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Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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poderemos ajudá-los a viver melhor no futuro? Como conseguir que, por exemplo,<br />

venham a estabelecer melhores relações com os seus pais, em vez de se fixarem,<br />

sem parar, na análise <strong>do</strong> mo<strong>do</strong> como estes os trataram? Será isso possível, se a<br />

família permanecer imutavelmente encerra<strong>da</strong> nos mesmos conflitos e dificul<strong>da</strong>des que<br />

incapacitaram estes a<strong>do</strong>lescentes de se desenvolverem cognitiva, psicológica, cultural<br />

e socialmente?<br />

322<br />

Assim, e em primeiro lugar, a formação/reconstrução <strong>da</strong> identi<strong>da</strong>de pessoal<br />

e social <strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes começa por exigir uma rede interinstitucional que a par <strong>do</strong><br />

tratamento terapêutico <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente, encare a (re) organização <strong>do</strong> sistema familiar<br />

ou de sistemas alternativos, o seu retorno à formação em condições adequa<strong>da</strong>s às<br />

suas necessi<strong>da</strong>des, o seu envolvimento em redes de relacionamento que<br />

ver<strong>da</strong>deiramente signifiquem uma ampliação <strong>do</strong> seu capital social.<br />

A intervenção <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de terapêutica não contempla a alteração <strong>do</strong>s<br />

padrões de relacionamento familiar e a capacitação <strong>do</strong>s seus membros para o efectivo<br />

exercício <strong>da</strong>s funções parentais, pelo que, fin<strong>do</strong> o tratamento, o indivíduo retorna ao<br />

mesmo ambiente emocionalmente perturba<strong>do</strong>r.<br />

Também não é missão <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de terapêutica assegurar as condições<br />

de acesso à escolarização, afinal, um trunfo indispensável para ocupar um lugar na<br />

socie<strong>da</strong>de. Como garantir, então, uma interiorização profun<strong>da</strong> <strong>do</strong>s valores, atitudes e<br />

regras, como garantir a interiorização de uma imagem mais positiva de si próprios, se<br />

o retorno a uma vi<strong>da</strong> repleta de precarie<strong>da</strong>de, de insegurança e carente de senti<strong>do</strong> é<br />

uma reali<strong>da</strong>de a que se não pode escapar? Se o tempo de internamento não<br />

representou uma oportuni<strong>da</strong>de para adquirir trunfos que autorizam a descoberta de um<br />

senti<strong>do</strong> para a vi<strong>da</strong>, designa<strong>da</strong>mente a instrução, se saí<strong>do</strong>s <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de<br />

terapêutica, os indivíduos voltam a ser prisioneiros <strong>da</strong> tremen<strong>da</strong> escassez de<br />

oportuni<strong>da</strong>des que assolou a sua ain<strong>da</strong> curta existência, que repercussões pode ter a<br />

intervenção terapêutica? Não residirá aqui um <strong>do</strong>s factores explicativos <strong>da</strong>s baixas<br />

taxas de sucesso <strong>do</strong> tratamento? Existirá alguma relação entre as oportuni<strong>da</strong>des<br />

sociais <strong>do</strong>s indivíduos, designa<strong>da</strong>mente os níveis de instrução, as condições materiais<br />

e relacionais <strong>da</strong>s suas famílias, que foram trata<strong>do</strong>s em comuni<strong>da</strong>des terapêuticas e a<br />

predisposição para se libertarem <strong>da</strong> dependência?<br />

Exigir excelentes performances nas diversas matérias escolares seria,<br />

seguramente, uma via essencial para gerar a adesão a padrões de responsabili<strong>da</strong>de e<br />

comprometimento com os outros muito mais evoluí<strong>do</strong>s. Mas, tal não será realizável se<br />

os problemas <strong>do</strong> insucesso e <strong>do</strong> aban<strong>do</strong>no escolar nos jovens <strong>da</strong>s cama<strong>da</strong>s sociais<br />

mais desqualifica<strong>da</strong>s, tal como o problema <strong>da</strong> sua desafeição pela escola, não forem

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