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Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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Como aju<strong>da</strong>r uma criança que, pelo simples facto de ter nasci<strong>do</strong> numa<br />

<strong>da</strong><strong>da</strong> família carrega<strong>da</strong> de estigmas, se vê como um ser marca<strong>do</strong> por uma<br />

inferiori<strong>da</strong>de profun<strong>da</strong> de que não se pode libertar? Como nela desenvolver<br />

sentimentos de auto-estima quan<strong>do</strong> foi diariamente confronta<strong>da</strong> com a<br />

inoperância <strong>do</strong> esforço e <strong>do</strong> mérito?<br />

Apesar <strong>da</strong>s mu<strong>da</strong>nças que vêm ocorren<strong>do</strong> nas socie<strong>da</strong>des pós industriais, a<br />

família continua a ser o primeiro e o mais importante agente <strong>do</strong> desenvolvimento,<br />

assume o papel de grupo primário que assegura a aprendizagem <strong>da</strong>s normas e regras<br />

mais elementares de convivência, de aceitação de si e <strong>do</strong> outro. Desprovi<strong>da</strong>s deste<br />

grupo de socialização primária, os indivíduos enfrentam dificul<strong>da</strong>des acresci<strong>da</strong>s em<br />

termos de integração e aceitação plena <strong>da</strong>s normas sociais, com as quais<br />

frequentemente não se identificam.<br />

Como poderá a vivência <strong>do</strong> internamento interferir nestes processos?<br />

Como conseguir que o primeiro mun<strong>do</strong> deixe de permanecer “entrincheira<strong>do</strong>” na<br />

consciência destes a<strong>do</strong>lescentes? Como proporcionar que se apropriem <strong>do</strong><br />

“outro mun<strong>do</strong>”? Como superar os dilemas que a distanciação e reinterpretação<br />

simbólica <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> original implicam? Cabe, então, questionar se e até que<br />

ponto o internamento pode suprir carências emocionais, gerar sentimentos<br />

suficientemente positivos, a ponto de ser possível enfrentar e elaborar<br />

frustrações e desenvolver uma consciência moral?<br />

Ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong> aban<strong>do</strong>na<strong>do</strong>s ou rejeita<strong>do</strong>s, sentem-se como se houvessem<br />

cometi<strong>do</strong> algo muito grave. A incapaci<strong>da</strong>de <strong>do</strong>s pais tende a ser entendi<strong>da</strong> como uma<br />

falha própria, o que reforça o peso depressivo <strong>da</strong> sua auto-imagem negativa. Tiveram<br />

poucas oportuni<strong>da</strong>des de internalizar, de forma consistente, regras e limites, <strong>da</strong><strong>da</strong> a<br />

ausência, fragili<strong>da</strong>de ou desorganização <strong>da</strong>s figuras de autori<strong>da</strong>de, oscilan<strong>do</strong> entre a<br />

permissivi<strong>da</strong>de extrema e a violência, consoante o esta<strong>do</strong> de espírito, humor ou<br />

necessi<strong>da</strong>des.<br />

Comportará o trabalho terapêutico desenvolvi<strong>do</strong> na Clínica ferramentas<br />

capazes de suscitar a (re)construção de imagens internas suficientemente<br />

porque ninguém se preocupa ver<strong>da</strong>deiramente com ela e, sem limites exteriores, explora tu<strong>do</strong> o que a<br />

rodeia sem qualquer tipo de censura. No segun<strong>do</strong> caso, a criança é limita<strong>da</strong> na sua iniciativa,<br />

culpabiliza<strong>da</strong> de tu<strong>do</strong> o que de mau acontece, seja porque é encara<strong>da</strong> como um ―empecilho‖, que dá<br />

trabalho, está sempre a reivindicar e a chamar a atenção, desvian<strong>do</strong> tempo e energia <strong>do</strong>s adultos que<br />

preferem investi-los noutras activi<strong>da</strong>des.

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