strong>da</strong>s sociais de<br />

se unirem numa acção colectiva pelo aperfeiçoamento <strong>do</strong> sistema social como um<br />

to<strong>do</strong>.<br />

335<br />

Valerá a pena aprofun<strong>da</strong>r um pouco mais o tratamento que pela sociologia<br />

foi <strong>da</strong><strong>do</strong> ao tema <strong>do</strong> laço social, a fim de procurarmos estabelecer, com a clareza<br />

possível, algum nexo entre esta problemática e a ascensão <strong>da</strong>s práticas de consumo<br />

de substâncias psicotrópicas. Simmel, por exemplo, pôs em evidência, aliás como o<br />

próprio Norbert Elias, que a consagração de um sistema de protecção generaliza<strong>do</strong><br />

nas socie<strong>da</strong>des de soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de orgânica levou a que a obtenção <strong>do</strong> reconhecimento<br />

pessoal passasse a ser uma luta que os indivíduos têm que enfrentar autonomamente.<br />

Nestas socie<strong>da</strong>des, o reconhecimento nasce <strong>da</strong> participação em trocas <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> social<br />

e depende, muito mais <strong>do</strong> que nas socie<strong>da</strong>des em que o indivíduo pertencia a um<br />

círculo estreito, de conquistas e lutas que esteja capaz de travar. Além disso, sublinha<br />

este sociólogo, na socie<strong>da</strong>de moderna, o indivíduo diversifica as suas pertenças,<br />

define-se pela sua complementari<strong>da</strong>de com outros e por uma relação de<br />

interdependências mútuas. O homem é, antes de tu<strong>do</strong>, um ser de ligação. Nós somos<br />

sempre ―aqueles que separam o que está liga<strong>do</strong> e ligam o separa<strong>do</strong>‖ 317 . Falar de<br />

socie<strong>da</strong>de é falar de laço social, e falar de laço social é, antes de tu<strong>do</strong>, partir <strong>da</strong><br />

constatação de que os indivíduos estão liga<strong>do</strong>s por influências e determinações<br />

recíprocas. Na linha de Durkheim, e <strong>do</strong> paradigma <strong>do</strong> consenso que está subjacente<br />

às suas abor<strong>da</strong>gens, Simmel analisa a socie<strong>da</strong>de como um to<strong>do</strong> funcional que os<br />

indivíduos fazem e sofrem ao mesmo tempo, como a consequência de um processo<br />

de socialização que conduz o indivíduo a realizar, no curso <strong>da</strong> sua vi<strong>da</strong>, experiências<br />

sucessivas, na sua maior parte imprevisíveis, que o obrigam a ligar - se<br />

progressivamente a novas associações que se acumulam aos primeiros laços. Ora,<br />

dessa diversi<strong>da</strong>de de círculos, tão característica <strong>da</strong>s socie<strong>da</strong>des de soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de<br />

orgânica, decorre a possibili<strong>da</strong>de de não existir entre eles uma conformi<strong>da</strong>de<br />

normativa, sen<strong>do</strong> que a distância pode, to<strong>da</strong>via, ser maior ou menor consoante a<br />

posição social de que os indivíduos são originários.<br />

317 G. Simmel, La tragédie de la culture, Paris, Éd. Rivages, 1988, p.66; Sociologie et épistémologie, Paris,<br />

PUF, 1981, p. 90; Sociologie. Études sur les formes de socialisation, Paris, PUF, 1999, p.690

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!