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Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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CAPÍTULO 6 – SERÃO OS CONSUMIDORES DE DROGAS PORTADORES DE<br />

ALGUMA CARACTERÍSTICA PSICOLÓGICA PRÓPRIA?<br />

146<br />

A abor<strong>da</strong>gem teórica em que se situa Becker, o interaccionismo<br />

simbólico, está na base de uma ideia que contradiz de mo<strong>do</strong> contundente o senso<br />

comum. Ao contrário <strong>do</strong> pensamento corrente, a génese <strong>da</strong>s motivações desviantes,<br />

diz este autor, é determina<strong>da</strong> pelo próprio decurso <strong>da</strong>s activi<strong>da</strong>des desviantes. Ou<br />

seja, não são as motivações desviantes que conduzem ao comportamento desviante<br />

mas, ao contrário, é a prática recorrente <strong>do</strong> comportamento desviante que acaba por<br />

produzir a motivação desviante. Impulsos e desejos vagos, entre os quais a<br />

curiosi<strong>da</strong>de acerca <strong>do</strong> tipo de experiência que a droga pode provocar, podem<br />

transformar-se em formas de activi<strong>da</strong>de recorrentes. Um indivíduo que a<strong>do</strong>pta um<br />

mo<strong>do</strong> de consumo regular de marijuana não somente tem que aprender a gostar dela,<br />

mas tem, também, que ultrapassar os poderosos controlos sociais que consideram o<br />

seu uso imoral ou imprudente.<br />

Só a desconfiança a respeito <strong>do</strong>s controlos sociais, que habitualmente<br />

tendem a manter os comportamentos em conformi<strong>da</strong>de com as normas e os valores<br />

fun<strong>da</strong>mentais <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de, induz o comportamento desviante. Numa socie<strong>da</strong>de<br />

heterogénea, este processo pode tomar contornos complexos, desde logo porque as<br />

desconfianças a respeito <strong>do</strong> controlo social podem ser aprendi<strong>da</strong>s através <strong>da</strong><br />

socialização em grupos cuja cultura e controlos sociais próprios se opõem aos <strong>da</strong><br />

socie<strong>da</strong>de global.<br />

Os controlos sociais influenciam o comportamento individual, desde logo<br />

através <strong>da</strong> aplicação de sanções, em função <strong>da</strong> conformi<strong>da</strong>de ou <strong>da</strong> distância em<br />

relação aos valores socialmente estabeleci<strong>do</strong>s. É, to<strong>da</strong>via, sabi<strong>do</strong> que o controlo social<br />

seria impossível de manter se fosse apenas basea<strong>do</strong> no constrangimento externo.<br />

Outros mecanismos mais subtis são indispensáveis para assegurar o controlo social.<br />

Becker refere o controlo social interno, equivalente ao super-ego de que falava Freud,<br />

adquiri<strong>do</strong> na relação com os outros significativos que povoaram a socialização<br />

primária. As concepções transmiti<strong>da</strong>s por pessoas dignas de estima são vali<strong>da</strong><strong>da</strong>s

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