Maria Luisa Pinto.pdf - Repositório Aberto da Universidade do Porto
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trabalho. A desarticulação entre o funcionamento <strong>da</strong> economia e o <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de é,<br />
certamente, um factor estrutural com peso determinante sobre os projectos de vi<strong>da</strong><br />
<strong>do</strong>s ci<strong>da</strong>dãos, em geral, e <strong>do</strong>s mais novos, em particular. Para além <strong>do</strong> que acima se<br />
disse acerca <strong>da</strong>s tendências fortes que conduzem o funcionamento <strong>da</strong> escola, cabe,<br />
igualmente, reter que a concepção de projectos de vi<strong>da</strong>, antecipan<strong>do</strong> o que se deseja<br />
vir a concretizar no futuro, é afecta<strong>da</strong> por dinâmicas estruturais muito pesa<strong>da</strong>s<br />
impulsiona<strong>da</strong>s por poderosos agentes económicos mundiais. O valor económico e<br />
social a atribuir aos diplomas e conhecimentos adquiri<strong>do</strong>s na escola remete para lutas<br />
de interesses e de poder que poderão conduzir a uma desvalorização forte <strong>do</strong>s<br />
certifica<strong>do</strong>s. Em muitos casos, a obtenção de diplomas de nível eleva<strong>do</strong> deixou de ser<br />
a garantia de um emprego e de uma posição social. A própria acção <strong>da</strong> lei <strong>da</strong> oferta e<br />
<strong>da</strong> procura que impera no merca<strong>do</strong> de trabalho, num contexto de retracção <strong>da</strong> oferta<br />
de emprego, se encarrega de constranger segmentos significativos <strong>da</strong>s gerações mais<br />
jovens à terrível frustração de verem dissipar-se as expectativas de compensação <strong>do</strong><br />
esforço a que se entregaram durante anos. O contributo <strong>da</strong>s dinâmicas económicas<br />
para a destruição <strong>da</strong> coesão social, ou, dito de outro mo<strong>do</strong>, para impedir que os<br />
indivíduos adiram convicta e colectivamente a valores, é uma reali<strong>da</strong>de que se impõe<br />
a to<strong>do</strong> o indivíduo que faz o percurso para a vi<strong>da</strong> adulta. De facto, grande é a<br />
probabili<strong>da</strong>de de as incertezas que hoje invadem a relação <strong>do</strong>s jovens com a reali<strong>da</strong>de<br />
social e o seu futuro lugar na socie<strong>da</strong>de gerarem grande desorientação e dificul<strong>da</strong>de<br />
de encontrar senti<strong>do</strong> na existência colectiva. As instituições de ensino fabricam<br />
maciçamente a idealização <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de na precisa medi<strong>da</strong> em que contribuem para a<br />
desci<strong>da</strong> drástica <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> ensino e para a banalização <strong>da</strong>s aprendizagens. O<br />
que interessa é o certifica<strong>do</strong>, não o saber a que, teoricamente, ele deveria<br />
corresponder. Além disso, o próprio sistema de sanções que vigora nestas instituições,<br />
pela notória desproporção entre os custos e os benefícios <strong>da</strong> transgressão, é um claro<br />
incentivo ao desprezo pelos limites, inclusive pelos que remetem para certos valores<br />
morais nucleares para a vi<strong>da</strong> colectiva. As instituições empresariais, por seu turno,<br />
estão longe de assegurar a plena integração <strong>do</strong> capital humano que o sistema de<br />
ensino produz. A incorporação <strong>do</strong> capital humano pelas empresas é sempre restrita e<br />
selectiva, evidencian<strong>do</strong> uma clara e profun<strong>da</strong> desimplicação a respeito <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> de<br />
milhões de seres humanos, seja lançan<strong>do</strong>-os no desemprego, seja não lhes<br />
proporcionan<strong>do</strong> uma vi<strong>da</strong> profissional compatível com valores, tais como a implicação,<br />
a participação política, a soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de com to<strong>do</strong>s os oprimi<strong>do</strong>s por um sistema<br />
económico pauta<strong>do</strong> por lógicas de exclusão maciça. Como analisa Richard Sennet, e<br />
muitos outros, a evolução <strong>do</strong> sistema económico capitalista tem ocasiona<strong>do</strong> rupturas<br />
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sociais que implicam uma ver<strong>da</strong>deira destruição de valores essenciais para que a