17.04.2013 Views

Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto

Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto

Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

interacção com o a<strong>do</strong>lescente que permitisse a estruturação de uma relação<br />

promotora de confiança para posteriormente realizar entrevistas biográficas<br />

abrangen<strong>do</strong> múltiplos <strong>do</strong>mínios <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> social <strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes.<br />

Relembre-se que através <strong>da</strong>s entrevistas se pretendeu perceber os<br />

significa<strong>do</strong>s que os a<strong>do</strong>lescentes atribuem às suas experiências de vi<strong>da</strong> precoce e às<br />

práticas de consumo e os sentimentos que experimentam pelas representações que<br />

constroem sobre as suas práticas, compreender a forma como configuram e significam<br />

a família de origem, as sucessivas rupturas familiares e sociais de que foram alvo, as<br />

instituições de socialização com que contactaram, as suas opções desviantes, etc.<br />

3.6 Análise de conteú<strong>do</strong> e interpretação <strong>da</strong>s entrevistas<br />

A informação recolhi<strong>da</strong> foi objecto de tratamento através <strong>da</strong> codificação e<br />

categorização <strong>da</strong>s narrativas, recorren<strong>do</strong>-se ao méto<strong>do</strong> de análise de conteú<strong>do</strong> de tipo<br />

categorial. Antes de nos reportarmos ao processo mais específico de codificação por<br />

nós desenvolvi<strong>do</strong>, importa salientar, desde já, o tipo de problemas que o investiga<strong>do</strong>r<br />

tem de superar no <strong>do</strong>mínio <strong>da</strong> transcrição e análise <strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>s narra<strong>do</strong>s. A<br />

passagem <strong>do</strong> texto oral a escrito exige mu<strong>da</strong>nças que não podem pôr em causa a<br />

condição de fideli<strong>da</strong>de e respeito pelo sujeito que produz o discurso e,<br />

consequentemente, pela informação veicula<strong>da</strong>, pelo que são vários os<br />

constrangimentos a que o autor <strong>da</strong> transcrição fica sujeito quan<strong>do</strong> produz um texto<br />

escrito sobre o discurso verbal recolhi<strong>do</strong> 114 .<br />

A transferência de cargas significativas <strong>do</strong>s discursos para o papel –<br />

através <strong>da</strong> transcrição e, posteriormente, através de codificações e categorizações –<br />

são, em si mesmas, já, uma interpretação. Fixemo-nos, a título de exemplo, nos<br />

enviesamentos que podem emergir, na transcrição, de uma pontuação ou de um<br />

sublinha<strong>do</strong> que, pretenden<strong>do</strong> realçar um sentimento transmiti<strong>do</strong> pelo entrevista<strong>do</strong>,<br />

acabam por gerar per<strong>da</strong>s semânticas ou rupturas num discurso onde a força <strong>da</strong><br />

expressão foi <strong>da</strong><strong>da</strong> por um ritmo, uma entoação, um gesto ou um silêncio não<br />

regista<strong>do</strong>s.<br />

Idêntico efeito pode ocorrer <strong>da</strong> descodificação/categorização <strong>do</strong>s senti<strong>do</strong>s<br />

<strong>do</strong> discurso que a análise de conteú<strong>do</strong> pode gerar, ao recodificar senti<strong>do</strong>s que se<br />

pretendem interpretativos. Como sublinha J. Macha<strong>do</strong> Pais , (…) ―ao acumular deste<br />

mo<strong>do</strong> as descodificações, ao passar ao la<strong>do</strong> <strong>do</strong>s mecanismos de segurança <strong>do</strong>s<br />

senti<strong>do</strong>s expressos, ao pôr a interpretação <strong>do</strong> dito em ro<strong>da</strong> livre, to<strong>da</strong>s as tentativas de<br />

descodificação acabam numa codificação; e é por esta razão que to<strong>da</strong> a interpretação<br />

114 , Pierre Bourdieu, : op. cit. p. 921.<br />

75

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!