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Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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não reconhecem direitos há muito consagra<strong>do</strong>s nos chama<strong>do</strong>s países de capitalismo<br />

maduro.<br />

Seja pela deslocalização <strong>da</strong>s empresas para outros países, seja pelos<br />

efeitos <strong>da</strong> pressão dessa deslocalização sobre as capaci<strong>da</strong>des de resistência <strong>do</strong>s<br />

assalaria<strong>do</strong>s nos países mais ricos, assiste-se nestas socie<strong>da</strong>des à explosão de uma<br />

série de rupturas com um forte impacto no plano <strong>do</strong>s laços e <strong>da</strong> coesão social.<br />

Na reali<strong>da</strong>de, o avanço <strong>da</strong> chama<strong>da</strong> flexibilização <strong>da</strong>s relações e <strong>do</strong>s<br />

vínculos laborais introduziu uma ruptura <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de de classes bem ordena<strong>da</strong>,<br />

desde logo pela diversi<strong>da</strong>de de vínculos laborais, dentro de um mesmo grupo sócio –<br />

profissional, designa<strong>da</strong>mente contrato a prazo, trabalho temporário, trabalho<br />

independente, subcontratação e ameaça de desemprego.<br />

O me<strong>do</strong> <strong>do</strong>s amanhãs incertos, a percepção <strong>do</strong> futuro como resulta<strong>do</strong> de<br />

circunstâncias aleatórias, a per<strong>da</strong> de <strong>do</strong>mínio sobre o futuro, tu<strong>do</strong> isso desencadeia<br />

uma retracção <strong>do</strong>s indivíduos sobre si próprios, segun<strong>do</strong> uma lógica de oscilação entre<br />

o temor e a culpabili<strong>da</strong>de. Viver sob o peso <strong>do</strong> me<strong>do</strong> de vir a ser impedi<strong>do</strong> de<br />

participar na produção e, assim, ser torna<strong>do</strong> inútil ou desnecessário, desencadeia<br />

formas de individualismo negativo 3 , que, por sua vez, fragilizam o indivíduo no que<br />

toca às suas possibili<strong>da</strong>des de gerir o futuro.<br />

Na linha <strong>do</strong>s estu<strong>do</strong>s de Robert Castel 4 sobre a evolução <strong>da</strong> ―questão<br />

social‖ ao longo <strong>da</strong> história <strong>do</strong> capitalismo ocidental, assiste-se hoje a uma mutação <strong>da</strong><br />

natureza <strong>da</strong> ideologia individualista, configuran<strong>do</strong>-se esta, nas socie<strong>da</strong>des actuais,<br />

mais em termos negativos <strong>do</strong> que positivos.<br />

Se é certo que se pode ver uma componente positiva no individualismo<br />

moderno, nomea<strong>da</strong>mente enquanto perspectiva que reconhece os indivíduos como<br />

porta<strong>do</strong>res de direitos e como vector de autonomia e de emancipação <strong>do</strong>s mesmos, há<br />

que analisá-lo segun<strong>do</strong> um outro ângulo. Até que ponto pode ca<strong>da</strong> um gerir o seu<br />

futuro, e <strong>da</strong>r um senti<strong>do</strong> à sua própria vi<strong>da</strong> em face de forças exteriores que, como se<br />

viu mais acima, baseiam o seu poder na organização de redes que envolvem a<br />

concertação colectiva, embora instável.<br />

Como diz Robert Castel, os anos 70 e 80 representam um perío<strong>do</strong> em<br />

que a face positiva <strong>do</strong> individualismo prevaleceu em face <strong>da</strong> criação de oportuni<strong>da</strong>des<br />

para ca<strong>da</strong> um afirmar a sua diferença e se libertar <strong>da</strong>s imposições colectivas.<br />

3<br />

Robert Castel, As metamorfoses <strong>da</strong> questão social – Uma crónica <strong>do</strong> salário, Editora Vozes, Petrópolis,<br />

2003.<br />

4<br />

Robert Castel, As metamorfoses <strong>da</strong> questão social – Uma crónica <strong>do</strong> salário, op.cit., p. 93.<br />

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