17.04.2013 Views

Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto

Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto

Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

individual e social. E, como defendem os autores <strong>da</strong> linha interaccionista 198 , o<br />

significa<strong>do</strong> que os seres humanos atribuem às coisas não é simplesmente o resulta<strong>do</strong><br />

<strong>da</strong> sua activi<strong>da</strong>de pensante individual, mas, um fruto <strong>da</strong> interacção social que mantêm<br />

uns com os outros. Ca<strong>da</strong> um é, em si mesmo, o que o outro lhe devolve de si.<br />

179<br />

A reali<strong>da</strong>de social, por sua vez, não se esgota na interacção social, nos<br />

mecanismos culturais que os seres humanos accionam para construírem<br />

simbolicamente as suas interpretações <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> social. É preciso ter em conta que<br />

os diversos campos <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> social são atravessa<strong>do</strong>s por lógicas de competição e<br />

concorrência <strong>da</strong>s quais decorre um desigual acesso à posse <strong>do</strong>s recursos socialmente<br />

valoriza<strong>do</strong>s. Dito de outro mo<strong>do</strong>, as regras <strong>do</strong> jogo social nos vários campos <strong>da</strong> vi<strong>da</strong><br />

social (economia, certificação escolar, práticas culturais e produção simbólica, etc.)<br />

induzem uma plurali<strong>da</strong>de de desigual<strong>da</strong>des, de que resulta uma estrutura social<br />

hierarquiza<strong>da</strong> em termos <strong>do</strong> conjunto de capitais a que ca<strong>da</strong> um pode aceder<br />

(económico, simbólico, social) 199 . Em suma, a socialização <strong>do</strong> indivíduo depende<br />

estreitamente <strong>do</strong> lugar que a sua família ocupa na estrutura social, que o mesmo é<br />

dizer <strong>da</strong>s condições de vi<strong>da</strong> material, social e simbólica próprias desse lugar.<br />

A trajectória de vi<strong>da</strong> <strong>do</strong>s indivíduos está marca<strong>da</strong> por uma socialização<br />

inicial, ou seja pelas oportuni<strong>da</strong>des que existiram, ou não, nos seus contextos de<br />

interacção social, que o mesmo é dizer, por uma socialização cuja quali<strong>da</strong>de depende<br />

<strong>da</strong>s experiências proporciona<strong>da</strong>s e acumula<strong>da</strong>s que, por sua vez, estão na origem <strong>da</strong><br />

aquisição de uma ―estrutura de interpretação <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de social‖ 200 .<br />

A problematização avança<strong>da</strong> por Giddens e, muito em especial, por<br />

Pierre Bourdieu representa um avanço teórico e meto<strong>do</strong>lógico muito valioso,<br />

precisamente por haverem recupera<strong>do</strong> as perspectivas provenientes <strong>do</strong><br />

interaccionismo e <strong>da</strong> etnometo<strong>do</strong>logia, evitan<strong>do</strong>, ao mesmo tempo, reduzir a acção<br />

humana a uma produção de seres com capaci<strong>da</strong>de para reflectir sobre o que fazem.<br />

Se é ver<strong>da</strong>de que to<strong>do</strong> o ser humano dispõe de capaci<strong>da</strong>de para interpretar os<br />

contextos <strong>da</strong> sua acção, poden<strong>do</strong>, por isso, ser considera<strong>do</strong> um "teórico social<br />

prático", isto é, um sujeito que acciona conhecimentos, esquemas de interpretação,<br />

"recursos práticos cuja utilização é precisamente a condição para a produção de<br />

198<br />

Blumer , El interaccionismo simbólico: perspective y méto<strong>do</strong>, Hora, Barcelona, 1982.<br />

199<br />

Cfr. Pierre Bourdieu, …….<br />

200<br />

Molitor, M. ―L‘Herméneuthique Collective‖, in J. Remy e D. Ruquoy (Dir.), Méthodes d’Analyse de<br />

Contenu et Sociologie, pp. 19-53. Cit. In J. Macha<strong>do</strong> Pais, ―Dos relatos aos conteú<strong>do</strong>s de vi<strong>da</strong>‖ in<br />

Ganchos, Tachos e Biscates – Jovens, trabalho e futuro, capítulo 4, Ambar, <strong>Porto</strong>, 2001.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!