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Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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Juliano<br />

e dizem que se eu quiser me tiram <strong>da</strong>qui… mas eu não quero porque<br />

quero levar a minha vi<strong>da</strong> para a frente e direita… e tu<strong>do</strong> isto toca-me…<br />

porque o que mais quero, o que mais gosto <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, são os meus irmãos…<br />

e gosto <strong>do</strong>s meus tios…<br />

Olhe, eu tenho sentimentos pelas pessoas mas parece que não tenho. Eu<br />

insulto as pessoas mas isso é uma capa de defesa, porque eu gosto<br />

delas. E isso custa-me, mexe comigo. A minha «relação de amizade»<br />

<strong>da</strong>va-me bons conselhos. Senti-me traí<strong>da</strong> por ele porque disse que<br />

quan<strong>do</strong> fosse de «request» eu devia voltar e ele, que me disse de fazer<br />

assim, não o fez, foi e não voltou… Isso mexe comigo, fico assim, quero e<br />

não quero… tenho me<strong>do</strong>… me<strong>do</strong> de não conseguir mu<strong>da</strong>r e voltar a viver<br />

uma vi<strong>da</strong> de ―mer<strong>da</strong>‖… quan<strong>do</strong> afinal tenho os meus tios… eu sei que<br />

estou na clínica, estou para me tratar, para aprender a viver sem consumir<br />

drogas, para mu<strong>da</strong>r os meus comportamentos, a mentira, o roubo, a<br />

rejeição a quem me faz bem, o não escutar os que me querem <strong>da</strong>r bons<br />

conselhos… eu acho que são comportamentos que estão liga<strong>do</strong>s ao meu<br />

passa<strong>do</strong>, como ver violência em casa, de ver os meus pais a baterem-se,<br />

a baterem aos meus irmãos, os meus pais a baterem a mim … o não ter<br />

carinho, atenção <strong>do</strong>s meus pais… já quan<strong>do</strong> estava nos meus tios falava<br />

disto… eu dizia que não gostava <strong>do</strong>s meus pais e que não os queria ver e<br />

eles diziam que não me iam obrigar a na<strong>da</strong>. …<br />

Custa muito fazer o programa, porque é difícil fazer a terapia… é difícil<br />

partilhar sentimentos… porque temos de falar <strong>do</strong> que sentimos, de falar <strong>do</strong><br />

que nos magoa e <strong>da</strong>s pessoas que nos magoaram… é difícil porque<br />

obriga a ser sinceros não só com os outros mas connosco mesmos… na<br />

partilha de sentimentos e no confronto não podemos fugir…é aquilo e é<br />

aquilo mesmo… são muitas vezes as nossas memórias que temos de<br />

lembrar… mas sei que a terapia me faz bem… é difícil partilhar<br />

sentimentos, falar <strong>do</strong> que nos dói, <strong>do</strong> que nos revolta… é difícil mu<strong>da</strong>r o<br />

que já temos dentro de nós há muitos anos… como, por exemplo, ser<br />

contraria<strong>da</strong> e não magoar os outros; como por exemplo, cumprir regras;<br />

como por exemplo, aprender a li<strong>da</strong>r com as minhas raivas sem explodir<br />

em sentimentos contra outros… ou dizer palavrões… agredir… conhecer o<br />

porquê <strong>do</strong>s meus sentimentos, parar para pensar e não acumular raivas<br />

para não estar sempre revolta<strong>da</strong>…eu quero um futuro diferente…<br />

No futuro, quero estu<strong>da</strong>r, tirar um curso, quero ir para casa <strong>do</strong>s meus tios…<br />

… não quero mais colégios… quero ter o meu irmão perto de mim, quero<br />

ter uma vi<strong>da</strong> boa... quero ser auxiliar educativa de bebés, acho que é<br />

preciso o 9º ano … não sei se vou conseguir continuar a estu<strong>da</strong>r… talvez,<br />

se os meus tios me aceitarem… também já percebi que estu<strong>da</strong>r é<br />

importante para ter uma profissão…sim, eu sei que é preciso esforço…é<br />

ver<strong>da</strong>de, é por isso que às vezes não sei se já estou prepara<strong>da</strong>… foi muito<br />

tempo a drogar-me… acaba por nos fazer não <strong>da</strong>r valor a na<strong>da</strong>… não há<br />

regras nem respeito… é só o que queremos… é assim uma espécie de<br />

liber<strong>da</strong>de, mas que não chega a ser na<strong>da</strong> porque é um tempo que não<br />

serviu para na<strong>da</strong>.<br />

Hoje, o balanço que faço desde que vim para cá é muito positivo, muito<br />

bom… O que mais admiro aqui na Comuni<strong>da</strong>de é que encontrei pessoas<br />

com vi<strong>da</strong>s pareci<strong>da</strong>s com a minha e são essas pessoas que me tentam<br />

aju<strong>da</strong>r e que eu tento aju<strong>da</strong>r também… eu acredito que a partir <strong>da</strong>qui,<br />

depois de concluir o programa, posso estar em condições para me<br />

defender de perigos e ter uma vi<strong>da</strong> normal, aban<strong>do</strong>nan<strong>do</strong> os<br />

comportamentos e atitudes anteriores <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> que levava…acredito que<br />

ain<strong>da</strong> vou a tempo de fazer um curso profissional… penso ir para<br />

França, onde vive a minha irmã mais velha (já tem família constituí<strong>da</strong>) e<br />

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