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Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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Ou seja, o comportamento humano pode ser visto como uma série perpétua de<br />

iniciações de actos propulsiona<strong>do</strong>s pelo eu e de acções retroactivas sobre esses<br />

mesmos actos, sempre em função <strong>do</strong>s princípios de classificação e <strong>da</strong>s compreensões<br />

forneci<strong>da</strong>s pelo grupo.<br />

186<br />

Se os outros que incluem o mun<strong>do</strong> relacional são colectivamente<br />

atingi<strong>do</strong>s pela impossibili<strong>da</strong>de de ocupar um lugar na socie<strong>da</strong>de, por via <strong>da</strong> posse de<br />

recursos económicos, sociais e simbólicos, e, por isso, se tornam mais vulneráveis a<br />

consumos que lhes permitem sair, ain<strong>da</strong> que ilusoriamente, <strong>da</strong> impotência, <strong>do</strong> me<strong>do</strong> e<br />

<strong>da</strong> inferiori<strong>da</strong>de, percebe-se quanto estas definições, atitudes e compreensões que<br />

prevalecem no colectivo impedem o indivíduo de percepcionar outros caminhos.<br />

Diz G. Herbert Mead que nem o self, nem o mim são estáticos. Evoluem<br />

ou modificam-se na sequência de mu<strong>da</strong>nças relevantes nos padrões e conteú<strong>do</strong>s <strong>da</strong>s<br />

interacções que o indivíduo pode vivenciar, não só na sua relação com os outros, mas,<br />

também, consigo mesmo. A circunstância de possuir um self torna o indivíduo capaz<br />

de ter uma vi<strong>da</strong> mental, que o mesmo é dizer, capaz de <strong>da</strong>r indicações a si próprio, de<br />

dirigir e controlar o seu comportamento, ao invés de se tornar um agente passivo <strong>do</strong>s<br />

impulsos e <strong>do</strong>s estímulos. O cérebro é necessário para a emergência <strong>da</strong> mente, mas,<br />

por si só, não faz a mente. É a socie<strong>da</strong>de-interacção social que proporciona o<br />

processo que faculta ao indivíduo a possibili<strong>da</strong>de de interagir consigo próprio,<br />

designa<strong>da</strong>mente fornecen<strong>do</strong>-lhe os símbolos significantes e os contextos de<br />

interacção que permitem o processo social de comunicação. A mente é social na<br />

precisa medi<strong>da</strong> em que é indissociável <strong>do</strong> processo de comunicação.<br />

Voltan<strong>do</strong> às condições de existência <strong>do</strong>s jovens, é altura de levar mais<br />

longe a análise <strong>da</strong>s oportuni<strong>da</strong>des de relacionamento social a que podem aceder. De<br />

facto, o processo de aprendizagem de símbolos, categorias, atitudes, valores, gostos,<br />

sentimentos, não termina na primeira infância, uma vez que, ca<strong>da</strong> vez mais, outras<br />

instituições assumem parte relevante nas tarefas <strong>da</strong> socialização <strong>da</strong>s gerações mais<br />

jovens. A escola, os media, os companheiros, a música, o cinema, o desporto, entre<br />

outros, desempenham um papel ca<strong>da</strong> vez mais relevante na formação <strong>do</strong> mim.<br />

To<strong>da</strong>via, os jovens cujos percursos pretendemos <strong>da</strong>r a conhecer constituem, a nosso<br />

ver, um exemplo de impossibili<strong>da</strong>de de usufruir <strong>do</strong>s contextos de socialização<br />

posteriores à socialização familiar e de vizinhança enquanto oportuni<strong>da</strong>de de participar<br />

em relações sociais mais diversifica<strong>da</strong>s e, logo, enquanto oportuni<strong>da</strong>de de assimilar<br />

novos símbolos significantes.<br />

A escola não representou para estes jovens uma oportuni<strong>da</strong>de de<br />

descobrir objectivos, interesses e gostos, nem, tão pouco, constituiu um lugar a que se

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