17.04.2013 Views

Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto

Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto

Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

confiança informal, acaba por corroer a confiança, a leal<strong>da</strong>de e a entrega mútua. Estes<br />

vínculos sociais levam tempo a desenvolver-se.<br />

Nas palavras de Mark Granovetter as redes institucionais modernas são<br />

marca<strong>da</strong>s pela ―força de laços fracos‖, o que equivale a dizer que as formas<br />

passageiras de associação são mais úteis <strong>do</strong> que as ligações de longo prazo.<br />

Decorrentes de uma longa ligação, os laços sociais fortes como a leal<strong>da</strong>de deixaram<br />

de ser convincentes.<br />

Numa economia em que o conceito de negócio, o desenho de produto, a<br />

<strong>do</strong>tação de capital, as informações sobre o concorrente têm um perío<strong>do</strong> de vi<strong>da</strong> ca<strong>da</strong><br />

vez mais curto, a leal<strong>da</strong>de institucional passa a ser uma armadilha. Desprendimento e<br />

disponibili<strong>da</strong>de superficial para cooperar constituem melhor protecção para li<strong>da</strong>r com<br />

as reali<strong>da</strong>des correntes <strong>do</strong> que o comportamento basea<strong>do</strong> em valores de leal<strong>da</strong>de e<br />

serviço. É a dimensão temporal <strong>do</strong> novo capitalismo que afecta mais directamente a<br />

vi<strong>da</strong> emocional <strong>da</strong>s pessoas fora <strong>do</strong> local de trabalho. Transposto para o campo <strong>da</strong><br />

família, ―na<strong>da</strong> de longo prazo‖ significa continuar a mu<strong>da</strong>r-se, não se comprometer e<br />

não se sacrificar 33 .<br />

Num tal contexto compreende-se como emergiu a ideologia que repudia a<br />

dependência como coisa vergonhosa, assim como se compreende a dificul<strong>da</strong>de de os<br />

indivíduos desenvolverem entre si fortes vínculos de partilha.<br />

Essa visão negativa <strong>da</strong> dependência ignora que o vulgar contraste entre<br />

dependência e independência esconde um enorme simplismo na apreensão <strong>da</strong><br />

relação indivíduo e socie<strong>da</strong>de. Ao contrário <strong>do</strong> que nos diria o senso comum, o eu<br />

forte está longe de ser o eu independente, assim como o eu fraco não se confunde<br />

com a dependência. Sennett cita o psicólogo inglês John Bowlby para sustentar que<br />

esta oposição ilude a reali<strong>da</strong>de. A pessoa ver<strong>da</strong>deiramente autoconfiante, diz Bowlby,<br />

não é, de maneira nenhuma, tão independente como os estereótipos culturais fazem<br />

admitir. Facto é que na vi<strong>da</strong> adulta, a «pessoa sau<strong>da</strong>velmente autoconfiante» é capaz<br />

de depender de outros, assim como sabe de quem é apropria<strong>do</strong> depender. Ao<br />

contrário dessa visão que associa eu forte a eu independente, o que a psicologia<br />

permitiu descobrir é que o me<strong>do</strong> de nos tornarmos dependentes de alguém representa<br />

o fracasso <strong>da</strong> autoconfiança.<br />

No desenvolvimento <strong>da</strong> sua argumentação crítica contra a ideologia que<br />

associa dependência mútua a condição digna de vergonha, Sennett socorre-se <strong>da</strong><br />

análise de Albert Hirschmann, designa<strong>da</strong>mente <strong>do</strong> contributo que este deu para<br />

demonstrar que, no início <strong>do</strong> capitalismo, a confiança nas relações de negócios era<br />

forma<strong>da</strong> através <strong>do</strong> reconhecimento aberto <strong>da</strong> dependência mútua. Noutros termos, o<br />

33 Richard Sennett, A Cultura <strong>do</strong> Novo Capitalismo, op. cit., pág. 39.<br />

25

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!