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Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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ealização pessoal, ao estilo de vi<strong>da</strong>, à expressão própria, elegen<strong>do</strong> o he<strong>do</strong>nismo<br />

como valor supremo. Aceder ao automóvel, às viagens em tempo de férias, aos<br />

aparelhos de som mais sofistica<strong>do</strong>s, aos electro<strong>do</strong>mésticos, à compra de casa própria<br />

e <strong>da</strong> segun<strong>da</strong> habitação, facultar aos filhos uma plurali<strong>da</strong>de de oportuni<strong>da</strong>des, como<br />

estu<strong>da</strong>r música, praticar um desporto, dispor de computa<strong>do</strong>r, frequentar espectáculos,<br />

adquirir roupas <strong>da</strong>s marcas mais prestigia<strong>da</strong>s, etc, to<strong>da</strong>s essas necessi<strong>da</strong>des são<br />

forja<strong>da</strong>s pelo inferno climatiza<strong>do</strong> e «totalitário» <strong>da</strong> affluent society 226 .<br />

228<br />

A par dessa climatização, a publici<strong>da</strong>de e o marketing não deixam de<br />

apostar forte na diversificação <strong>do</strong>s públicos consumi<strong>do</strong>res, <strong>da</strong> vontade de autonomia e<br />

de particularização <strong>do</strong>s grupos e <strong>do</strong>s indivíduos: neo-feminismo, libertação <strong>do</strong>s<br />

costumes e <strong>da</strong>s sexuali<strong>da</strong>des, reivindicações <strong>da</strong>s minorias regionais e linguísticas,<br />

desejo de expressão e de realização <strong>do</strong> eu, movimentos alternativos. A socie<strong>da</strong>de<br />

pós-moderna coincide com a apoteose <strong>do</strong> consumo sob uma dinâmica de<br />

obsolescência acelera<strong>da</strong>, de mobili<strong>da</strong>de e de desestabilização. Acaba<strong>da</strong> a i<strong>do</strong>latria <strong>do</strong><br />

american way of life, diz Lipovetsky, emerge uma cultura pós-moderna cujas<br />

características são a busca <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong>, a paixão <strong>da</strong> personali<strong>da</strong>de, a<br />

sensibili<strong>da</strong>de extrema, a desafeição pelos grandes sistemas de senti<strong>do</strong>, o culto <strong>da</strong><br />

participação e <strong>da</strong> expressão, a reabilitação <strong>do</strong> local, <strong>do</strong> regional, de certas crenças e<br />

práticas tradicionais 227 .<br />

A cultura pós-moderna exacerba o individualismo. Como? Diversifican<strong>do</strong><br />

as possibili<strong>da</strong>des de escolha, dissolven<strong>do</strong> as referências, minan<strong>do</strong> os senti<strong>do</strong>s únicos<br />

e os valores superiores <strong>da</strong> moderni<strong>da</strong>de, modelan<strong>do</strong> uma cultura por medi<strong>da</strong>. Por<br />

outras palavras, uma cultura que permite que ca<strong>da</strong> um se emancipe <strong>do</strong>s valores<br />

outrora ti<strong>do</strong>s como revolucionários e universais.<br />

Com a passagem à socie<strong>da</strong>de pós moderna, o individualismo limita<strong>do</strong> dá<br />

lugar a um individualismo total, ou seja, a uma forma de individuali<strong>da</strong>de <strong>do</strong>mina<strong>da</strong> por<br />

um narcisismo exacerba<strong>do</strong>. Que o mesmo é dizer, uma forma de individuali<strong>da</strong>de<br />

centra<strong>da</strong> sobre a própria ―realização emocional, ávi<strong>da</strong> de juventude, de desportos, de<br />

226 Gilles Lipovetsky, A era <strong>do</strong> vazio – Ensaio sobre o individualismo contemporâneo, op. cit., p. 10.<br />

227 Gilles Lipovetsky, A era <strong>do</strong> vazio – Ensaio sobre o individualismo contemporâneo, op. cit., p. 12.<br />

“A cultura pós-moderna representa o pólo «superestrutural» de uma socie<strong>da</strong>de que sai de um tipo de<br />

organização uniforme, dirigista, e que, para o fazer, mistura os últimos valores modernos, reabilita o<br />

passa<strong>do</strong> e a tradição, revaloriza o local e a vi<strong>da</strong> simples, dissemina os critérios <strong>da</strong> ver<strong>da</strong>de e <strong>da</strong> arte,<br />

legitima a afirmação <strong>da</strong> identi<strong>da</strong>de pessoal de acor<strong>do</strong> com os valores de uma socie<strong>da</strong>de personaliza<strong>da</strong><br />

onde o que importa é que o indivíduo seja ele próprio, e onde tu<strong>do</strong> e to<strong>do</strong>s têm direito de ci<strong>da</strong>de e a<br />

serem socialmente reconheci<strong>do</strong>s, sen<strong>do</strong> que na<strong>da</strong> deve <strong>do</strong>ravante impor-se imperativa e<br />

dura<strong>do</strong>uramente, e to<strong>da</strong>s as opções, to<strong>do</strong>s os níveis, podem coabitar sem contracção nem relegação‖.

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