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Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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mobili<strong>da</strong>de social ascendente só podem conservar a sua posição social à custa de<br />

maneiras de organizar o tempo de trabalho que entram em colisão, diz Sennett, com<br />

as quali<strong>da</strong>des <strong>do</strong> bom carácter 11 . O quadro de curto prazo <strong>da</strong>s instituições modernas<br />

limita o amadurecimento <strong>da</strong> confiança informal 12 , desde logo porque o tempo de<br />

convivência não tem a duração suficiente para tecer vínculos sociais. O lema ―na<strong>da</strong> de<br />

longo prazo‖ que impera no mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> trabalho é incompatível com a confiança, a<br />

leal<strong>da</strong>de e a entrega mútua 13 . Nas socie<strong>da</strong>des actuais procura-se arduamente<br />

―eliminar as formas burocráticas e instalar organizações mais flexíveis e menos<br />

hierárquicas, por via <strong>da</strong> constituição de redes facilmente decomponíveis ou<br />

redefiníveis. As promoções e as demissões tendem a não se basear em regras claras<br />

e as tarefas no trabalho não são vivamente defini<strong>da</strong>s; a rede está constantemente a<br />

redefinir a sua estrutura‖ 14 .<br />

Como observa o sociólogo Mark Granovetter, 15 as redes institucionais<br />

modernas são marca<strong>da</strong>s pela ―força de laços fracos‖, significan<strong>do</strong> que as formas<br />

passageiras de associação são mais úteis para as pessoas <strong>do</strong> que as ligações de<br />

longo prazo e que fortes laços sociais como a leal<strong>da</strong>de deixam de ser convincentes.<br />

Se a organização <strong>do</strong> trabalho assenta em equipas que se deslocalizam<br />

constantemente e cuja composição mu<strong>da</strong> nesse processo, compreende-se que fica<br />

comprometi<strong>da</strong> qualquer possibili<strong>da</strong>de de criação de laços fortes. A leal<strong>da</strong>de<br />

institucional é vista por este sociólogo como uma armadilha numa economia em que<br />

conceitos, tais como o de negócio, desenho de produtos, informações sobre o<br />

concorrente, <strong>do</strong>tação de capital, para apenas <strong>da</strong>r alguns exemplos, têm prazos de vi<strong>da</strong><br />

muito menores.<br />

como se eu não soubesse quem são os meus filhos‖ …. ―preocupa-se com a frequente anarquia em que a<br />

sua família mergulha e por não prestar atenção aos filhos, cujas necessi<strong>da</strong>des não podem ser<br />

programa<strong>da</strong>s de forma a ajustar-se às exigências <strong>do</strong> seu emprego‖ …. ―o me<strong>do</strong> de uma falta de disciplina<br />

ética persegue-o, especialmente o me<strong>do</strong> de que os filhos se tornem ―ratos de centro comercial‖, paran<strong>do</strong><br />

sem objectivo, à tarde, nos parques de estacionamento de centros comerciais enquanto os pais<br />

permanecem sem contacto nos seus escritórios‖.<br />

11 Richard Sennett, A corrosão <strong>do</strong> carácter, op. cit. p. 34.<br />

12 Richard Sennett, A corrosão <strong>do</strong> carácter, op. cit., p. 38 ―Uma violação particularmente egrégia <strong>da</strong><br />

entrega mútua ocorre frequentemente quan<strong>do</strong> novas empresas são vendi<strong>da</strong>s pela primeira vez. Em<br />

empresas em princípio de activi<strong>da</strong>de, são exigi<strong>do</strong>s a to<strong>do</strong>s horas extraordinárias e esforço intenso;<br />

quan<strong>do</strong> as empresas se tornam socie<strong>da</strong>des anónimas – isto é, quan<strong>do</strong> oferecem inicialmente acções<br />

publicamente transaccionáveis – os fun<strong>da</strong><strong>do</strong>res estão prontos a vender e a receber o dinheiro, deixan<strong>do</strong><br />

para trás os emprega<strong>do</strong>s de nível mais baixo‖.<br />

13 Richard Sennett, A corrosão <strong>do</strong> carácter, op. cit., p. 35 ―As socie<strong>da</strong>des descartaram muitas <strong>da</strong>s tarefas<br />

que outrora realizavam permanentemente dentro de portas para pequenas empresas e para indivíduos<br />

emprega<strong>do</strong>s com contratos de curto prazo. O sector de mais rápi<strong>do</strong> crescimento <strong>da</strong> força de trabalho<br />

americana, por exemplo, é o <strong>da</strong>s pessoas que trabalham para agências de trabalho temporário …o<br />

merca<strong>do</strong> é demasia<strong>do</strong> dinâmico para permitir que se façam coisas <strong>da</strong> mesma maneira ano após ano, ou<br />

que se faça a mesma coisa…‖.<br />

14 Richard Sennett, A corrosão <strong>do</strong> carácter, op. cit., p. 36.<br />

15 M. Granovetter, ―The strengh of weak ties‖, American Journal of Sociology, 78 cit. In Serge Paugam, Le<br />

Lien Social, Puf, 2008, pág 19<br />

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