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Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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O núcleo problemático <strong>do</strong> modelo de intervenção a<strong>do</strong>pta<strong>do</strong> pela<br />

Comuni<strong>da</strong>de Terapêutica remete, quanto a nós, para a definição <strong>do</strong>s contextos<br />

capazes de promover o crescimento pessoal, o aprofun<strong>da</strong>mento <strong>do</strong> auto<br />

conhecimento, o desenvolvimento <strong>da</strong> responsabili<strong>da</strong>de, <strong>da</strong> autonomia e, finalmente, a<br />

capacitação individual no processo de toma<strong>da</strong> de decisão em indivíduos a<strong>do</strong>lescentes<br />

cuja trajectória de vi<strong>da</strong> não lhes permitiu adquirir conhecimentos, competências,<br />

valores, gostos, disposições indispensáveis. E não os adquiriram porque os seus<br />

contextos de vi<strong>da</strong> inviabilizam, em muitos aspectos, o tipo de desenvolvimento<br />

psicossocial que a psicologia estabelece como normal.<br />

Poderá a Comuni<strong>da</strong>de Terapêutica compensar o que a socie<strong>da</strong>de retirou e<br />

retira aos indivíduos? Como actualizar o que se aprendeu durante o internamento se a<br />

vi<strong>da</strong> fora continua a ser a repetição <strong>da</strong> mesma falta de oportuni<strong>da</strong>des? Como ampliar o<br />

capital social, cultural e simbólico destes jovens cuja dependência de drogas foi<br />

precipita<strong>da</strong> pelas dificul<strong>da</strong>des de construir uma identi<strong>da</strong>de?<br />

O programa terapêutico defende, aliás em consonância total com o que<br />

defende a terapia <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de, que a mu<strong>da</strong>nça <strong>da</strong>s representações e <strong>do</strong>s mo<strong>do</strong>s de<br />

classificar não ocorrerá se, em primeiro lugar, não houver mu<strong>da</strong>nça <strong>do</strong><br />

comportamento. Uma tal perspectiva equivale a reconhecer que os fenómenos <strong>da</strong><br />

consciência ocorrem sempre em função <strong>do</strong>s contextos sociais específicos e <strong>da</strong>s<br />

varia<strong>da</strong>s oportuni<strong>da</strong>des que estes proporcionam. Ora, no caso <strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes cujas<br />

trajectórias sociais aqui procuramos <strong>da</strong>r conta, parece-nos crucial não passar à<br />

margem <strong>da</strong>s suas condições de vi<strong>da</strong> severamente incompatíveis com a estruturação<br />

de uma organização interna minimamente saudável.<br />

Sem tratar de ampliar as oportuni<strong>da</strong>des, designa<strong>da</strong>mente proporcionar<br />

redes de relacionamento social em que possam encontrar quem lhes devolva sinais de<br />

respeito, consideração e expectativas positivas a respeito <strong>da</strong>s suas próprias<br />

capaci<strong>da</strong>des, que lhes permitam libertar-se <strong>do</strong>s avassala<strong>do</strong>res sentimentos de culpa<br />

que advêm <strong>do</strong> facto de não se poderem orgulhar <strong>do</strong>s seus progenitores, como<br />

assegurar que os comportamentos adequa<strong>do</strong>s se reproduzam no quotidiano e<br />

substituam os habitus instala<strong>do</strong>s?<br />

William Glasser insiste que o comportamento responsável é o primeiro<br />

passo que determina as possibili<strong>da</strong>des de mu<strong>da</strong>nça, mas que para isso é preciso criar<br />

uma relação de ver<strong>da</strong>deira implicação sem a qual não é possível satisfazer as<br />

necessi<strong>da</strong>des de pertença e de valorização pessoal. Aqui reside, quanto a nós, o nó

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