Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto
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individualização e o acréscimo de novas formas de sofrimento, as quais se sobrepõem<br />
a um risco acresci<strong>do</strong> de insegurança <strong>do</strong> emprego. O compromisso fordista <strong>do</strong>s trinta<br />
gloriosos anos permitiu conciliar eficácia económica e soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de social. O que é<br />
feito dele nos dias de hoje?<br />
237<br />
Mas, para compreender o que confere o carácter de uma engrenagem<br />
viciosa à vi<strong>da</strong> <strong>do</strong>s jovens cujas histórias procuramos construir interessa ain<strong>da</strong> atentar<br />
que a transformação global <strong>da</strong>s socie<strong>da</strong>des se caracteriza não somente por uma<br />
transformação <strong>do</strong> laço social, mas também por uma redefinição progressiva <strong>da</strong> relação<br />
entre os diferentes tipos de laços sociais 241 .<br />
Serge Paugam 242 refere que se podem hoje distinguir <strong>do</strong>is tipos de<br />
rupturas cumulativas: a aprendizagem insucedi<strong>da</strong> e a degra<strong>da</strong>ção estatutária 243 . O<br />
primeiro tipo de ruptura remete para os casos <strong>do</strong>s indivíduos que, desde a sua<br />
infância, conheceram numerosas dificul<strong>da</strong>des liga<strong>da</strong>s à pobreza ou às carências <strong>do</strong><br />
241 Cfr, Serge Paugam, Le Lien Social, op.cit., pág. 89<br />
A ruptura <strong>do</strong>s laços sociais<br />
Laço de filiação Impossibili<strong>da</strong>de de contar com os<br />
pais ou com os filhos em caso de<br />
dificul<strong>da</strong>de<br />
Défice de protecção Défice de reconhecimento<br />
Aban<strong>do</strong>no, maus - tratos, rejeição,<br />
sentimento de não poder contar com<br />
os seus pais ou com os seus filhos<br />
Laço de participação electiva Isolamento relacional Rejeição <strong>do</strong> grupo de pares. Traição,<br />
aban<strong>do</strong>no<br />
Laço de participação orgânica Laço ocasional com o merca<strong>do</strong> de<br />
trabalho. Desemprego de longa<br />
duração, entra<strong>da</strong> numa carreira de<br />
assisti<strong>do</strong><br />
Laço de ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia Afastamento <strong>do</strong>s circuítos<br />
administrativos; incerteza jurídica;<br />
vulnerabili<strong>da</strong>de por relação às<br />
instituições; ausência de papéis de<br />
identi<strong>da</strong>de; exílio força<strong>do</strong><br />
Humilhação social, Identi<strong>da</strong>de<br />
negativa, sentimento de ser inútil<br />
Descriminação jurídica; nãoreconhecimento<br />
de direitos civis,<br />
políticos e sociais; apatia política<br />
242 Serge Paugam, Le Lien Social, op. cit., pág. 94<br />
243 Serge Paugam, Le Lien Social, op. cit., pág. 94 e seguintes<br />
―A degra<strong>da</strong>ção estatutária ocorre em indivíduos habitualmente protegi<strong>do</strong>s de to<strong>da</strong>s as adversi<strong>da</strong>des <strong>da</strong><br />
vi<strong>da</strong>, quer pelo seu estatuto social, quer pelo seu nível de vi<strong>da</strong> e pelo teci<strong>do</strong> <strong>da</strong>s suas relações sociais.<br />
Apesar disso, podem conhecer a experiência de uma degra<strong>da</strong>ção estatutária que leva a perder<br />
sucessivamente tu<strong>do</strong> o que fazia com que fossem seres socialmente distintos. Nos anos 80, os serviços<br />
sociais e as associações caritativas começaram a ser procura<strong>da</strong>s por quadros que conheceram<br />
sucessivamente a per<strong>da</strong> <strong>do</strong> seu emprego, uma ruptura afectiva e uma crise identitária. Considera<strong>do</strong> como<br />
uma <strong>da</strong>s causas maiores <strong>da</strong> degra<strong>da</strong>ção <strong>do</strong> laço social, o desemprego foi frequentemente estu<strong>da</strong><strong>do</strong> como<br />
um processo de acumulação progressiva de handicaps e de rupturas. As investigações colocaram a<br />
tónica na degra<strong>da</strong>ção <strong>do</strong> nível de vi<strong>da</strong>, mas também sobre o enfraquecimento <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> social e a<br />
marginalização por relação aos outros trabalha<strong>do</strong>res. Inquéritos realiza<strong>do</strong>s mostraram que o desemprego<br />
contribui para enfraquecer a intensi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s trocas sociais‖.