17.04.2013 Views

Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto

Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto

Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

injustiça. Ninguém me acreditava. O monitor fazia-se passar por amigo. É<br />

psicope<strong>da</strong>gogo mas não percebe na<strong>da</strong>. Não percebe na<strong>da</strong> <strong>do</strong> que é a<br />

amizade. Sobre isso posso-lhe ensinar muito.<br />

Houve uma vez em que agredi uma rapariga. Ela acabou por me pedir<br />

desculpa e eu a ela. Mas eles expulsaram-me. Foi injusto porque eles não<br />

acreditaram no que eu dizia. Ela an<strong>da</strong>va sempre a pisar-me e há muito que<br />

eu a man<strong>da</strong>va estar quieta e ela sempre a pisar-me. E eu tinha um cravo no<br />

pé e magoava-me. Dei-lhe um murro. Das outras vezes, antes, <strong>da</strong>va<br />

empurrões, não lhe bati, man<strong>da</strong>va-a estar quieta. Dava encontrões. Mas<br />

estava farto e dei-lhe o murro porque já lhe tinha dito muitas vezes e ela<br />

estava sempre a magoar-me.<br />

Não se justificava que me expulsassem, porque eles não acreditaram em<br />

mim. Só os meus irmãos e os meus amigos é que percebiam. Mas eu<br />

também fui sempre amigo <strong>do</strong>s meus amigos.‖<br />

128<br />

Na reali<strong>da</strong>de, e na grande maioria <strong>do</strong>s casos, as crianças e a<strong>do</strong>lescentes<br />

institucionaliza<strong>do</strong>s só podem aceder à inclusão social se lhes for proporciona<strong>da</strong> a<br />

participação num autêntico processo de ressocialização. Vale, então, a pena, a este<br />

respeito, sintetizar alguns contributos teóricos relevantes para compreender a<br />

complexi<strong>da</strong>de <strong>do</strong>s problemas que estão em causa na ressocialização destas crianças<br />

e a<strong>do</strong>lescentes 151 .<br />

Uma primeira ideia relevante para determinar as tarefas que os colégios<br />

deveriam cumprir remete para a circunstância de as aprendizagens interioriza<strong>da</strong>s na<br />

socialização primária serem subjectivamente vivi<strong>da</strong>s como reali<strong>da</strong>de inevitável. O que<br />

se aprende com os que são mais significativos, ain<strong>da</strong> que estes sejam maltratantes,<br />

nunca é apercebi<strong>do</strong> como reali<strong>da</strong>de relativa. Adquire uma consistência e uma<br />

preponderância tais que a posterior toma<strong>da</strong> de consciência <strong>da</strong> sua inadequação,<br />

noutros meios sociais, tende a ser vivi<strong>da</strong> como per<strong>da</strong> de si.<br />

Uma segun<strong>da</strong> ideia a reter é que as interiorizações realiza<strong>da</strong>s na primeira<br />

socialização podem entrar em competição com outras definições desenvolvi<strong>da</strong>s<br />

noutros contextos sociais, tais como a escola, o trabalho, etc. Se to<strong>do</strong>s os indivíduos<br />

se confrontam ao longo <strong>do</strong> seu trajecto de vi<strong>da</strong> com definições <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de que<br />

competem com as que aprenderam em casa e com os outros significativos que<br />

povoaram o seu mun<strong>do</strong>, certo é que casos existem, como o <strong>do</strong>s jovens que aqui<br />

estamos a estu<strong>da</strong>r, em que esse confronto toma a forma de ver<strong>da</strong>deira ameaça à sua<br />

identi<strong>da</strong>de. Falamos <strong>do</strong>s casos em que, o que é apreendi<strong>do</strong> como normal, em casa e<br />

com os que fazem parte <strong>da</strong> sociabili<strong>da</strong>de quotidiana, entra em choque radical com a<br />

cultura <strong>do</strong>minante. Na linha <strong>da</strong> variante <strong>da</strong> sociologia interaccionista, que associa a<br />

associação diferencial à produção de subculturas, algumas claramente desviantes 152 ,<br />

151 Peter Berger e Thomas Luckmann, A construção social <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de, Editora Vozes L<strong>da</strong>., Brasil, 1973.<br />

152 David B. Brinkerhoff, Lynn K. Whi, ―Deviance, Crime, and Social Control‖ in Sociology, West Publishing<br />

Company, St. Paul, New York, Los Angeles, S. Francisco, 1985, pp. 191 - 215.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!