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Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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.A nova forma de individualização/fragilização que ocorre nas nossas<br />

socie<strong>da</strong>des remete para o facto de o indivíduo se sentir, ao mesmo tempo, mais<br />

vulnerável, em termos económicos e sociais, mas, também, mais frágil psiquicamente.<br />

É precisamente porque a vi<strong>da</strong> ocorre num universo mais aleatório e menos<br />

organiza<strong>do</strong>, que os indivíduos se encontram hoje mais aban<strong>do</strong>na<strong>do</strong>s a si próprios.<br />

Também no <strong>do</strong>mínio <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> familiar, que será abor<strong>da</strong><strong>do</strong> no segun<strong>do</strong><br />

capítulo, as mu<strong>da</strong>nças ocorri<strong>da</strong>s apontam no mesmo senti<strong>do</strong> <strong>da</strong> fragilização <strong>do</strong> laço<br />

social, muito em especial pela a<strong>do</strong>pção de mo<strong>da</strong>s educativas que parecem ignorar<br />

alguns <strong>do</strong>s mecanismos <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> psicológica mais essenciais. Um deles, abor<strong>da</strong><strong>do</strong> por<br />

Freud e amplamente estu<strong>da</strong><strong>do</strong> por numerosos psicólogos depois dele, é o que se<br />

refere à aprendizagem <strong>da</strong> consciência moral a partir de um diálogo entre os princípios<br />

<strong>do</strong> prazer e <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de.<br />

O enfraquecimento <strong>do</strong>s laços sociais em praticamente to<strong>do</strong>s os campos e<br />

contextos de interacção, é um fenómeno com contornos perigosos no que respeita à<br />

compreensão e aprendizagem <strong>do</strong> exercício <strong>da</strong> liber<strong>da</strong>de humana. O senti<strong>do</strong> <strong>da</strong><br />

independência e autonomia individual tende, ca<strong>da</strong> vez mais, a ser equipara<strong>do</strong> à<br />

isenção de to<strong>da</strong> e qualquer obrigação para com a socie<strong>da</strong>de. O enfraquecimento <strong>do</strong><br />

laço social toma uma plurali<strong>da</strong>de de manifestações que vão desde o desvanecimento<br />

<strong>do</strong> senti<strong>do</strong> <strong>do</strong>s valores morais comuns, ao enfraquecimento <strong>do</strong>s laços de<br />

soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de, e, muito importante, até à recusa <strong>do</strong> compromisso e à falta de exigência<br />

<strong>do</strong>s adultos na educação <strong>da</strong>s crianças.<br />

A socie<strong>da</strong>de favorece condutas incoerentes que fragilizam a organização<br />

interior <strong>da</strong> pessoa, o que é particularmente ver<strong>da</strong>de no indivíduo que se droga. Neste<br />

caso, o que está em causa é que o dependente de drogas procura encontrar um<br />

apaziguamento e uma satisfação que nunca conheceu, nem conhecerá desse mo<strong>do</strong>.<br />

Estamos, pois, em presença de uma situação ver<strong>da</strong>deiramente para<strong>do</strong>xal, pois que a<br />

droga aju<strong>da</strong> o indivíduo a não identificar e a fugir aos seus desejos. O drama <strong>da</strong><br />

toxicodependência reside, assim, no facto de o sujeito, pensan<strong>do</strong> que o seu desejo<br />

está satisfeito, ficar numa situação em que é ain<strong>da</strong> maior o seu confronto com as<br />

privações. Julga ter chega<strong>do</strong>, finalmente, ao fim <strong>da</strong> sua espera, mas falta-lhe o<br />

objectivo. Este é o drama <strong>da</strong> toxicodependência.<br />

Factores como o fosso comunicacional entre gerações, a inconsistência<br />

<strong>da</strong> autori<strong>da</strong>de, a indefinição <strong>da</strong>s regras e normas, a ambivalência <strong>do</strong> exercício <strong>do</strong><br />

poder disciplinar, hoje muito recorrentes nas dinâmicas familiares, estão na origem de<br />

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