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Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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correspondentes aprendizagens, à produção de anomia e consequentemente de uma<br />

patologia social. De que serve a obtenção de diplomas a que não corresponde a<br />

aquisição de conhecimentos e competências utilizáveis no mun<strong>do</strong> real? Que<br />

estruturações psicológicas ocorrem quan<strong>do</strong> se é ensina<strong>do</strong> a participar, anos a fio, num<br />

jogo de faz de conta, em que os que, à parti<strong>da</strong>, deveriam ser referências exemplares,<br />

modelos vicariantes, diria Bandura, dão sinais de que to<strong>do</strong>s os limites podem ser<br />

contorna<strong>do</strong>s e de que é mais importante parecer <strong>do</strong> que ser? A fuga <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de é um<br />

facto social produzi<strong>do</strong> em instituições que mobilizam recursos financeiros e humanos<br />

consideráveis e que se impõem aos indivíduos com uma força a que individualmente<br />

não se podem opor. Sabemos que as drogas são ―boas‖ porque induzem sensações<br />

de poder, de <strong>do</strong>mínio, de segurança, de capaci<strong>da</strong>de e de estar bem na própria pele.<br />

Sensações, estas, que tendem a estar ausentes na vi<strong>da</strong> quotidiana, sempre que<br />

deparamos com as provas a que a vi<strong>da</strong> real nos submete.<br />

330<br />

Aprender a fazer de conta que se aprende, em vez de perceber que existe<br />

uma relação entre sucesso <strong>da</strong>s aprendizagens e o esforço, trabalho e aplicação que<br />

nos dispomos a investir, em vez de interiorizar que o acesso ao conhecimento só é<br />

possível com disciplina, remete para práticas que, repita-se, o sistema de ensino<br />

impõe a muitos milhares de jovens. Não será, então, exagero concluir que a<br />

predisposição para o consumo de drogas, afinal uma via de acesso a um prazer que<br />

advém <strong>da</strong> sensação de poder ultrapassar limites, é um facto social com to<strong>da</strong>s as<br />

características que Durkheim assinalou.<br />

O mesmo tipo de análise, sobre a diluição <strong>da</strong> compreensão <strong>do</strong>s limites, a<br />

recusa de que estes existem, assim como <strong>da</strong> impreparação para os superar, pode ser<br />

feito a respeito <strong>da</strong> família, <strong>do</strong> marketing, <strong>da</strong> política, <strong>do</strong>s media, etc. Nas socie<strong>da</strong>des<br />

considera<strong>da</strong>s mais avança<strong>da</strong>s <strong>do</strong>s nossos dias, os processos de fragmentação<br />

originam, como Sennet se empenhou em demonstrar, uma multiplicação de grupos<br />

específicos, fecha<strong>do</strong>s sobre si próprios, em torno <strong>do</strong>s seus interesses particulares, ao<br />

mesmo tempo que se exprime a tendência para perder de vista os valores e projectos<br />

colectivos, de carácter universal, mais susceptíveis de avançar contributos para a<br />

coesão <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de como um to<strong>do</strong>.<br />

Para compreender esse enfraquecimento <strong>do</strong>s valores, normas e projectos<br />

colectivos, assim como o aban<strong>do</strong>no <strong>da</strong>s causas universais e <strong>do</strong>s projectos políticos<br />

alternativos, evidencian<strong>do</strong> uma crise civilizacional no mun<strong>do</strong> considera<strong>do</strong> mais<br />

desenvolvi<strong>do</strong>, não deixará de ser necessário considerar a orientação política <strong>do</strong>s<br />

Esta<strong>do</strong>s no senti<strong>do</strong> de assegurar e legitimar a desregulação <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> económica,<br />

aban<strong>do</strong>nan<strong>do</strong> compromissos entre o capital e o trabalho e, sobretu<strong>do</strong>, recuan<strong>do</strong> na<br />

afirmação de direitos essenciais para a vi<strong>da</strong> <strong>do</strong>s ci<strong>da</strong>dãos, como é o caso <strong>do</strong> direito ao

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