17.04.2013 Views

Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto

Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto

Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

seu papel de educa<strong>do</strong>res para a vi<strong>da</strong>. Entregues a si próprias, as jovens gerações<br />

têm, assim, que descobrir sozinhas, os caminhos de entra<strong>da</strong> no mun<strong>do</strong> <strong>do</strong>s adultos.<br />

São, deste mo<strong>do</strong>, atira<strong>da</strong>s para a ilusão de que possuem uma liber<strong>da</strong>de quase<br />

absoluta que, por sua vez, desencadeia um sentimento de poder absoluto, levan<strong>do</strong> a<br />

pensar que tu<strong>do</strong> pode ser vivi<strong>do</strong> sem nenhuma necessi<strong>da</strong>de de pensar racionalmente<br />

sobre a natureza <strong>do</strong>s próprios desejos e <strong>do</strong>s comportamentos.<br />

Nas socie<strong>da</strong>des democráticas, onde os pais se demitiram<br />

progressivamente <strong>da</strong> sua função educativa e, assim, privaram os jovens <strong>do</strong>s meios<br />

para existirem e progredirem, vamos assistin<strong>do</strong> a um profun<strong>do</strong> enfraquecimento <strong>do</strong>s<br />

elos entre as gerações e entre os próprios jovens. Aqui reside uma situação de grave<br />

risco, nomea<strong>da</strong>mente de uso de drogas.<br />

Face à ausência de convicção de que existem no seio <strong>da</strong> civilização<br />

recursos que merecem o respeito individual pelos quais vale a pena lutar, as jovens<br />

gerações que foram priva<strong>da</strong>s de transmissões educativas têm grande dificul<strong>da</strong>de em<br />

descobrir os ver<strong>da</strong>deiros prazeres <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, o que as expõe a práticas auto destrutivas.<br />

Ora, como diz Anatrella, o desenvolvimento <strong>do</strong> ver<strong>da</strong>deiro senti<strong>do</strong> <strong>da</strong> liber<strong>da</strong>de requer<br />

discernimento, desde logo indispensável para descobrir o que é bom e justo para si e<br />

para os outros. A liber<strong>da</strong>de e a responsabili<strong>da</strong>de, inerentes à pessoa humana, só<br />

podem ser consegui<strong>da</strong>s à custa <strong>da</strong> educação que honra tu<strong>do</strong> o que favorece a vi<strong>da</strong>.<br />

Na ausência de uma educação que não prescinde de marcar os limites<br />

que tornam possível a aprendizagem <strong>do</strong> valor <strong>da</strong>s coisas, que, no fun<strong>do</strong>, é<br />

aprendizagem <strong>do</strong> prazer diferi<strong>do</strong> no tempo, em resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong> exercício e<br />

desenvolvimento de capaci<strong>da</strong>des e conquistas individuais, a passagem à vi<strong>da</strong> adulta<br />

torna-se ver<strong>da</strong>deiramente problemática. ―Os jovens imaginam então tremen<strong>do</strong>s ritos<br />

de iniciação ou de passagem em que possam provar a si próprios que são alguém,<br />

que sofreram e que souberam ultrapassar fronteiras‖ 50 .<br />

Face a modelos educativos submeti<strong>do</strong>s ao império <strong>do</strong> prazer,<br />

transforma<strong>do</strong> em princípio absoluto que tu<strong>do</strong> deve coman<strong>da</strong>r, a a<strong>do</strong>lescência deixou<br />

de ser marca<strong>da</strong> pela necessi<strong>da</strong>de de lançar desafios a si próprio, de viver experiências<br />

intensas e correr riscos que promovam uma consistente auto-estima e uma ver<strong>da</strong>deira<br />

valorização individual.<br />

Se atentarmos que esta carência <strong>da</strong>s transmissões educativas ocorre em<br />

simultâneo com uma crise social profun<strong>da</strong>, que contradiz as promessas de vi<strong>da</strong> fácil<br />

que, quer a família, quer a escola contribuíram para instalar, logo poderemos concluir<br />

quanto as condições de existência de muitos jovens estão longe de favorecer uma<br />

imagem positiva <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, de valorização e de auto-estima.<br />

50 Tony Anatrella, Liber<strong>da</strong>de Destruí<strong>da</strong> op. cit., pág. 20.<br />

39

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!