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Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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Se as faltas são reforça<strong>da</strong>s, se a depreciação não é sau<strong>da</strong>velmente<br />

tempera<strong>da</strong> com um reforço positivo <strong>da</strong>quilo que consegue fazer, a criança poderá<br />

fechar-se no me<strong>do</strong> <strong>do</strong> insucesso, recusan<strong>do</strong> ter iniciativa sempre que se depara com<br />

uma situação que lhe surge como complexa (ou simplesmente nova). O sucesso neste<br />

estádio parece ser fulcral para o desenvolvimento <strong>da</strong> identi<strong>da</strong>de, na medi<strong>da</strong> em que,<br />

por um la<strong>do</strong>, a criança sente, sem culpabili<strong>da</strong>de, que pode ser o que imaginar ser, que<br />

os papéis que a socie<strong>da</strong>de lhe oferece podem ser desempenha<strong>do</strong>s por ela se assim o<br />

desejar. Por outro la<strong>do</strong>, o sentimento de iniciativa é tempera<strong>do</strong> pela consciência <strong>do</strong>s<br />

limites impostos pelas convenções culturais, apreendi<strong>da</strong>s no meio social em que vive.<br />

Só a interiorização <strong>da</strong>s normas e regras de conduta, <strong>do</strong>s valores éticos e morais<br />

permite encontrar este equilíbrio. Por essa via, os limites externaliza<strong>do</strong>s pelas figuras<br />

parentais vão constituir constrangimentos internos, ou a consciência individual, que<br />

orienta para atitudes a<strong>da</strong>ptativas em função <strong>do</strong>s contextos objectivos.<br />

To<strong>da</strong>via, as vi<strong>da</strong>s ―<strong>do</strong>s nossos a<strong>do</strong>lescentes‖ são um exemplo severo de<br />

quanto podem pesar as desigual<strong>da</strong>des sociais nesse processo de interiorização de<br />

regras e normas morais. E é porque não é independente <strong>da</strong>s condições e mo<strong>do</strong>s de<br />

vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s famílias que a interiorização de regras e limites pode ser impossível.<br />

Nascer numa família que não consegue providenciar autonomamente a<br />

sobrevivência <strong>do</strong>s seus membros, cuja relação com o trabalho é pouco ou na<strong>da</strong><br />

indutora de sentimentos de valorização e de pertença social, que enfrenta a<br />

sobrevivência no dia a dia e não perspectiva o futuro, é uma situação muito diversa <strong>da</strong><br />

que ocorre numa família de classe média ou alta. A própria relação com as regras<br />

sociais, assim como com os valores que lhes estão subjacentes, depende<br />

estreitamente <strong>da</strong> materiali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> existência quotidiana, <strong>do</strong> universo de relações em<br />

que se pode tomar parte, tal como <strong>do</strong> valor simbólico que é socialmente atribuí<strong>do</strong> ao<br />

meio de que se faz parte.<br />

Se é certo que só a assimilação de uma cultura permite ao indivíduo uma<br />

iniciativa produtiva, integra<strong>do</strong>ra e potencia<strong>do</strong>ra <strong>da</strong> sua criativi<strong>da</strong>de, porque baliza<strong>da</strong><br />

por interdições que ditam até onde se pode ir, não é menos certo que existem<br />

subculturas que estão longe de proporcionar ao indivíduo a resolução adequa<strong>da</strong> desta<br />

fase de desenvolvimento psicossocial.<br />

Noutros termos, e procuran<strong>do</strong> descortinar relações entre a interiori<strong>da</strong>de<br />

individual e o meio relacional <strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes, pode dizer-se que a interiorização <strong>da</strong>s<br />

interdições desempenha um importante papel na construção <strong>do</strong> superego de que<br />

falava Freud, sem ignorar que essas mesmas interdições são construí<strong>da</strong>s no quadro<br />

de uma cultura particular através <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> em grupo. Assim, se a Psicologia reforça a<br />

necessi<strong>da</strong>de de interiorização <strong>da</strong>s regras e <strong>da</strong>s figuras de autori<strong>da</strong>de, incorpora<strong>da</strong>s na

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