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Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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Vasco<br />

o meu primo, sei que ele ia sair de lá porque já não tem i<strong>da</strong>de e sobre o<br />

meu sobrinho, sei que foi expulso por ter consumi<strong>do</strong> lá dentro <strong>do</strong> colégio ‖.<br />

136<br />

Vasco é retira<strong>do</strong> à família com sete anos de i<strong>da</strong>de. Cresceu sen<strong>do</strong><br />

objecto de violência familiar, assim como assistiu à violência entre os seus pais.<br />

Percorreu vários colégios sen<strong>do</strong> expulso deles mais <strong>do</strong> que uma vez. A sua vi<strong>da</strong> conta<br />

com múltiplas fugas. Foram anos sem contacto com os pais, sen<strong>do</strong> que a única<br />

pessoa que o visitava era o seu irmão. Com este, de resto, aprendeu a aderir às<br />

práticas marginais sem que algum dia pudesse ter conta<strong>do</strong> com o carinho e afecto, a<br />

não ser, como refere, <strong>do</strong> seu próprio irmão. Com ele tu<strong>do</strong> aprendeu, o bom e o mau…<br />

Aos 7 anos fui para um colégio. Quem decidiu foi uma assistente social e os<br />

meus pais quiseram. Os motivos tiveram a ver com maus tratos e violência<br />

familiar. Até aos 11 anos, andei num colégio na Granja.<br />

Quan<strong>do</strong> fui para o colégio, sentia a tristeza de sair de casa, mas já sentia a<br />

<strong>do</strong>r que sentia quan<strong>do</strong> eu estava com os meus pais. Achei que podia ser<br />

uma oportuni<strong>da</strong>de… Durante o tempo em que estive no colégio, sentia-me<br />

bem. Não me faltava na<strong>da</strong>. Mas comecei a crescer e aí meti-me na droga e<br />

roubos e era só agredir os outros. Quan<strong>do</strong> me queriam falar eu respondia<br />

torto… então acho que desistiam… deixavam-me só… No princípio gostava<br />

de estar no colégio, mas tinha o pensamento em casa. Se a minha mãe<br />

estava bem, como era… depois soube que o meu irmão foi condena<strong>do</strong> por<br />

tráfico de drogas, a <strong>do</strong>is anos de pena suspensa…<br />

Lá no colégio só o meu irmão é que me visitava… A minha mãe não… se<br />

calhar o meu pai não deixava, ou havia problemas, não sei. O meu irmão,<br />

esse visitava-me porque era eu a única família dele. Ele vivia em Gaia, na<br />

Vila d‘ Este, mas quan<strong>do</strong> me visitava ficava <strong>do</strong>is dias. Deixavam-no lá ficar.<br />

No colégio havia regras, castigos e punham-nos respeito mas eu comecei a<br />

não aceitar na<strong>da</strong>… faltava à escola e ia drogar-me… também eu saia e<br />

ninguém sabia para onde ia… mas o meu irmão depois foi preso… Quem<br />

me deu a notícia foi o monitor <strong>do</strong> colégio… só me disse isso… eu fiquei<br />

desespera<strong>do</strong>, mas não havia com quem falar… o meu irmão era a minha<br />

ligação à família… não tinha mais ninguém… é ver<strong>da</strong>de que com ele<br />

aprendi o caminho <strong>da</strong> droga, <strong>do</strong>s roubos e por aí fora, mas também era com<br />

ele que eu sentia que havia carinho… amigos… eu tinha mais <strong>do</strong>is amigos<br />

com quem consumia sempre…<br />

Algumas vezes fugi <strong>do</strong> colégio e fui para casa <strong>do</strong> meu irmão. Isto durante o<br />

tempo em que ele esteve com os <strong>do</strong>is anos de suspensão…eu já não<br />

suportava estar no colégio…<br />

… A minha vi<strong>da</strong> até aos 17 anos, <strong>do</strong>s 10 aos 17 anos não foi na<strong>da</strong>, foi uma<br />

mer<strong>da</strong>‖ para mim, foi como se tivesse morri<strong>do</strong>, não valeu de na<strong>da</strong>, de na<strong>da</strong>.<br />

Serão os monitores, com uma formação que, regra geral, e no melhor <strong>do</strong>s<br />

casos, não vai além <strong>do</strong> 12º ano de escolari<strong>da</strong>de, capazes de conceber estratégias de

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